30/07/2012

Tratado sobre o homem 28

Questão 79: Das potências intelectivas.

Em seguida tratar-se-á das potências intelectivas. E nesta questão treze artigos se discutem:

Art. 1 ― Se o intelecto é uma potência da alma ou se é a essência mesma dela.
Art. 2 ― Se o intelecto é uma potência passiva.
Art. 3 ― Se se deve admitir um intelecto agente.
Art. 4 ― Se o intelecto agente faz parte da alma.
Art. 5 ― Se o intelecto agente é um só para todos.
Art. 6 ― Se a memória está na parte intelectiva da alma.
Art. 7 ― Se a memória intelectiva é potência diferente do intelecto.
Art. 8 ― Se a razão é potência diferente do intelecto.
Art. 9 ― Se a razão superior e a inferior são potências diferentes.
Art. 10 ― Se a inteligência é potência diferente do intelecto.
Art. 11 ― Se o intelecto especulativo e o prático são potências diferentes.
Art. 12 ― Se a sindérese é uma potência especial distinta das outras.
Art. 13 ― Se a consciência é uma potência.

Art. 1 ― Se o intelecto é uma potência da alma ou se é a essência mesma dela.

O primeiro discute-se assim. ― Parece que o intelecto não é uma potência da alma, mas é a própria essência dela.

1. ― Pois, intelecto é o mesmo que mente. Ora esta é, não uma potência, mas a própria essência da alma, como diz Agostinho: A mente e o espírito não tem significação relativa, mas demonstram a essência. Logo, o intelecto é a própria essência da alma.

2. Demais. ― Os diversos géneros de potências da alma não se unificam por nenhuma potência, mas só pela essência da alma. Ora, o apetitivo e o intelectivo são dois géneros diversos das potências da alma, como já se disse, e que se unificam pela mente; pois Agostinho considera nesta a inteligência e a vontade. Logo, a mente e o intelecto são a própria essência da alma e não potências suas.

3. Demais. ― Segundo Gregório, o homem intelige com os anjos. Ora estes são chamados mentes e intelectos. Logo, a mente e o intelecto do homem não constituem uma potência da alma, mas a própria alma.

4. Demais. ― É por ser imaterial que uma substância é intelectiva. Ora, a alma é imaterial por essência. Logo, por essência, é intelectiva.

Mas, em contrário, o Filósofo considera o intelectivo como potência da alma.

É necessário admitir-se, conforme o que já ficou estabelecido, que o intelecto é uma potência da alma e não a própria essência dela. Pois, o princípio imediato de operação é a própria essência do operante só quando a própria operação é ser deste. Porquanto, do mesmo modo que a potência está para a operação, como para o seu acto, assim também está a essência para o ser. Ora, só em Deus é que se identifica o intelecto com a essência. Ao passo que em todas as criaturas inteligentes, o intelecto é uma potência do inteligente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Umas vezes  acepção de potência toma-se como sentido; outras, porém, pela própria alma sensitiva. Ora, esta é designada pelo nome da sua potência mais importante, que é o sentido. E, semelhantemente, a alma intelectiva é designada, umas vezes, pelo nome de intelecto, como pela sua virtude mais importante; assim, diz-se que o intelecto é uma substância. E também deste modo Agostinho diz que a mente é espírito ou essência.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O apetitivo e o intelectivo são géneros diversos das potências da alma, segundo as naturezas diferentes dos objetos. Ora, o apetitivo, em parte, convém com o intelectivo e, em parte, com o sensitivo, quanto ao modo de operar por meio de um órgão corpóreo ou sem tal órgão; pois o apetite resulta da apreensão. E é assim que Agostinho considera a vontade na mente e o Filósofo, na razão.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nos anjos não pode haver outra virtude senão a intelectiva e a vontade, consequente o intelecto. E, por isso, o anjo se chama mente ou intelecto, porque nisso consiste toda a virtude do mesmo. A alma, porém, tem muitas outras potências; assim, as sensitivas e as nutritivas. E portanto, não há similitude.

RESPOSTA À QUARTA. ― A própria imaterialidade da substância inteligente criada não se lhe identifica com o intelecto; mas, dessa imaterialidade lhe advém à virtude de inteligir. Por onde, não é necessário que o intelecto seja a substância da alma, senão virtude e potência dela.

Nota: Revisão da tradução para português por ama

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