Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 3, 13-35
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Evangelho: Mc 3, 13-35
13 Tendo subido a um monte,
chamou a Si os que quis, e aproximaram-se d'Ele.
14 Escolheu doze para que
andassem com Ele e para os enviar a pregar, 15 com poder de expulsar
os demónios: 16 Simão, a quem pôs o nome de Pedro; 17
Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de
Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; 18 e André, Filipe,
Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, 19
e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou. 20 Depois, foi para
casa e de novo acorreu tanta gente, que nem sequer podiam tomar alimento. 21
Quando os Seus parentes ouviram isto, foram para tomar conta d'Ele; porque
diziam: «Está louco». 22 Os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: «Está possesso
de Belzebu, e é pelo poder do príncipe dos demónios que expulsa os demónios». 23
Jesus, tendo-os chamado, dizia-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar
Satanás? 24 Se um reino está dividido contra si mesmo, tal reino não
pode subsistir. 25 E se uma casa está dividida contra si mesma, tal
casa não pode subsistir. 26 Se, pois, Satanás se levanta contra si
mesmo, o seu reino está dividido e não poderá subsistir, antes está para
acabar. 27 Ninguém pode entrar na casa dum homem forte, para roubar
os seus bens, se primeiro não o amarrar. Então saqueará a sua casa. 28
Na verdade vos digo que serão perdoados aos filhos dos homens todos os pecados
e todas as blasfémias que proferirem; 29 porém, o que blasfemar
contra o Espírito Santo, jamais terá perdão; mas será réu de pecado eterno». 30
Jesus falou assim por terem dito: «Está possesso dum espírito imundo». 31 Nisto chegaram Sua mãe e Seus irmãos, os quais, ficando fora, O
mandaram chamar. 32 Estava muita gente sentada à volta d'Ele.
Disseram-Lhe: «Eis que Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e procuram-Te». 33
Ele respondeu-lhes: «Quem é Minha mãe e quem são Meus irmãos?». 34
E, olhando para os que estavam sentados à volta d'Ele, disse: «Eis Minha mãe e
Meus irmãos. 35 Porque quem fizer a vontade de Deus, esse é Meu
irmão, Minha irmã e Minha mãe».
CARTA ENCÍCLICA
ECCLESIA DE EUCHARISTIA
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS
SOBRE A EUCARISTIA
NA SUA RELAÇÃO COM A IGREJA
…/2
13. Em virtude da sua íntima
relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido
próprio, e não apenas em sentido genérico como se se tratasse simplesmente da
oferta de Cristo aos fiéis para seu alimento espiritual. Com efeito, o dom do
seu amor e da sua obediência até ao extremo de dar a vida (cf. Jo
10,17-18) é em primeiro lugar um dom a seu Pai. Certamente, é um dom em
nosso favor, antes em favor de toda a humanidade (cf. Mt 26, 28; Mc 14,
24; Lc 22, 20; Jo 10, 15), mas primariamente um dom ao Pai: «Sacrifício
que o Pai aceitou, retribuindo esta doação total de seu Filho, que Se fez
“obediente até à morte” (Flp 2, 8), com a sua doação paterna, ou
seja, com o dom da nova vida imortal na ressurreição».
Ao entregar à Igreja o seu
sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício espiritual da Igreja,
chamada por sua vez a oferecer-se a si própria juntamente com o sacrifício de
Cristo. Assim no-lo ensina o Concílio
Vaticano II: «Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte
e centro de toda a vida cristã, (os fiéis) oferecem a Deus a vítima divina e a
si mesmos juntamente com ela». [2]
14. A Páscoa de Cristo
inclui, juntamente com a paixão e morte, a sua ressurreição. Assim o lembra a
aclamação da assembleia depois da consagração: «Proclamamos a vossa
ressurreição». Com efeito, o sacrifício eucarístico torna presente não só o
mistério da paixão e morte do Salvador, mas também o mistério da ressurreição,
que dá ao sacrifício a sua coroação. Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo
pode tornar-Se «pão da vida» (Jo 6, 35.48), «pão vivo» (Jo 6,
51), na Eucaristia. S. Ambrósio lembrava aos neófitos esta verdade,
aplicando às suas vidas o acontecimento da ressurreição: «Se hoje Cristo é teu,
Ele ressuscita para ti cada dia». [3]
Por sua vez, S. Cirilo de Alexandria sublinhava que a participação nos santos
mistérios «é uma verdadeira confissão e recordação de que o Senhor morreu e
voltou à vida por nós e em nosso favor». [4]
15. A reprodução sacramental
na Santa Missa do sacrifício de Cristo coroado pela sua ressurreição implica
uma presença muito especial, que – para usar palavras de Paulo VI – «chama-se
“real”, não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem “reais”,
mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente
Cristo completo, Deus e homem». [5]
Reafirma-se assim a doutrina sempre válida do Concílio de Trento: «Pela consagração do pão e do vinho opera-se a
conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso
Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta
mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado,
transubstanciação». [6]
Verdadeiramente a Eucaristia é mysterium
fidei, mistério que supera os nossos pensamentos e só pode ser aceite pela
fé, como lembram frequentemente as catequeses patrísticas sobre este sacramento
divino. «Não hás-de ver – exorta S. Cirilo de Jerusalém – o pão e o vinho (consagrados)
simplesmente como elementos naturais, porque o Senhor disse expressamente que
são o seu corpo e o seu sangue: a fé to assegura, ainda que os sentidos possam
sugerir-te outra coisa». [7]
«Adoro te devote, latens Deitas»: continuaremos a cantar com S.
Tomás, o Doutor Angélico. Diante deste mistério de amor, a razão humana experimenta
toda a sua limitação. Compreende-se como, ao longo dos séculos, esta verdade
tenha estimulado a teologia a árduos esforços de compreensão.
São esforços louváveis,
tanto mais úteis e incisivos se capazes de conjugarem o exercício crítico do
pensamento com a «vida de fé» da Igreja, individuada especialmente «no carisma
da verdade» do Magistério e na «íntima inteligência que experimentam das coisas
espirituais» [8]
sobretudo os Santos. Permanece o limite apontado por Paulo VI: «Toda a
explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para
estar de acordo com a fé católica deve assegurar que na sua realidade
objectiva, independentemente do nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de
existir depois da consagração, de modo que a partir desse momento são o corpo e
o sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes diante de nós
sob as espécies sacramentais do pão e do vinho». [9]
16. A eficácia salvífica do
sacrifício realiza-se plenamente na comunhão, ao recebermos o corpo e o sangue
do Senhor. O sacrifício eucarístico está particularmente orientado para a união
íntima dos fiéis com Cristo através da comunhão: recebemo-Lo a Ele mesmo que Se
ofereceu por nós, o seu corpo entregue por nós na cruz, o seu sangue «derramado
por muitos para a remissão dos pecados» (Mt 26, 28). Recordemos as
suas palavras: «Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, assim
também o que Me come viverá por Mim» (Jo 6, 57). O próprio Jesus nos
assegura que tal união, por Ele afirmada em analogia com a união da vida
trinitária, se realiza verdadeiramente. A Eucaristia é verdadeiro banquete,
onde Cristo Se oferece como alimento. A primeira vez que Jesus anunciou este
alimento, os ouvintes ficaram perplexos e desorientados, obrigando o Mestre a
insistir na dimensão real das suas palavras: «Em verdade, em verdade vos digo:
Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós» (Jo 6, 53). Não se trata de alimento em
sentido metafórico, mas «a minha carne é, em verdade, uma comida, e o meu
sangue é, em verdade, uma bebida» (Jo 6, 55).
17. Através da comunhão do
seu corpo e sangue, Cristo comunica-nos também o seu Espírito. Escreve S.
Efrém: «Chamou o pão seu corpo vivo, encheu-o de Si próprio e do seu Espírito. (...)
E aquele que o come com fé, come Fogo e Espírito. (...) Tomai e comei-o todos;
e, com ele, comei o Espírito Santo. De facto, é verdadeiramente o meu corpo, e
quem o come viverá eternamente». [10]
A Igreja pede este Dom divino, raiz de todos os outros dons, na epiclese
eucarística. Assim reza, por exemplo, a Divina Liturgia de S. João Crisóstomo:
«Nós vos invocamos, pedimos e suplicamos: enviai o vosso Santo Espírito sobre
todos nós e sobre estes dons, (...) para que sirvam a quantos deles
participarem de purificação da alma, remissão dos pecados, comunicação do
Espírito Santo». [11]
E, no Missal Romano, o celebrante suplica: «Fazei que, alimentando-nos do Corpo
e Sangue do vosso Filho, cheios do seu Espírito Santo, sejamos em Cristo um só
corpo e um só espírito». [12]
Assim, pelo dom do seu corpo e sangue, Cristo aumenta em nós o dom do seu
Espírito, já infundido no Baptismo e recebido como «selo» no sacramento da
Confirmação.
18. A aclamação do povo
depois da consagração termina com as palavras «Vinde, Senhor Jesus», justamente
exprimindo a tensão escatológica que caracteriza a celebração eucarística (cf.
1 Cor 11, 26). A Eucaristia é tensão para a meta, antegozo da alegria
plena prometida por Cristo (cf. Jo 15, 11); de certa forma, é
antecipação do Paraíso, «penhor da futura glória». [13]
A Eucaristia é celebrada na ardente expectativa de Alguém, ou seja, «enquanto
esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo nosso Salvador». [14]
Quem se alimenta de Cristo na Eucaristia não precisa de esperar o Além para
receber a vida eterna: já a possui na terra, como primícias da plenitude
futura, que envolverá o homem na sua totalidade. De facto, na Eucaristia
recebemos a garantia também da ressurreição do corpo no fim do mundo: «Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei
no último dia» (Jo 6, 54). Esta garantia da ressurreição futura
deriva do facto de a carne do Filho do Homem, dada em alimento, ser o seu corpo
no estado glorioso de ressuscitado. Pela Eucaristia, assimila-se, por assim
dizer, o «segredo» da ressurreição. Por isso, S. Inácio de Antioquia justamente
definia o Pão eucarístico como «remédio de imortalidade, antídoto para não
morrer». [15]
19. A tensão escatológica
suscitada pela Eucaristia exprime e consolida a comunhão com a Igreja celeste.
Não é por acaso que, nas Anáforas orientais e nas Orações Eucarísticas latinas,
se lembra com veneração Maria sempre Virgem, Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus
Cristo, os anjos, os santos apóstolos, os gloriosos mártires e todos os santos.
Trata-se dum aspecto da Eucaristia que merece ser assinalado: ao celebrarmos o
sacrifício do Cordeiro unimo-nos à liturgia celeste, associando-nos àquela
multidão imensa que grita: «A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado
no trono, e ao Cordeiro» (Ap 7, 10). A Eucaristia é verdadeiramente
um pedaço de céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém
celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso
caminho.
20. Consequência
significativa da tensão escatológica presente na Eucaristia é o estímulo que dá
à nossa caminhada na história, lançando uma semente de activa esperança na
dedicação diária de cada um aos seus próprios deveres. De facto se a visão
cristã leva a olhar para o «novo céu» e a «nova terra» (Ap 21, 1),
isso não enfraquece, antes estimula o nosso sentido de responsabilidade pela
terra presente. [16]
Desejo reafirmá-lo com vigor ao início do novo milénio, para que os cristãos se
sintam ainda mais decididos a não descurar os seus deveres de cidadãos
terrenos. Têm o dever de contribuir com a luz do Evangelho para a edificação de
um mundo à medida do homem e plenamente conforme ao desígnio de Deus.
Muitos são os problemas que
obscurecem o horizonte do nosso tempo. Basta pensar quanto seja urgente
trabalhar pela paz, colocar sólidas premissas de justiça e solidariedade nas
relações entre os povos, defender a vida humana desde a concepção até ao seu
termo natural. E também que dizer das mil contradições dum mundo ‘globalizado’,
onde parece que os mais débeis, os mais pequenos e os mais pobres pouco podem
esperar? É neste mundo que tem de brilhar a esperança cristã! Foi também para
isto que o Senhor quis ficar connosco na Eucaristia, inserindo nesta sua
presença sacrificial e comensal a promessa duma humanidade renovada pelo seu
amor. É significativo que, no lugar onde os Sinópticos narram a instituição da
Eucaristia, o evangelho de João proponha, ilustrando assim o seu profundo
significado, a narração do «lava-pés», gesto este que faz de Jesus mestre de
comunhão e de serviço (cf. Jo 13, 1-20). O apóstolo Paulo, por sua
vez, qualifica como «indigna» duma comunidade cristã a participação na Ceia do
Senhor que se verifique num contexto de discórdia e de indiferença pelos pobres
(cf. 1 Cor 11, 17-22.27-34). [17]
Anunciar a morte do Senhor
«até que Ele venha» (1 Cor 11, 26) inclui, para os que participam na
Eucaristia, o compromisso de transformarem a vida, de tal forma que esta se
torne, de certo modo, toda «eucarística». São precisamente este fruto de
transfiguração da existência e o empenho de transformar o mundo segundo o
Evangelho que fazem brilhar a tensão escatológica da celebração eucarística e
de toda a vida cristã: «Vinde, Senhor Jesus!» (cf. Ap 22, 20).
CAPÍTULO II
A EUCARISTIA EDIFICA A IGREJA
21. O Concílio Vaticano II veio recordar que a celebração eucarística
está no centro do processo de crescimento da Igreja. De facto, depois de
afirmar que «a Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério,
cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus», [18]
querendo de algum modo responder à questão sobre o modo como cresce,
acrescenta: «Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual
“Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1 Cor 5, 7), realiza-se também
a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é
representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em
Cristo (cf. 1 Cor 10, 17)». [19]
Existe um influxo causal da
Eucaristia nas próprias origens da Igreja. Os evangelistas especificam que
foram os Doze, os Apóstolos, que estiveram reunidos com Jesus na Última Ceia (cf.
Mt 26, 20; Mc 14, 17; Lc 22, 14). Trata-se de um detalhe de notável
importância, porque os Apóstolos «foram a semente do novo Israel e ao mesmo
tempo a origem da sagrada Hierarquia». [20]
Ao oferecer-lhes o seu corpo e sangue como alimento, Cristo envolvia-os
misteriosamente no sacrifício que iria consumar-se dentro de poucas horas no
Calvário. De modo análogo à aliança do Sinai, que foi selada com um sacrifício
e a aspersão do sangue, [21]
os gestos e as palavras de Jesus na Última Ceia lançavam os alicerces da nova
comunidade messiânica, povo da nova aliança.
No Cenáculo, os Apóstolos,
tendo aceite o convite de Jesus: «Tomai, comei (...). Bebei todos dele » (Mt
26, 26.27), entraram pela primeira vez em comunhão sacramental com Ele.
Desde então e até ao fim dos séculos, a Igreja edifica-se através da comunhão
sacramental com o Filho de Deus imolado por nós: «Fazei isto em minha memória (...).
Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em minha memória» (1 Cor 11, 24-25;
cf. Lc 22, 19).
22. A incorporação em
Cristo, realizada pelo Baptismo, renova-se e consolida-se continuamente através
da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a
comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada um de nós recebe Cristo,
mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade
connosco: «Chamei-vos amigos» (Jo 15, 14). Mais ainda, nós vivemos
por Ele: «O que Me come viverá por Mim» (Jo 6, 57). Na comunhão
eucarística, realiza-se de modo sublime a inabitação mútua de Cristo e do
discípulo: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4).
Unindo-se a Cristo, o povo
da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se «sacramento»
para a humanidade, [22]
sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da
terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos. [23]
A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me
enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21). Por isso, a Igreja
tira a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão da
perpetuação do sacrifício da cruz na Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue
de Cristo. Deste modo, a Eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente
vértice de toda a evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com
Cristo e, n'Ele, com o Pai e com o Espírito Santo. [24]
23. Pela comunhão
eucarística, a Igreja é consolidada igualmente na sua unidade de corpo de
Cristo. A este efeito unificador que tem a participação no banquete
eucarístico, alude S. Paulo quando diz aos coríntios: «O pão que partimos não é
a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo
muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão» (1
Cor 10, 16-17). Concreto e profundo, S. João Crisóstomo comenta: «Com
efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que
o recebem? No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De facto,
tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora
não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu
devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos
reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo». [25]
A argumentação é linear: a nossa união com Cristo, que é dom e graça para cada
um, faz com que, n'Ele, sejamos parte também do seu corpo total que é a Igreja.
A Eucaristia consolida a incorporação em Cristo operada no Baptismo pelo dom do
Espírito (cf. 1 Cor 12, 13.27).
A acção conjunta e
indivisível do Filho e do Espírito Santo, que está na origem da Igreja, tanto
da sua constituição como da sua continuidade, opera na Eucaristia. Bem ciente
disto, o autor da Liturgia de S. Tiago, na epiclese da anáfora, pede a Deus Pai
que envie o Espírito Santo sobre os fiéis e sobre os dons, para que o corpo e o
sangue de Cristo «sirvam a todos os que deles participarem (...) de
santificação para as almas e os corpos». [26]
A Igreja é fortalecida pelo Paráclito divino através da santificação
eucarística dos fiéis.
24. O dom de Cristo e do seu
Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena e sobre
abundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao
mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum
na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência
dum banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada
vez mais profundamente ser, «em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o
instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano». [27]
Aos germes de desagregação
tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como demonstra a experiência
quotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade do corpo de Cristo. A
Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo comunidade entre os
homens.
25. O culto prestado à
Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está
ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico. A presença de
Cristo nas hóstias consagradas que se conservam após a Missa – presença essa
que perdura enquanto subsistirem as espécies do pão do vinho [28]
– resulta da celebração da Eucaristia e destina-se à comunhão, sacramental e
espiritual. [29]
Compete aos Pastores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto
eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também
as visitas de adoração a Cristo presente sob as espécies eucarísticas [30]
É bom demorar-se com Ele e,
inclinado sobre o seu peito como o discípulo predilecto (cf. Jo 13, 25),
deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se actualmente o
cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela «arte da oração», [31]
como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo
espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no
Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta
experiência, recebendo dela força, consolação, apoio!
Desta prática, muitas vezes
louvada e recomendada pelo Magistério, [32]
deram-nos o exemplo numerosos Santos. De modo particular, distinguiu-se nisto
S. Afonso Maria de Ligório, que escrevia: «A devoção de adorar Jesus
sacramentado é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais
agradável a Deus e a mais útil para nós». [33]
A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o
permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria fonte da
graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar melhor o rosto de Cristo,
segundo o espírito que sugeri nas Cartas
Apostólicas Novo millennio ineunte e Rosarium Virginis Mariæ, não pode
deixar de desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual
perduram e se multiplicam os frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor.
CAPÍTULO III
A APOSTOLICIDADE DA EUCARISTIA E DA IGREJA
26. Se a Eucaristia edifica
a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia, como antes recordei, consequentemente há
entre ambas uma conexão estreitíssima, podendo nós aplicar ao mistério
eucarístico os atributos que dizemos da Igreja quando professamos, no Símbolo
Niceno-Constantinopolitano, que é «una, santa, católica e apostólica». Também a
Eucaristia é una e católica; e é santa, antes, é o Santíssimo Sacramento. Mas é
principalmente sobre a sua apostolicidade que agora queremos concentrar a nossa
atenção.
27. Quando o Catecismo da
Igreja Católica explica em que sentido a Igreja se diz apostólica, ou seja,
fundada sobre os Apóstolos, individua na expressão um tríplice sentido. O
primeiro significa que a Igreja «foi e continua a ser construída sobre o
“alicerce dos Apóstolos” (Ef 2, 20), testemunhas escolhidas e
enviadas em missão pelo próprio Cristo». [34]
Ora, no caso da Eucaristia, os Apóstolos também estão na sua base: naturalmente
o sacramento remonta ao próprio Cristo, mas foi confiado por Jesus aos
Apóstolos e depois transmitido por eles e seus sucessores até nós. É em
continuidade com a acção dos Apóstolos e obedecendo ao mandato do Senhor que a
Igreja celebra a Eucaristia ao longo dos séculos.
O segundo sentido que o
Catecismo indica para a apostolicidade da Igreja é este: ela «guarda e
transmite, com a ajuda do Espírito Santo que nela habita, a doutrina, o bom
depósito, as sãs palavras recebidas dos Apóstolos». [35]
Também neste sentido a Eucaristia é apostólica, porque é celebrada de acordo
com a fé dos Apóstolos. Diversas vezes na história bimilenária do povo da nova
aliança, o magistério eclesial especificou a doutrina eucarística, nomeadamente
quanto à sua exacta terminologia, precisamente para salvaguardar a fé
apostólica neste excelso mistério. Esta fé permanece imutável, e é essencial
para a Igreja que assim continue.
28. Por último, a Igreja é apostólica
enquanto «continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos Apóstolos até
ao regresso de Cristo, graças àqueles que lhes sucedem no ofício pastoral: o
Colégio dos Bispos, assistido pelos presbíteros, em união com o Sucessor de
Pedro, Pastor supremo da Igreja». [36]
Para suceder aos Apóstolos na missão pastoral é necessário o sacramento da
Ordem, graças a uma série ininterrupta, desde as origens, de Ordenações
episcopais válidas. [37]
Esta sucessão é essencial, para que exista a Igreja em sentido próprio e pleno.
A Eucaristia apresenta
também este sentido da apostolicidade. De facto, como ensina o Concílio Vaticano II, «os fiéis por sua
parte concorrem para a oblação da Eucaristia, em virtude do seu sacerdócio
real», [38]
mas é o sacerdote ministerial que «realiza o sacrifício eucarístico fazendo as
vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo». [39]
Por isso se prescreve no Missal Romano que seja unicamente o sacerdote a
recitar a oração eucarística, enquanto o povo se lhe associa com fé e em
silêncio. [40]
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
[1] João Paulo II, Carta enc. Redemptor hominis (15 de
Março de 1979), 20: AAS 71 (1979), 310.
[2] Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11.
[3] De Sacramentis, V, 4, 26: CSEL 73, 70.
[4] Comentário ao Evangelho de João, XII, 20: PG 74, 726.
[5] Carta enc. Mysterium fidei (3 de Setembro de 1965):
AAS 57 (1965), 764.
[6] Sess. XIII, Decretum de ss. Eucharistia, cap. 4: DS 1642.
[7] Catequeses mistagógicas, IV, 6: SCh 126, 138.
[8] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a divina
Revelação Dei Verbum, 8.
[9]Solene profissão de fé (30 de Junho de
1968), 25: AAS 60 (1968), 442-443.
[10] Homilia IV para a Semana Santa: CSCO
413 / Syr. 182, 55.
[11] Anáfora.
[12] Oração Eucarística III.
[13]Antífona do Magnificat nas II Vésperas da Solenidade do
SS. Corpo e Sangue de Cristo.
[14] Missal Romano, Embolismo depois do Pai Nosso.
[15] Carta aos Efésios, 20: PG 5, 661.
[16] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja
no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 39.
[17] «Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que
seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir,
nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora o abandonas ao
frio e à nudez. Aquele que disse: «Isto é o meu Corpo», [...] também afirmou:
«Vistes-Me com fome e não me destes de comer», e ainda: «Na medida em que o
recusastes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o recusastes. [...]
De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se Ele
morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer a quem tem fome, e
depois ornamenta a sua mesa com o que sobra»: S. João Crisóstomo, Homilias
sobre o Evangelho de Mateus, 50, 3-4: PG 58, 508-509; cf. João Paulo II, Carta
enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 31: AAS 80 (1988),
553-556.
[18] Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 3.
[19] Ibid., 3.
[20] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre a actividade
missionária da Igreja Ad gentes, 5.
[21] «Moisés tomou o sangue e aspergiu com ele o povo,
dizendo: “Este é o sangue da aliança que o Senhor concluiu convosco mediante
todas estas palavras”» (Ex 24, 8).
[22] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen
gentium, 1.
[23] Cf. ibid., 9.
[24] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ministério e a
vida dos sacerdotes Presbyterorum ordinis, 5. No n. 6 do mesmo decreto, lê-se:
«Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na
celebração da santíssima Eucaristia».
[25] Homilias sobre a I Carta aos Coríntios, 24, 2: PG 61,
200; cf. Didaké, IX, 4: F. X. Funk, I, 22; S. Cipriano, Epistula LXIII, 13: PL
4, 384.
[26]Patrologia Orientalis, 26, 206.
[27] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen
gentium, 1.
[28] Cf. Conc. Ecum. de Trento, Sess.
XIII, Decretum de ss. Eucharistia, cân. 4: DS 1654.
[29] Cf. Ritual Romano: Sagrada Comunhão e Culto do
Mistério Eucarístico fora da Missa, n. 80.
[30] Cf. ibid., nn. 86-90.
[31] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de
Janeiro de 2001), 32: AAS 93 (2001), 288.
[32] «Durante o dia, os fiéis não deixem de visitar o
Santíssimo Sacramento, que se deve conservar nas igrejas, no lugar mais digno e
com as honras devidas segundo as leis litúrgicas; cada visita é prova de
gratidão, sinal de amor e dever de adoração a Cristo ali presente»: Paulo VI,
Carta enc. Mysterium fidei (3 de Setembro de 1965): AAS 57 (1965), 771.
[33] Visitas ao Santíssimo Sacramento e a Maria Santíssima,
Introdução: Obras Ascéticas (Avelino 2000), 295.
[34] N. 857.
[35] 2Ibid., 857.
[36] Ibid., 857.
[37] Cf. Congr. para a Doutrina da Fé, Carta sobre algumas
questões concernentes ao ministro da Eucaristia Sacerdotium ministeriale (6 de
Agosto de 1983), III, 2: AAS 75 (1983), 1005.
[38] Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 10.
[39] Ibid., 10.
[40] Cf. Institutio generalis (editio typica tertia), n.
147.
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