20/07/2012

Tratado sobre o homem 17

Questão 77: Do que se refere às potências da alma em geral.
Art. 3 ― Se as potências activas se distinguem pelos seus actos e objectos.


(Qu. De Anima, a. 13; II De Anima, lect IV).

O terceiro discute-se assim. ― Parece que as potências activas não se distinguem pelos seus actos e objectos.

1. ― Pois, nada do que é posterior ou extrínseco pode determinar um ser especificamente. Ora, o acto é posterior à potência; e o objecto é extrínseco. Logo, não podem determinar especificamente as potências activas.

2. Demais. ― Os contrários diferem em máximo grau. Se, pois, as potências activas se distinguissem pelos seus objectos, resultaria não terem os contrários à mesma potência activa, o que, de ordinário, é evidentemente falso quase sempre; assim, a mesma potência visiva vê o branco e o preto, o mesmo gosto sente o doce e o amargo.

3. Demais. ― Removida a causa, removido fica o efeito. Se, pois, a diferença das potências activas resultasse da dos objectos, o mesmo objecto não pertenceria a diversas potências, o que, evidentemente é falso, pois, o mesmo que a potência cognoscitiva conhece, a apetitiva deseja.

4. Demais. ― O que por si causa alguma coisa causa-a totalmente. Mas, há certos objectos diversos que, pertencendo a diversas potências, pertencem também a uma só potência; p. ex., o som e a vista pertencem à visão e à audição, potências activas diversas; e contudo pertencem também à potência una do senso comum. Logo as potências activas se não distinguem pela diferença dos objectos.

Mas, em contrário. ― O que é posterior distingue-se pelo que é anterior. Ora, o Filósofo diz, que os actos e as operações são, por natureza anteriores às potências; e, além disso, anteriores aos actos, são os seus opostos ou objectos. Logo, as potencias distinguem-se pelos seus actos e objectos.

A potência, como tal, sendo ordenada para o acto, é necessário que a sua noção seja deduzida do acto para o qual está ordenada; e, por consequência, é forçoso que a noção de potência se diversifique da do acto. Ora, a noção de acto diversifica-se pela noção diversa de objecto. Mas, toda acção ou é de uma potência activa ou de uma passiva. Ora, o objecto está para o acto da potência passiva como princípio e causa motora; assim a cor, enquanto move a vista é princípio da visão. Porém o objecto está para o acto da potência activa como termo e fim; assim, objecto da virtude aumentativa é o todo completo que é o fim do aumento. Ora, estes dois factores, a saber o princípio e fim ou termo, é que especificam a acção. Assim, a calefacção difere do resfriamento em que, aquela passa do cálido, ou seja, activo para o cálido, e, este do frio para o frio. Donde, é forçoso que as potências se diversifiquem pelos seus actos e objectos.

Mas, todavia, deve considerar-se que o acidental não diversifica a espécie. Não é porque o animal pode ter uma certa cor, que as espécies animais se diversificariam por essa diferença. Mas diversificam-se pela diferença que é essencial ao animal, isto é, pela da alma sensitiva, ora dotada de razão, ora sem ela; e, por isso, racional e irracional, são as diferenças que separam os diferentes animais, constituindo-os em diversas espécies. Assim, pois, não é uma diversidade qualquer dos objectos que diversifica as potências da alma, mas a diferença do objecto ao qual a potência, em si, se refere. Assim, o sentido, em si, diz respeito à qualidade passível que, em si, se divide em cor, som e qualidades semelhantes; donde, uma é a potência sensitiva da cor, a saber, a visão, e outra a do som, a saber, a audição. Mas à qualidade passiva, p. ex., a de um ser colorido, pode acidentalmente convir ser músico ou gramático, grande ou pequeno homem ou pedra. E, portanto, por semelhantes diferenças as potências da alma se não distinguem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Embora o acto seja, pelo ser, posterior à potência, é-lhe contudo anterior pelo acto cognitivo e pela noção, como o fim, no agente. Porém o objecto, embora seja extrínseco, é contudo o princípio ou o fim da acção. Ora, tudo quanto for intrínseco a uma acção deve se proporcionar ao princípio e ao fim.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Se uma potência tivesse em si, um dos contrários, como seu objecto, seria necessário que outra tivesse outro. As potências da alma porém não dizem respeito, em si, à noção própria de contrário, mas à comum de cada um deles; assim, a visão não diz respeito, em si, à noção de branco, mas à de cor. E isto, porque um dos contrários encerra de certo modo a noção do outro, estando um para o outro como o perfeito para o imperfeito.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nada impede que um mesmo objecto seja relativo a noções diversas, podendo, portanto, pertencer a potências diversas da alma.

RESPOSTA À QUARTA. ― A potência superior abrange uma noção mais universal do objecto do que a potência inferior; pois, quanto mais superior é a potência tanto maior extensão tem, em relação aos objectos. Donde, muitos objectos sobre os quais se estende, em si, a potência superior, entram na mesma noção e, todavia, diferem pelas noções sobre as quais se exercem, por si, as potências inferiores. Donde vem o pertencerem objectos diversos a diversas potências inferiores, os quais, todavia, estão sujeitos à potência superior.

Nota: Revisão da tradução para português por ama

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