Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 2, 21-40
21 Depois que se
completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, deram-Lhe o nome de
Jesus, como Lhe tinha chamado o anjo, antes que fosse concebido no ventre
materno. 22 Depois que se completaram os dias da purificação de
Maria, segundo a Lei de Moisés, levaram-n'O a Jerusalém para O apresentar ao
Senhor 23 segundo o que está escrito na Lei do Senhor: “Todo o varão
primogénito será consagrado ao Senhor”, 24 e para oferecerem em
sacrifício, conforme o que também está escrito na Lei do Senhor: “Um par de
rolas ou dois pombinhos”. 25 Havia então em Jerusalém um homem
chamado Simeão. Este homem era justo e piedoso; esperava a consolação de
Israel, e o Espírito Santo estava nele. 26 Tinha-lhe sido revelado
pelo Espírito Santo que não veria a morte sem ver primeiro o Cristo do Senhor. 27
Foi ao templo conduzido pelo Espírito. E, levando os pais o Menino Jesus, para
cumprirem as prescrições usuais da Lei a Seu respeito, 28 ele
tomou-O nos braços e louvou a Deus, dizendo: 29 «Agora, Senhor,
podes deixar o teu servo partir em paz segundo a Tua palavra; 30
porque os meus olhos viram a Tua salvação, 31 que preparaste em
favor de todos os povos; 32 luz para iluminar as nações, e glória de
Israel, Teu povo». 33 O Seu pai e a Sua mãe estavam admirados das
coisas que d'Ele se diziam. 34 Simeão abençoou-os e disse a Maria,
Sua mãe: «Eis que este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em
Israel e para ser sinal de contradição. 35 E uma espada trespassará
a tua alma. Assim se descobrirão os pensamentos escondidos nos corações de
muitos». 36 Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de
Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada. Tinha vivido sete anos
com o seu marido, após o seu tempo de donzela, 37 e tinha
permanecido viúva até aos oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo,
servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações. 38 Ela também,
vindo nesta mesma ocasião, louvava a Deus e falava de Jesus a todos os de
Jerusalém que esperavam a redenção. 39 Depois que cumpriram tudo,
segundo o que mandava a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua
cidade de Nazaré. 40 O Menino crescia e fortificava-Se, cheio de
sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.
CARTA ENCÍCLICA
ADIUTRICEM POPULI
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
A
todos os Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos do Orbe
Católico em graça e comunhão com a Sé Apostólica, sobre o Rosário de Nossa
Senhora.
Veneráveis
Irmãos, Saúde e Bênção Apostólica.
Consolador despertar da
piedade mariana
1.
É coisa boa celebrar com louvores sempre maiores e implorar com sempre mais
viva confiança a Virgem Mãe de Deus, poderosa e misericordiosíssima auxiliadora
do povo cristão. Com efeito, os motivos desta confiança e destes louvores são
multiplicados por esse rico e variado tesouro de benefícios sempre mais
abundantes derramados em toda parte por Maria para o bem-estar comum.
E,
em troca de tal munificência, os católicos certamente não têm faltado ao seu
dever de profundo reconhecimento. Visto como hoje, mais do que nunca, não
obstante a presente luta contra a religião, podemos ver aumentados e sempre
mais afervorados, em todas as classes da sociedade, o amor e o culto para com a
beata Virgem.
E
a reconstituição e a multiplicação das confrarias sob o seu patrocínio; a
construção de sumptuosos monumentos dedicados ao seu augusto nome; as
peregrinações de multidões devotíssimas aos santuários mais venerados; os
congressos que têm como finalidade uma sempre maior difusão da sua glória; e
inúmeras outras manifestações deste género, excelentes por si mesmas e de feliz
augúrio para o futuro, são luminosa prova deste facto.
Mas
a Nós apraz recordar aqui de modo especial que, entre as múltiplas formas de
piedade para com Maria, a mais estimada e praticada é a, tão excelente, do
santo Rosário. Isto, dizíamos, é de grande alegria para nós; porquanto, se
temos dedicado parte notável das Nossas solicitudes a propagar a devoção do
Rosário, tocamos com a mão a realidade de com que benevolência a Rainha do Céu,
assim invocada, tem correspondido aos Nossos votos; como esperamos que Ela
quererá também amenizar as dores e as amarguras que os próximos dias nos
preparam.
Orar pelo retorno dos
dissidentes
2.
Mas é sobretudo para a difusão do Reino de Cristo que Nós esperamos do poder do
santo Rosário um socorro mais eficaz. O intento que Nós agora com mais vivo
desejo nos pré-fixamos, como muitas vezes temos dito, é a reconciliação dos
povos separados da Igreja; declarando, ao mesmo tempo, que, o êxito, devemos
esperá-lo sobretudo das fervorosas preces dirigidas à omnipotência divina. Isto
Nós também recentemente afirmamos, por ocasião da solenidade do Pentecostes,
recomendando fossem dirigidas, nesta intenção, preces especiais ao Espírito
Santo. E sabemos que o nosso convite foi correspondido em toda parte com grande
solicitude.
Mas,
dada a importância da difícil empresa, e a necessidade de perseverar em toda
santa ousadia, vem aqui muito a propósito o conselho do Apóstolo:
"Perseverai na oração"
[1];
tanto mais quanto os felizes inícios da obra são de incitamento a esta
perseverança na oração. Portanto, ó Veneráveis Irmãos, fareis a coisa mais útil
para este fim, e para Nós mais grata, se, durante todo o próximo Outubro, vós e
os vossos fiéis invocardes connosco devotissimamente a Virgem Mãe, com a
recitação do santo Rosário nas formas prescritas. Poderosos motivos impelem-nos
a, com absoluta confiança, confiar à sua proteção os Nossos projetos e os
Nossos votos.
Maria no Cenáculo mestra
dos apóstolos
3.
O mistério do imenso amor de Cristo a nós teve, "entre outras, uma
luminosa manifestação quando Ele, perto de morrer, quis confiar ao seu
discípulo João aquela mãe, sua própria Mãe, com aquele solene testamento:
"Eis aí teu filho!" Ora, na pessoa de João, segundo o pensamento
constante da Igreja, Cristo quis indicar o género humano, e, particularmente,
todos aqueles que a Ele adeririam pela fé. E é justamente neste sentido que S.
Anselmo de Cantuária exclama: "Ó Virgem, que privilégio pode ser tido em
maior consideração do que esse pelo qual és a mãe daqueles para os quais Cristo
se digna de ser pai e irmão?" [2].
Por
sua parte, Maria generosamente aceitou e tem cumprido essa singular e pesada
missão, cujos inícios foram consagrados no Cenáculo. Desde então ela ajudou
admiravelmente os primeiros fiéis com a santidade do seu exemplo, com a
autoridade dos seus conselhos, com a doçura dos seus incentivos, com a eficácia
das Suas orações, tornando-se assim verdadeiramente mãe da Igreja e mestra e
rainha dos Apóstolos, aos quais comunicou também aqueles divinos oráculos que
ela "conservava ciosamente no seu coração".
Do Céu, Maria vela sobre a
Igreja
4.
Impossível seria, pois, dizer a amplitude e a eficácia tenham adquirido os seus
socorros, quando ela foi levada para junto de seu divino Filho, àquele fastígio
de glória que convinha à sua dignidade e ao esplendor dos méritos. Com efeito,
de lá do alto, consoante os desígnios de Deus, ela começou a velar sobre a
Igreja, a assistir-nos e a proteger-nos como uma mãe; de modo que, depois de
ter sido a cooperadora da redenção humana, se tornou também, pelo poder quase
ilimitado que lhe foi conferido, a dispensadora da graça que em todos os tempos
jorra dessa redenção.
Por
isto, com boa razão as almas cristãs, obedecendo como que a um instinto
natural, sentem-se arrastadas para Maria, para lhe comunicarem com toda
confiança os seus projectos e as suas obras, as suas angústias e as suas
alegrias; para recomendarem com filial abandono suas pessoas e suas coisas à
sua bondade e solicitude. Por este justíssimo motivo, todos os povos e todos os
ritos lhe têm tributado louvores, que têm vindo sempre crescendo com o sufrágio
dos séculos. Donde os títulos a ela dados de "Mãe nossa, nossa
Mediadora" [3],
"Reparadora do mundo inteiro" [4],
"Dispensadora dos dons celestes" [5].
Maria e a difusão do
Evangelho
5.
Ora, já que a fé é o fundamento e princípio dos dons divinos pelos quais o
homem é elevado, acima da ordem da natureza, aos bens eternos, com toda a razão
se celebra a mística influência de Maria para fazer adquirir e frutificar a fé.
Maria, com efeito, é aquela que gerou o "autor da fé", e que, em
razão da sua fé, foi saudada "Bem-aventurada" "Ninguém, ó
Virgem, tem pleno conhecimento de Deus senão por ti; ninguém se salva senão por
ti, ó Mãe de Deus; ninguém, senão por ti, recebe dons da misericórdia
divina" [6].
E, certamente, não poderá parecer exagerada a afirmação de que especialmente
pela sua guia e pelo seu auxílio foi que, mesmo entre enormes obstáculos e
adversidades, a sabedoria e as ordenações evangélicas se difundiram tão
rapidamente em todo o mundo, instaurando por toda parte uma nova ordem de
justiça e de paz.
Consideração
esta que sem dúvida devia estar presente no ânimo de S. Cirilo de Alexandria
quando, dirigindo-se à Virgem, lhe dizia: "Por ti os Apóstolos pregaram
aos povos a doutrina da salvação; por ti a santa Cruz é louvada e adorada no
mundo inteiro; por ti os demónios são afugentados e o homem chamado de novo ao
céu; por ti toda a criatura, detida pelos erros da idolatria, é reconduzida ao
conhecimento da verdade; por ti os fiéis chegaram ao batismo, e em toda parte
do mundo foram fundadas as Igrejas" [7].
Maria, cetro da verdadeira
fé
6.
Além disto, consoante o louvor do mesmo Doutor, ela foi vigorosíssimo
"cetro da verdadeira fé" [8],
pelo contínuo cuidado que teve de manter firme, intacta e fecunda, entre os
povos, a fé católica. E disto existem provas numerosíssimas e assaz conhecidas,
confirmadas às vezes por acontecimentos prodigiosos. Sobretudo nas épocas e nas
regiões em que se houve de deplorar a fé esmorecida por causa da indiferença,
ou atacada pelo pernicioso contágio dos erros, foi que o clemente socorro da
Virgem se fez particularmente sentir.
Foi
então que, graças ao seu impulso e ao seu apoio, surgiram homens, eminentes por
santidade e por zelo apostólico, prontos a repelir os ataques dos perversos, a
reconduzir as almas à prática e ao fervor da vida cristã. Sozinho, mas poderoso
como muitos juntos, Domingos de Gusmão consagrou-se a esta dupla tarefa, tendo
posto com êxito a sua confiança no Rosário de Maria.
E
ninguém poderá pôr em dúvida que grande parte tenha a Mãe de Deus nos serviços
prestados pelos veneráveis Padres e Doutores da Igreja, que tão notavelmente
trabalharam em defender e ilustrar a doutrina católica. De facto, é a ela, sede
da divina sabedoria, que eles atribuem com gratidão a fecunda inspiração dos
seus escritos; foi por obra da Virgem Santíssima, e não pelo mérito deles,
conforme eles mesmos atestam, que a malícia dos erros foi debelada.
Enfim,
príncipes e Pontífices Romanos, guardas e defensores da fé sempre tiveram o
costume de recorrer ao nome da divina Mãe: uns na direção das suas guerras
sagradas, outros na promulgação dos seus solenes decretos; e sempre lhe
experimentaram o poder e a protecção.
7.
Por isto a Igreja e os Padres dirigem a Maria estas expressões não menos
verdadeiras do que esplêndidas: "Ave, ó boca sempre eloquente dos
Apóstolos; ó sólido fundamento da fé; ó rocha inabalável da Igreja" [9].
"Ave: por ti nós fomos computados entre os cidadãos da Igreja, una, santa,
católica e apostólica" [10].
"Ave, ó divina fonte da qual os rios da eterna sabedoria, correndo com as
puríssimas e limpidíssimas águas da ortodoxia, prostram a multidão dos
erros" [11].
"Alegra-te, já que só tu conseguiste destruir todas as heresias no mundo
inteiro!" [12].
Maria e a unidade da fé
8.
Esta parte tão importante que a Santíssima Virgem teve e tem no curso de
expansão, nos combates, nos triunfos da fé católica, torna mais luminoso o
plano divino a seu respeito, e deve despertar em todos os bons uma grande
esperança para a consecução de todas as finalidades que estão hoje nos anseios
de cada um.
9.
É preciso confiar em Maria; é preciso invocar Maria! Oh! quão eficaz será o seu
poder para a solícita realização do novo e tão desejado triunfo da religião,
isto é, que no meio dos povos cristãos uma única profissão de fé deva manter
unidas as mentes, e um único vínculo de perfeita caridade estreite os corações!
Que não estará ela disposta a fazer para que todas as nações caminhem unidas
"na maravilhosa luz de Deus", quando com tanta insistência o seu Unigénito
pediu ao Pai a união delas, e, por meio do baptismo, as chamou a participar
"da herança da salvação", adquirida por imenso preço? Poderá ela
deixar de demonstrar a sua amorosa providência, quer para aliviar os longos
trabalhos que para tal fim a Igreja, Esposa de Cristo, enfrenta, quer para
realizar na família cristã esse dom da união que é o fruto precioso da sua
maternidade?
A antiga unidade e o culto
de Maria
10.
E um sinal de que o augúrio não está tão longe de verificar-se está na opinião
e na confiança, tão ardentes nas almas piedosas, de que Maria será o feliz laço
que, com a sua força, unirá todos aqueles que amam a Cristo, onde quer que
estejam, formando deles um só povo de irmãos, prontos a obedecer, como a um pai
comum, ao Vigário de Cristo na terra, o Pontífice Romano.
Aqui
o pensamento reporta-se espontaneamente, através dos fastos da Igreja, aos
magníficos exemplos da primitiva unidade, e com mais gosto se detém na
recordação do grande Concílio de Éfeso. Porquanto a plena concórdia da fé, a
participação nos mesmos sacramentos, que então unia o Oriente e o Ocidente,
aqui parece realmente afirmar-se com singular firmeza e brilhar de nova glória,
quando os padres do Concílio anunciaram autorizadamente o dogma da divina
Maternidade de Maria: a notícia de tal acontecimento, promanando daquela religiosíssima
cidade exultante, encheu o mundo católico da mesma incontida alegria.
A oração pelos
dissidentes, agradável a Maria
11.
Todas estas razões, que sustentam e aumentam a confiança de ser ouvido pelo
poder e pela bondade da Virgem, devem ser, para os católicos, outros tantos
incitamentos para a rogarem - como Nós vivamente recomendamos -com fervoroso
empenho. Reflictam os fiéis em quanto é para eles decoroso e útil, e ao mesmo
tempo quão aceito e grato para a Virgem Santíssima, este empenho.
De
feito, possuindo eles a unidade da fé, destarte manifestam que justamente têm
grandíssimo apreço o valor deste benefício, e que querem guardá-lo com todo
escrúpulo. Nem podem eles manifestar de melhor forma o seu amor fraterno para
com os separados, do que ajudando-os eficazmente de modo que possam reencontrar
o maior de todos os bens. Tal afecto fraterno, verdadeiramente cristão, sempre
operoso em toda a história da Igreja, achou sempre a sua força principal na Mãe
de Deus, excelente fautora de paz e de unidade. S. Germano de Constantinopla
assim a invocava: "Lembra-te dos cristãos, que são teus servos; ah!
recomenda as orações de todos; conforta as esperanças de todos; reforça a fé;
estreita as igrejas na unidade!" [13]
O culto de Maria entre os
Orientais
12.
E ainda hoje os Gregos lhe dirigem esta oração: "Ó Virgem toda pura, que
podes sem temor aproximar-te de teu Filho, roga-o, ó toda santa, para que Ele
dê a paz ao mundo e inspire um mesmo sentimento a todas as igrejas; e todos nós
te aclamaremos!" [14].
E aqui se junta aos outros um motivo especial pelo qual é lícito esperar que a
Santíssima Virgem escutará com maior benignidade as nossas preces em favor dos
povos dissidentes, e esse motivo é o dos insignes méritos que eles - mas
especialmente os orientais adquiriram para com ela. Porque é a eles que muito
se deve se a sua devoção tanto se difundiu e cresceu.
Entre
eles surgiram grandes apologistas e defensores da sua dignidade; panegiristas
célebres pelo fogo e pela delicadeza da sua eloquência; "imperatrizes
diletíssimas a Deus" [15]
que imitaram os exemplos da puríssima Virgem e lhe tributaram homenagens com a
sua munificência; e, por último, igrejas e basílicas erguidas em sua honra com
esplendor régio.
As imagens de Maria do
Oriente ao Ocidente
13.
A esta altura apraz-nos aditar uma consideração que, enquanto não é estranha ao
assunto, ao mesmo tempo redunda em glória da santíssima Mãe de Deus. É esta:
todos sabem que muitíssimas das suas augustas imagens, em diversas épocas,
foram trazidas do Oriente para o Ocidente, e, especialmente na Itália e em
Roma, foram acolhidas com suma piedade e honradas com magnificência pelos
nossos avós, e veneradas depois pelos seus descendentes com não menor
transporte.
Ora,
Nós gostamos de verificar neste facto unia disposição e um benefício da
amorosíssima Mãe, já que isso parece querer significar que essas imagens são,
junto a nós, como que, palpitantes monumentos de outros tempos, em que a
família cristã vivia unida em toda parte do mundo; e como que preciosos
penhores de uma comum herança. Por isto, ao contemplá-las, como que por
inspiração da própria Virgem devem as almas piedosamente lembrar-se daqueles
que a Igreja Católica chama com amorosa solicitude à antiga concórdia e à
alegria que já provaram no seu seio.
O Rosário, oração eficaz
para os dissidentes
14.
Assim, um grande auxílio em vantagem da unidade da Igreja é-nos oferecido por
Deus em Maria. E, conquanto este auxílio de muitos modos, possa ser merecido,
Nós cremos que o melhor e o mais eficaz é o do Rosário já de outras vezes
fizemos observar que não última entre as vantagens do santo Rosário é fornecer
ao cristão um meio prático e fácil para alimentar a sua fé e preservá-la da
ignorância e do perigo do erro; como manifestamente nos demonstram as suas
próprias origens.
Ora,
não é menos claro o quanto toca de perto a Maria esta fé, que se exercita quer
com a repetida oração vocal, quer com a meditação dos mistérios. Porquanto,
toda a vez que nos pomos em oração diante dela e recitamos com devoção a santa
Coroa segundo o rito prescrito, nós recordamos a obra maravilhosa da nossa
redenção, de modo a contemplarmos, como se se desenrolassem agora todos aqueles
factos que sucessivamente concorrem para torná-la ao mesmo tempo Mãe de Deus e
Mãe nossa.
A
excelência desta dupla dignidade e o fruto deste duplo ministério
mostram-se-nos sob uma vivíssima luz, se piedosamente considerarmos a Virgem
Maria ao lado de seu divino Filho nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.
Daí resulta sentir-se a alma inflamada de um vivo sentimento de gratidão para
com ela; e, desdenhando todas as coisas deste mundo, esforçar-se com firme
propósito por se tornar digna de tal Mãe e dos seus benefícios.
Aliás,
já que Maria, a mais amorosa de todas as mães, não pode deixar de se enternecer
e de se mover à compaixão para com os homens por esta frequente e piedosa
recordação de tais mistérios, o santo Rosário será, como temos dito, a oração
mais oportuna para advogar junto a ela a causa de nossos irmãos dissidentes.
Isto entra em cheio na missão da sua maternidade espiritual.
De
facto, aqueles que pertencem a Cristo, não os gerou Nossa Senhora, nem podia
gerá-los, senão na unidade da fé e do amor a Ele. "Acaso Cristo foi feito
em pedaços?" [16].
Por isto, todos nós devemos viver juntos a vida de Cristo, de modo a podermos
"colher frutos para Deus" [17],
num só e idêntico corpo. Necessário é, pois, que todos aqueles que a maldade
dos acontecimentos separou desta unidade sejam de novo, por assim dizer,
gerados para Cristo, desta mesma Mãe que Deus tornou perenemente fecunda de
santa prole.
Ela,
por sua parte, nenhuma outra coisa deseja mais ardentemente; e, se nós lhe
oferecermos coroas tecidas desta oração a ela tão cara, Maria lhes obterá em
abundância os auxílios do "Espírito vivificados". Praza a Deus que
eles não recusem secundar os desejos desta sua misericordiosíssima Mãe; e que,
lembrados da sua eterna salvação, escutem este amoroso convite: "Ó filhos,
por quem de novo sinto as dores do parto, até que Cristo seja formado em
vós" [18].
O Rosário difundido na
Igreja do Oriente
15.
Tendo observado o grande poder do santo Rosário em tal terreno, alguns dos Nossos
Predecessores procuraram por todos os meios difundi-lo nos países orientais.
Primeiro entre todos, Eugénio IV com a sua Constituição Apostólica
"Advesperascente", de 1139; depois Inocêncio XII e Clemente XI, que
com a sua autoridade concederam, para este fim, largos privilégios à Ordem dos
Frades Pregadores.
E
os frutos não se fizeram esperar longamente, graças ao zelo e à atividade dos
religiosos dessa Ordem, como está provado por inúmeros e claros documentos; se
bem que aos progressos de tal obra fizesse não pouco dano a prolongada
contrariedade dos tempos. Mas, nos nossos dias, naquelas regiões tem voltado a
reflorir em muitos corações o mesmo entusiasmo pela devoção ao santo Rosário,
que louvamos no principio desta Carta. E esperamos que este facto, tão
condizente com os Nossos desígnios, seja utilíssimo à realização dos Nossos
votos.
Novo templo à Virgem do
Rosário em Patras
16.
A esta esperança se junta um facto consolador, que diz respeito tanto ao
Oriente quanto ao Ocidente, e que é plenamente conforme aos Nossos desejos.
Queremos referir-nos ao propósito, expresso no célebre Congresso Eucarístico de
Jerusalém, de se erigir um templo em honra da Rainha do Santíssimo Rosário em
Patras, na Acácia, não longe daqueles lugares nos quais a proteção de Maria fez
brilhar as glórias do nome cristão.
Já
muitos de vós, exortados pela Comissão, surgida com a Nossa aprovação,
pressurosamente contribuístes para essa obra com subscrições, juntando-lhes
também a promessa de um constante interesse até que a coisa esteja realizada.
E, com isto, já se proveu a quanto basta para iniciar, sem mais, os trabalhos
com a grandiosidade que convém a esta obra; e Nós já autorizámos lançar-se
solenemente, o mais breve possível, a primeira pedra desse edifício. O templo surgirá
em nome do povo cristão, qual monumento de perene gratidão à nossa Auxiliadora
e Mãe celeste. Lá ela será invocada incessantemente em rito latino e grego, a
fim de que, com sempre mais benévola assistência, se digne de ajuntar aos
antigos novos favores.
Mostra-te Mãe!
17.
E agora, ó Veneráveis Irmãos, a Nossa exortação volta ao ponto do qual partiu.
Eia, pois! que todos, pastores e rebanhos, especialmente no próximo mês, se
coloquem, cheios de confiança, sob a proteção da augusta Virgem. Em público e
em particular não cessem, com cantos, orações e votos, de invocar e suplicar em
uníssono a Mãe de Deus e Mãe nossa: "Ah! mostra-te Mãe!". Que a sua
clemência maternal queira preservar de todo perigo a sua família inteira: que a
conduza a uma verdadeira prosperidade, e sobretudo a estabeleça na santa
unidade. Guarde ela com benevolência os católicos de todas as nações, e,
unindo-os pelos vínculos da caridade, os torne mais activos e mais constantes
em sustentar a honra da religião, da qual promanam, mesmo para os povos, os
bens mais preciosos.
Guarde,
depois, com suma benevolência também os dissidentes: essas grandes e ilustres
nações, essas almas eleitas, que sentem a dignidade cristã. Suscite nelas
salutares desejos, e depois os alimente e os leve a cumprimento. Redundem em
vantagem dos dissidentes orientais a ardente devoção que eles professam para
com Nossa Senhora, e os numerosos feitos realizados pelos seus antepassados
para a glória dela. Depois, em vantagem dos dissidentes ocidentais redunde a lembrança
do salutar patrocínio com que ela teve como cara e recompensou a extraordinária
piedade que todas as classes sociais lhe professaram por muitas gerações.
Para
estes dissidentes e para todos os outros, onde quer que se encontrem valha a
voz unânime e suplicante de todos os povos católicos, e valha a Nossa voz, que
até o último alento invocará: "Mostra-te Mãe!".
Entrementes,
como auspício dos dons celestes e em atestado da Nossa benevolência, de todo
coração concedemos a cada um de vós, ao vosso clero e ao vosso povo a Nossa
Bênção Apostólica.
Dado
em Roma, junto a S. Pedro, a 5 de Setembro de 1895, no décimo oitavo ano do
Nosso Pontificado.
LEÃO
XIII PAPA
Copyright
© Libreria Editrice Vaticana
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
[2] S. Anselmo de
Cantuária, Oratio 47
[3] S. Bernardo, Sermo
II in Advento Domini, n. 5
[4] S. Tharasius, Oratio in Praesentatione Deiparae
[5] In Off. Graec., 8 dec., post oden 9
[6] S. Germano
Constantinopolitano, Oratio II in Dormitione B. M. V.
[7] S. Cirilo de
Alexandria, Homilia contra Nestorium
[8] S. Cirilo de
Alexandria, Homilia contra Nestorium
[9] Do hino dos Gregos
Theotokion
[10] S. João Damasceno,
Oratio in Annunciatione Dei Genitricis, n. 9
[11] S. Germano
Constantinopolitano, Oratione in Dei Praesentatione, n. 4
[12] no Ofício da
B. V. M.
[13] S. Germano
Constantinopolitano, Oratio Hist. in Dormitione Deiparae.
[14] Men., 5 maii, post
oden 9 de S. Ireneu V. M
[15] S. Cirilo de
Alexandria, De Fide ad Pulcheriam et Sorores Reginas
[16] 1 Cor. 1, 13
[17] Rom. 7, 4
[18] Gal. 4, 19
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