DESCOBRIR
DEUS NO TRABALHO
Por
ocasião de outros aniversários, já comentámos as leituras da Missa em honra
deste santo sacerdote. Hoje desejo deter a minha atenção na mensagem que nos
transmitiu o fundador do Opus Dei: a santificação da vida corrente, tal como a
pregou Jesus Cristo e nos é apresentada nos textos do Génesis, da carta de São
Paulo aos Romanos e na passagem do Evangelho da Missa de hoje.
Consideremos
a parte final do texto do Génesis: o Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no
jardim do Éden para que o trabalhasse e o guardasse (Gn 2, 15). O
convite a trabalhar, enquanto complemento da obra da criação, é a vocação
original de cada mulher e de cada homem. Com razão, pois, São Josemaria podia
afirmar que qualquer trabalho honrado é «um meio necessário que Deus nos confia
aqui na terra, dilatando os nossos dias e fazendo-nos participantes do Seu
poder criador, para que ganhemos o sustento e simultaneamente recolhamos frutos
para a vida eterna (Jo 4, 36)» (Amigos de Deus 57).
Deste modo convidava-nos a descobrir Deus de novo, tanto nos trabalhos
importantes como nas ocupações quotidianas, que podem converter-se em sólido
fundamento para a santidade pessoal.
Esta
dimensão original do trabalho é a razão mais profunda do direito de todos a ter
uma ocupação profissional que lhes permita viver e atender as necessidades da
sua família. Infelizmente, nas circunstâncias actuais, muitos países sofrem a
praga do desemprego, que causa tantas preocupações e incomodidades a
inumeráveis famílias. Rezemos pelas autoridades civis e pelos responsáveis pela
vida pública, a todos os níveis, para que, iluminados pela Sabedoria divina,
saibam encontrar e pôr em prática as medidas idóneas para fazer sair da atual
crise as suas respetivas nações, respeitando plenamente a dignidade da pessoa e
o bem comum. Confiemos esta intenção a Deus por intercessão de São Josemaria,
apóstolo da santificação do trabalho.
A
segunda leitura recorda-nos, com palavras de São Paulo, que os cristãos são
filhos de Deus, guiados pelo Espírito Santo. O Apóstolo retira desta afirmação,
uma consequência imediata: não recebestes o espírito de escravidão para estar
de novo com temor, mas recebestes o espírito de filhos de adoção, mercê do qual
clamamos: «"Abba”, Pai!» (Rm 8, 15).
Paulo
tem presente os meios e as angústias da sociedade do seu tempo, submetida a
múltiplos poderes, malignos em grande parte, característicos do antigo
paganismo. Por esta razão, como explica Bento XVI numa das suas encíclicas,
aqueles povos viviam imersos no temor, ainda que tivessem muitos deuses; «mas
os seus deuses — comenta o Papa — tinham-se mostrado incertos e dos seus mitos
contraditórios não surgia esperança alguma. Apesar dos deuses, estavam
"sem Deus" e, por conseguinte, encontravam-se num mundo obscuro,
perante um futuro sombrio» (Spe salvi 2).
Os
cristãos, pelo contrário, enquanto filhos de Deus, sabem que têm um futuro
luminoso. «Não é que conheçam os pormenores do que os espera — prossegue o
Santo Padre — mas sabem que a sua vida, em conjunto, não acaba no vazio. Só
quando o futuro é certo como realidade positiva, se torna também suportável o
presente» (Ibid.)
Esta
grande maravilha da nossa fé tem que nos encher de valentia, irmãs e irmãos
queridíssimos, para enfrentar com confiança em Deus e serenidade as
dificuldades que se vão apresentando na nossa existência; também as que derivam
da actual crise económica e da falta de trabalho.
No
Evangelho contemplámos, mais uma vez, o grande prodígio da primeira pesca
milagrosa. Do ponto de vista humano, a ordem de Jesus — lançar as redes em
pleno dia, após uma noite infrutífera — parecia inútil e absurda. Além disso, Pedro
e os outros eram pescadores de profissão: conheciam bem o seu ofício e as zonas
mais escondidas do lago de Tiberíades não guardavam segredos para eles. No
entanto, obedecem: in verbo autem tuo laxabo retia (Lc 5, 5), sobre
a Tua palavra, lançarei as redes. Não vos maravilha a fé de Simão Pedro? Também
nós temos necessidade de fé para fazer frente às vicissitudes da nossa
existência.
Dentro
de poucos meses, em Outubro, começará o Ano da Fé convocado pelo Papa. Como nos
estamos a preparar? Fazemos atos explícitos desta virtude antes de receber o
sacramento da Confissão ou da Comunhão? Dirigimo-nos a Deus com fé na oração,
perante as variadas obrigações próprias de uma vida cheia de ocupações profissionais?
Procuramos aproximar do Senhor as pessoas queridas, os amigos, os companheiros
de estudo ou de trabalho? Não esqueçamos — porque é verdade — que Deus deseja
servir-se de cada uma e de cada um de nós para que os outros O conheçam, O
tratem e O amem.
Reparai
que a fé abre todas as portas de par em par e descobre horizontes que pareciam
fechados. Este é o ensinamento da passagem evangélica. Obedecendo ao mandato do
Senhor, Pedro e os seus companheiros lançaram as redes. Jesus Cristo
convida-nos também a nós a santificarmo-nos em todas as circunstâncias correntes
da vida e a lançar as redes do apostolado no mar do mundo.
(D.
javier echevarría, Meditação na festa de S. Josemaria, L'Osservatore
Romano 2012.06.26)
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