Em
seguida tratar-se-á das potências intelectivas. E nesta questão treze artigos
se discutem:
Art.
1 ― Se o intelecto é uma potência da alma ou se é a essência mesma dela.
Art.
2 ― Se o intelecto é uma potência passiva.
Art.
3 ― Se se deve admitir um intelecto agente.
Art.
4 ― Se o intelecto agente faz parte da alma.
Art.
5 ― Se o intelecto agente é um só para todos.
Art.
6 ― Se a memória está na parte intelectiva da alma.
Art.
7 ― Se a memória intelectiva é potência diferente do intelecto.
Art.
8 ― Se a razão é potência diferente do intelecto.
Art.
9 ― Se a razão superior e a inferior são potências diferentes.
Art.
10 ― Se a inteligência é potência diferente do intelecto.
Art.
11 ― Se o intelecto especulativo e o prático são potências diferentes.
Art.
12 ― Se a sindérese é uma potência especial distinta das outras.
Art.
13 ― Se a consciência é uma potência.
Art. 1 ― Se o intelecto é uma potência
da alma ou se é a essência mesma dela.
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que o intelecto não é uma potência da alma,
mas é a própria essência dela.
1.
― Pois, intelecto é o mesmo que mente. Ora esta é, não uma potência, mas a própria
essência da alma, como diz Agostinho: A mente e o espírito não tem significação
relativa, mas demonstram a essência. Logo, o intelecto é a própria essência da
alma.
2.
Demais. ― Os diversos géneros de potências da alma não se unificam por nenhuma
potência, mas só pela essência da alma. Ora, o apetitivo e o intelectivo são
dois géneros diversos das potências da alma, como já se disse, e que se
unificam pela mente; pois Agostinho considera nesta a inteligência e a vontade.
Logo, a mente e o intelecto são a própria essência da alma e não potências
suas.
3.
Demais. ― Segundo Gregório, o homem intelige com os anjos. Ora estes são
chamados mentes e intelectos. Logo, a mente e o intelecto do homem não
constituem uma potência da alma, mas a própria alma.
4.
Demais. ― É por ser imaterial que uma substância é intelectiva. Ora, a alma é
imaterial por essência. Logo, por essência, é intelectiva.
Mas,
em contrário, o Filósofo considera o intelectivo como potência da alma.
É necessário admitir-se, conforme o que já ficou estabelecido, que o
intelecto é uma potência da alma e não a própria essência dela. Pois, o
princípio imediato de operação é a própria essência do operante só quando a própria
operação é ser deste. Porquanto, do mesmo modo que a potência está para a
operação, como para o seu acto, assim também está a essência para o ser. Ora,
só em Deus é que se identifica o intelecto com a essência. Ao passo que em
todas as criaturas inteligentes, o intelecto é uma potência do inteligente.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Umas vezes acepção de potência toma-se como sentido;
outras, porém, pela própria alma sensitiva. Ora, esta é designada pelo nome da
sua potência mais importante, que é o sentido. E, semelhantemente, a alma
intelectiva é designada, umas vezes, pelo nome de intelecto, como pela sua virtude
mais importante; assim, diz-se que o intelecto é uma substância. E também deste
modo Agostinho diz que a mente é espírito ou essência.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O apetitivo e o intelectivo são géneros diversos das potências da
alma, segundo as naturezas diferentes dos objetos. Ora, o apetitivo, em parte,
convém com o intelectivo e, em parte, com o sensitivo, quanto ao modo de operar
por meio de um órgão corpóreo ou sem tal órgão; pois o apetite resulta da
apreensão. E é assim que Agostinho considera a vontade na mente e o Filósofo,
na razão.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nos anjos não pode haver outra virtude senão a intelectiva e a
vontade, consequente o intelecto. E, por isso, o anjo se chama mente ou
intelecto, porque nisso consiste toda a virtude do mesmo. A alma, porém, tem
muitas outras potências; assim, as sensitivas e as nutritivas. E portanto, não
há similitude.
RESPOSTA
À QUARTA. ― A própria imaterialidade da substância inteligente criada não se
lhe identifica com o intelecto; mas, dessa imaterialidade lhe advém à virtude
de inteligir. Por onde, não é necessário que o intelecto seja a substância da
alma, senão virtude e potência dela.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
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