Art. 3 ― Se as potências activas se distinguem pelos seus actos e objectos.
(Qu.
De Anima, a. 13; II De Anima, lect IV).
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que as potências activas não se distinguem
pelos seus actos e objectos.
1.
― Pois, nada do que é posterior ou extrínseco pode determinar um ser
especificamente. Ora, o acto é posterior à potência; e o objecto é extrínseco.
Logo, não podem determinar especificamente as potências activas.
2.
Demais. ― Os contrários diferem em máximo grau. Se, pois, as potências activas
se distinguissem pelos seus objectos, resultaria não terem os contrários à
mesma potência activa, o que, de ordinário, é evidentemente falso quase sempre;
assim, a mesma potência visiva vê o branco e o preto, o mesmo gosto sente o
doce e o amargo.
3.
Demais. ― Removida a causa, removido fica o efeito. Se, pois, a diferença das
potências activas resultasse da dos objectos, o mesmo objecto não pertenceria a
diversas potências, o que, evidentemente é falso, pois, o mesmo que a potência
cognoscitiva conhece, a apetitiva deseja.
4.
Demais. ― O que por si causa alguma coisa causa-a totalmente. Mas, há certos objectos
diversos que, pertencendo a diversas potências, pertencem também a uma só
potência; p. ex., o som e a vista pertencem à visão e à audição, potências activas
diversas; e contudo pertencem também à potência una do senso comum. Logo as
potências activas se não distinguem pela diferença dos objectos.
Mas,
em contrário. ― O que é posterior distingue-se pelo que é anterior. Ora, o
Filósofo diz, que os actos e as operações são, por natureza anteriores às potências;
e, além disso, anteriores aos actos, são os seus opostos ou objectos. Logo, as
potencias distinguem-se pelos seus actos e objectos.
A potência, como tal, sendo ordenada para o acto, é necessário que a sua noção
seja deduzida do acto para o qual está ordenada; e, por consequência, é forçoso
que a noção de potência se diversifique da do acto. Ora, a noção de acto diversifica-se
pela noção diversa de objecto. Mas, toda acção ou é de uma potência activa ou
de uma passiva. Ora, o objecto está para o acto da potência passiva como
princípio e causa motora; assim a cor, enquanto move a vista é princípio da visão.
Porém o objecto está para o acto da potência activa como termo e fim; assim, objecto
da virtude aumentativa é o todo completo que é o fim do aumento. Ora, estes
dois factores, a saber o princípio e fim ou termo, é que especificam a acção.
Assim, a calefacção difere do resfriamento em que, aquela passa do cálido, ou
seja, activo para o cálido, e, este do frio para o frio. Donde, é forçoso que
as potências se diversifiquem pelos seus actos e objectos.
Mas,
todavia, deve considerar-se que o acidental não diversifica a espécie. Não é
porque o animal pode ter uma certa cor, que as espécies animais se
diversificariam por essa diferença. Mas diversificam-se pela diferença que é
essencial ao animal, isto é, pela da alma sensitiva, ora dotada de razão, ora
sem ela; e, por isso, racional e irracional, são as diferenças que separam os
diferentes animais, constituindo-os em diversas espécies. Assim, pois, não é
uma diversidade qualquer dos objectos que diversifica as potências da alma, mas
a diferença do objecto ao qual a potência, em si, se refere. Assim, o sentido,
em si, diz respeito à qualidade passível que, em si, se divide em cor, som e
qualidades semelhantes; donde, uma é a potência sensitiva da cor, a saber, a
visão, e outra a do som, a saber, a audição. Mas à qualidade passiva, p. ex., a
de um ser colorido, pode acidentalmente convir ser músico ou gramático, grande
ou pequeno homem ou pedra. E, portanto, por semelhantes diferenças as potências
da alma se não distinguem.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Embora o acto seja, pelo ser, posterior à potência,
é-lhe contudo anterior pelo acto cognitivo e pela noção, como o fim, no agente.
Porém o objecto, embora seja extrínseco, é contudo o princípio ou o fim da acção.
Ora, tudo quanto for intrínseco a uma acção deve se proporcionar ao princípio e
ao fim.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Se uma potência tivesse em si, um dos contrários, como seu objecto,
seria necessário que outra tivesse outro. As potências da alma porém não dizem
respeito, em si, à noção própria de contrário, mas à comum de cada um deles;
assim, a visão não diz respeito, em si, à noção de branco, mas à de cor. E
isto, porque um dos contrários encerra de certo modo a noção do outro, estando
um para o outro como o perfeito para o imperfeito.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nada impede que um mesmo objecto seja relativo a noções diversas,
podendo, portanto, pertencer a potências diversas da alma.
RESPOSTA
À QUARTA. ― A potência superior abrange uma noção mais universal do objecto do
que a potência inferior; pois, quanto mais superior é a potência tanto maior
extensão tem, em relação aos objectos. Donde, muitos objectos sobre os quais se
estende, em si, a potência superior, entram na mesma noção e, todavia, diferem
pelas noções sobre as quais se exercem, por si, as potências inferiores. Donde
vem o pertencerem objectos diversos a diversas potências inferiores, os quais,
todavia, estão sujeitos à potência superior.
Nota: Revisão da tradução para português por ama
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.