Art. 6 ― Se a alma intelectiva está unida ao corpo mediante certas disposições acidentais.
(II
Cont. Gent., cap. LXXI; De Spirit. Creat., a. 3; Qu. De Anima, a. 9; II De
Anima, lect. I; VIII Metaphs., lect. V).
O
sexto discute-se assim. ― Parece que a alma intelectiva está unida ao corpo,
mediante certas disposições acidentais.
1.
― Pois, toda forma está em matéria para si própria e disposta. Ora, as
disposições para a forma são acidentes. Logo, é necessário que se pre-intelijam,
na matéria, certos acidentes, antes da forma substancial e, portanto, antes da
alma, que é urna forma substancial.
2.
Demais. ― Diversas formas da mesma espécie exigem partes diversas da matéria.
Ora, estas não podem ser inteligidas, senão pela divisão das quantidades dimensíveis.
Logo, é necessário se intelijam dimensões, na matéria, antes das formas
substanciais, que são muitas da mesma espécie.
3.
Demais. ― O espiritual une-se ao corpóreo pelo contacto de virtude. Ora, a
virtude da alma é a sua potência. Logo, está unida ao corpo mediante a
potência, que é um acidente.
Mas,
em contrário, o acidente é posterior à substância, temporal e racionalmente,
como diz Aristóteles. Logo, não se pode compreender haja na matéria alguma
forma acidental anterior à alma, que é a forma substancial.
Se a alma estivesse unida ao corpo só como motor, nada impediria, antes,
seria necessário existir certas disposições médias entre a alma e o corpo, a
saber: a potência, por parte da alma, com a qual moveria o corpo; e certa
disposição, por parte do corpo, que o fizesse movido da alma. ― Mas se a alma
intelectiva está unida ao corpo, como forma substancial, segundo ficou dito
antes (a. 1), é impossível haver qualquer disposição acidental entre
o corpo e a alma, ou entre qualquer forma substancial e a sua matéria. E a
razão disto é que, sendo a matéria potencial, em relação a todos os actos, numa
certa ordem, é necessário que se suponha, em primeiro lugar, na matéria,
aquele, dentre os actos, que for o primeiro absolutamente. Ora, o primeiro de
todos os actos é o ser. Logo, é impossível supor a matéria como cálida ou
quantitativa, antes de ter o ser em acto. Ora, ela tem este pela forma
substancial, que dá o ser absolutamente, como já ficou dito (a. 4). Donde,
é impossível a preexistência, na matéria, de quaisquer disposições acidentais,
anteriores à forma substancial e, por conseguinte à alma.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. Como resulta do que já foi dito (a. 3, 4),
a forma que é mais perfeita contém, virtualmente, tudo o que pertence às formas
inferiores; e, portanto, existindo una e a mesma, aperfeiçoa a matéria segundo
os diversos graus de perfeição. Ora é uma e essencialmente a mesma a forma pela
qual o homem é ser actual, corpo, vivo, animal, homem. Pois, é manifesto, de
cada género resultam os seus acidentes próprios. Donde, como se supõe a matéria
perfeita, quanto ao ser, antes de se lhe supor a corporeidade, e assim por
diante; também se supõem os acidentes próprios ao ser, antes de supor-lhes a
corporeidade. E, assim, pressupõem, na matéria, disposições anteriores à forma,
não quanto ao seu efeito total, mas só quanto aos efeitos posteriores.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― As dimensões quantitativas são acidentes resultantes da
corporeidade, que é própria a toda matéria. Donde, a matéria já incluída na
corporeidade e nas dimensões pode ser compreendida como distinta em partes
diversas, recebendo, assim, formas diversas, segundo os graus ulteriores de
perfeição. Pois, embora seja essencialmente a mesma a forma que atribui à
matéria os diversos graus de perfeição, como já se disse, todavia difere,
quanto à consideração da razão.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A substância espiritual, unida ao corpo só como motor, está só unida
pela potência e pela virtude; mas a alma intelectiva está unida ao corpo, como
forma, pelo seu ser; pois, governa-o e move-o pela sua potência e virtude.
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