23/07/2012

Leitura espiritual para 23 Jul 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 1, 1-22


1 Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. 2 Conforme está escrito na profecia de Isaías: “Eis que envio o Meu mensageiro diante de Ti, o qual preparará o Teu caminho”. 3 Voz do que brada no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas”. 4 Apareceu João Baptista no deserto, pregando o baptismo de penitência para remissão dos pecados. 5 E ia ter com ele toda a região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. 6 Andava João vestido de pêlo de camelo, trazia um cinto de couro atado à volta dos rins e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 7 E pregava, dizendo: «Depois de mim vem Quem é mais forte do que eu, a Quem eu não sou digno de me inclinar para Lhe desatar as correias das sandálias. 8 Eu tenho-vos baptizado em água, Ele, porém, baptizar-vos-á no Espírito Santo». 9 Ora aconteceu naqueles dias que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. 10 No momento de sair da água, viu os céus abertos e o Espírito Santo que descia sobre Ele em forma de pomba; 11 e ouviu-se dos céus uma voz: «Tu és o Meu Filho amado, em Ti pus as Minhas complacências». 12 Imediatamente o Espírito impeliu Jesus para o deserto. 13 E permaneceu no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos O serviam. 14 Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus 15 e dizendo: «Completou-se o tempo e aproxima-se o reino de Deus; arrependei-vos e acreditai no Evangelho». 16 Passando junto do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus disse-lhes: «Vinde após Mim e Eu vos farei pescadores de homens». 18 Imediatamente, deixadas as redes, seguiram-n'O. 19 Prosseguindo um pouco, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam também numa barca a consertar as redes. Chamou-os logo. 20 Eles, tendo deixado na barca seu pai Zebedeu com os jornaleiros, seguiram-n'O. 21 Depois foram a Cafarnaum; e Jesus, tendo entrado no sábado na sinagoga, ensinava. 22 Os ouvintes ficavam admirados com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.





Ioannes Paulus PP. II
Ut unum sint
sobre o Empenho Ecuménico
…/6

Relações com as antigas Igrejas do Oriente

62. Desde o Concílio Vaticano II em diante, a Igreja Católica, com modalidades e ritmos diversos, estreitou relações fraternas também com aquelas antigas Igrejas do Oriente, que contestaram as fórmulas dogmáticas dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia. Todas estas Igrejas enviaram observadores como delegados ao Concílio Vaticano II; os seus Patriarcas honraram-nos com a sua visita, e o Bispo de Roma pôde falar com eles como a irmãos que, após longo tempo, felizes se reencontram.

O restabelecimento das relações fraternas com as antigas Igrejas do Oriente, testemunhas da fé cristã muitas vezes em situações hostis e trágicas, é um sinal concreto de quanto Cristo nos una, não obstante as barreiras históricas, políticas, sociais e culturais. E precisamente a propósito do tema cristológico, pudemos, juntamente com os Patriarcas de algumas destas Igrejas, declarar a nossa fé comum em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O Papa Paulo VI, de veneranda memória, tinha assinado declarações neste sentido com Sua Santidade Shenouda III, Papa e Patriarca copto ortodoxo, 103 e com o Patriarca siro ortodoxo de Antioquia, Sua Santidade Jacoub III. 104 Eu mesmo pude confirmar esse acordo cristológico e tirar as suas consequências: para o desenvolvimento do diálogo, com o Papa Shenouda, 105 e para a colaboração pastoral, com o Patriarca siro de Antioquia Mar Ignazio Zakka I Iwas. 106

Com o venerável Patriarca da Igreja da Etiópia, Abuna Paulos, que me veio visitar a Roma no dia 11 de Junho de 1993, sublinhámos a profunda comunhão existente entre as nossas duas Igrejas: «Compartilhamos a fé transmitida pelos Apóstolos, bem como os mesmos sacramentos e o mesmo ministério, radicados na sucessão apostólica (...). Hoje, aliás, podemos afirmar que temos uma só fé em Cristo, apesar de por longo tempo isto ter sido uma fonte de divisão entre nós». 107

Mais recentemente, o Senhor deu-me a alegria imensa de subscrever uma declaração cristológica comum com o Patriarca Assírio do Oriente, Sua Santidade Mar Dinkha IV, que, por este motivo, quis visitar-me em Roma, no mês de Novembro de 1994. Tendo em conta certas formulações teológicas diferenciadas, pudemos assim professar juntos a verdadeira fé em Cristo. 108 Quero exprimir o meu júbilo por tudo isto, com as palavras da Virgem: «A minha alma glorifica ao Senhor» (Lc 1, 46).

63. Para as tradicionais controvérsias sobre a cristologia, os contactos ecuménicos tornaram, assim, possíveis alguns esclarecimentos essenciais, a ponto de nos permitir confessar, juntos, a fé que nos é comum. Uma vez mais, há que constatar que uma aquisição tão importante é seguramente fruto da pesquisa teológica e do diálogo fraterno. E mais. Ela serve-nos de encorajamento: mostra- -nos, de facto, que o caminho percorrido é justo e que razoavelmente se pode esperar encontrar juntos a solução para as outras questões controversas.

Diálogo com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais no Ocidente

64. No amplo plano traçado para a restauração da unidade entre todos os cristãos, o Decreto sobre o ecumenismo toma igualmente em consideração as relações com as Igrejas e Comunidades eclesiais do Ocidente. Com o intuito de instaurar um clima de fraternidade cristã e de diálogo, o Concílio situa as suas indicações no âmbito de duas considerações de ordem geral: uma de carácter histórico-psicológico, e outra de carácter teológico-doutrinal. Por um lado, o citado documento ressalta: «As Igrejas e Comunidades eclesiais, que se separaram da Sé Apostólica Romana naquela grave perturbação iniciada no Ocidente já pelos fins da Idade Média, ou em tempos posteriores, continuam, contudo, ligadas à Igreja Católica pelos laços de uma peculiar afinidade devida à longa convivência do povo cristão na comunidade eclesiástica durante os séculos passados». 109 Por outro lado e com igual realismo, constata-se: «É preciso, contudo, reconhecer que entre estas Igrejas e Comunidades e a Igreja Católica há discrepâncias consideráveis, não só de índole histórica, sociológica, psicológica, cultural, mas sobretudo de interpretação da verdade revelada». 110

65. Comuns são as raízes, tal como semelhantes, apesar das diferenças, são as orientações que guiaram no Ocidente o desenvolvimento da Igreja Católica e das Igrejas e Comunidades saídas da Reforma. Consequentemente possuem uma característica ocidental comum. As «discrepâncias» acima acenadas, ainda que importantes, não excluem, portanto, influências e complementaridade recíproca.

O movimento ecuménico teve início precisamente no âmbito das Igrejas e Comunidades da Reforma. Contemporaneamente, estava-se em Janeiro de 1920, o Patriarca Ecuménico tinha formulado votos de que se organizasse uma colaboração entre as Comunhões cristãs. Este facto demonstra que a incidência do contexto cultural não é decisiva. Essencial é, pelo contrário, a questão da fé. A oração de Cristo, nosso único Senhor, Redentor e Mestre, interpela a todos do mesmo modo, tanto no Oriente como no Ocidente. Torna-se um imperativo que obriga a abandonar as divisões para buscar e reencontrar a unidade, impelidos inclusivamente pelas próprias amargas experiências da divisão.

66. O Concílio Vaticano II não tenta fazer a «descrição» do cristianismo saído da Reforma, já que as «Igrejas e Comunidades eclesiais (...) não só diferem de nós mas também diferem consideravelmente entre si», e isto «por causa da diversidade de origem, doutrina e vida espiritual». 111 Além disso, o mesmo Decreto observa que o movimento ecuménico e o desejo de paz com a Igreja Católica ainda não alastrou por toda a parte. 112 Mas, independentemente destas circunstâncias, o Concílio propõe o diálogo.

O Decreto conciliar procura, depois, «expor (...) alguns pontos que podem e devem ser o fundamento e o incentivo deste diálogo». 113

«Consideramos (...) aqueles cristãos que, para glória de Deus único, Pai e Filho e Espírito Santo, abertamente confessam Jesus Cristo como Deus e Senhor e único mediador entre Deus e os homens». 114

Estes irmãos promovem o amor e a veneração pela Sagrada Escritura: «Invocando o Espírito Santo, na própria Sagrada Escritura, procuram a Deus que lhes fala em Cristo anunciado pelos profetas, Verbo de Deus por nós encarnado. Nela contemplam a vida de Cristo e aquilo que o divino Mestre ensinou e realizou para a salvação dos homens, sobretudo os mistérios da sua morte e ressurreição. (...) Afirmam a autoridade divina da Sagrada Escritura». 115

Ao mesmo tempo, contudo, pensam «diferentemente de nós (...) sobre a relação entre a Escritura e a Igreja. Na Igreja, segundo a fé católica, o magistério autêntico tem lugar peculiar na exposição e pregação da palavra de Deus escrita». 116 Apesar disso, «no (...) diálogo, a Sagrada Escritura é um exímio instrumento na poderosa mão de Deus para a consecução daquela unidade que o Salvador oferece a todos os homens». 117

Além disso, o sacramento do Baptismo, que temos em comum, representa «o vínculo sacramental da unidade que liga todos os que foram regenerados por ele». 118 As implicações teológicas, pastorais e ecuménicas do Baptismo comum são muitas e importantes. Embora de per si constitua apenas «o início e o exórdio», este sacramento «ordena-se à completa profissão da fé, à íntegra incorporação na obra da salvação, tal como o próprio Cristo o quis, e finalmente à total inserção na comunhão eucarística». 119

67. Apareceram divergências doutrinais e históricas do tempo da Reforma, a propósito da Igreja, dos sacramentos e do Ministério ordenado. Por isso, o Concílio requer que «se tome como objecto do diálogo a doutrina sobre a Ceia do Senhor, sobre os outros sacramentos, sobre o culto e sobre os ministérios da Igreja». 120

Ao assinalar que às Comunidades saídas da Reforma falta «a unidade plena connosco proveniente do baptismo», o Decreto Unitatis redintegratio observa que elas não conservaram «a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, sobretudo por causa da falta do sacramento da Ordem», mas «quando na santa Ceia comemoram a morte e a ressurreição do Senhor, elas confessam ser significada a vida na comunhão de Cristo e esperam o seu glorioso advento». 121

68. O Decreto não esquece a vida espiritual e as consequências morais: «A vida cristã destes irmãos alimenta-se da fé em Cristo e é fortalecida pela graça do baptismo e pela escuta da palavra de Deus. Manifesta-se na oração privada, na meditação bíblica, na vida familiar cristã, no culto da comunidade congregada para o louvor de Deus. Aliás, o culto deles contém por vezes notáveis elementos da antiga Liturgia comum». 122

O documento conciliar, aliás, não se limita a estes aspectos espirituais, morais e culturais, mas regista com apreço também o sentimento vivo da justiça e da sincera caridade para com o próximo, que estão presentes nestes irmãos; não esquece, além disso, as suas iniciativas para tornar mais humanas as condições sociais da vida e para restabelecer a paz. Tudo isto, com a sincera vontade de aderir à palavra de Cristo enquanto fonte da vida cristã.

Deste modo, o texto põe em destaque uma problemática, no campo ético-moral, que se torna cada vez mais urgente no nosso tempo:  Muitos dentre os cristãos nem sempre entendem o Evangelho do mesmo modo que os católico ». 123 Nesta vasta matéria, há grande espaço de diálogo acerca dos princípios morais do Evangelho e das suas aplicações.


69. Os votos e o convite do Concílio Vaticano II foram postos em prática, tendo-se iniciado progressivamente o diálogo teológico bilateral com as várias Igrejas e Comunidades cristãs mundiais do Ocidente.

Quanto ao diálogo plurilateral, já em 1964 tinha início o processo da constituição de um «Grupo Misto de Trabalho» com o Conselho Ecuménico das Igrejas e, desde 1968, teólogos católicos começaram a tomar parte, como membros de pleno direito, no Departamento teológico do referido Conselho, a Comissão «Fé e Constituição».

O diálogo foi fecundo e rico de promessas, e continua a sê-lo. Os temas sugeridos pelo Decreto conciliar como matéria de diálogo, foram já enfrentados ou sê-lo-ão brevemente. A reflexão ao nível dos vários diálogos bilaterais, com uma dedicação que merece o elogio de toda a comunidade ecuménica, concentrou-se sobre muitas questões controversas, como o Baptismo, a Eucaristia, o Ministério ordenado, a sacramentalidade e a autoridade da Igreja, a sucessão apostólica. Foram-se delineando assim perspectivas de soluções inesperadas, mas, ao mesmo tempo, compreendeu-se como era necessário investigar mais profundamente alguns argumentos.

70. Esta busca difícil e delicada, que implica problemas de fé e respeito da consciência própria e alheia, foi acompanhada e sustentada pela oração da Igreja Católica e das outras Igrejas e Comunidades eclesiais. A oração pela unidade, já tão radicada e difundida no tecido conectivo eclesial, mostra que a importância da questão ecuménica não passa despercebida aos cristãos. Exactamente porque a busca da plena unidade exige um confronto de fé entre crentes que se apelam ao único Senhor, a oração é a fonte de iluminação acerca da verdade que se há-de acolher em toda a sua integridade.

Além disso, através da oração, a busca da unidade, longe de ficar circunscrita ao âmbito de especialistas, estende-se a todo o baptizado. Todos podem, independentemente do seu papel na Igreja e da sua formação cultural, dar um contributo activo, numa dimensão misteriosa e profunda.

Relações eclesiais

71. É preciso também dar graças à Providência divina por todos os acontecimentos que testemunham o progresso no caminho da busca da unidade. A par do diálogo teológico, há que mencionar oportunamente as outras formas de encontro, a oração em comum e a colaboração prática. O Papa Paulo VI deu um forte impulso a este processo com a sua visita à sede do Conselho Ecuménico das Igrejas, em Genebra, que teve lugar a 10 de Junho de 1969, e encontrando muitas vezes os representantes de várias Igrejas e Comunidades eclesiais. Estes contactos contribuem eficazmente para melhorar o conhecimento recíproco e fazer crescer a fraternidade cristã.

O Papa João Paulo I, durante o seu pontificado tão breve, exprimiu a vontade de continuar o caminho. 124 O Senhor concedeu-me trabalhar nesta direcção. Para além dos importantes encontros ecuménicos havidos em Roma, uma parte significativa das minhas visitas pastorais é habitualmente dedicada ao testemunho a favor da unidade dos cristãos. Algumas das minhas viagens apresentam mesmo uma «prioridade» ecuménica, especialmente em países onde as comunidades católicas estão em minoria, relativamente às Comunhões saídas da Reforma; ou em lugares onde estas últimas representam uma porção considerável dos crentes em Cristo de determinada sociedade.

72. Isto vale sobretudo para os países europeus, onde tiveram início estas divisões, e para a América do Norte. Neste contexto, e sem querer diminuir as demais visitas, merecem especial relevo, no continente europeu, as duas feitas à Alemanha, em Novembro de 1980 e em Abril-Maio de 1987 respectivamente; a visita à Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales), em Maio-Junho de 1982; à Suíça, no mês de Junho de 1984; aos Países Escandinavos e Nórdicos (Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia), onde me desloquei em Junho de 1989. Na alegria, no respeito recíproco, na solidariedade cristã e na oração, encontrei tantos e tantos irmãos, todos eles comprometidos na busca da fidelidade ao Evangelho. A constatação de tudo isto foi para mim fonte de grande encorajamento. Experimentámos a presença do Senhor entre nós.

A este propósito, queria lembrar um gesto, ditado pela caridade fraterna e repassado de profunda lucidez de fé, que vivi com intensa emoção. Passou-se nas celebrações eucarísticas, que presidi na Finlândia e na Suécia, durante a minha viagem aos Países Escandinavos e Nórdicos. No momento da comunhão, os Bispos luteranos apresentaram-se ao celebrante. Com um gesto de antemão acordado, eles quiseram demonstrar o desejo de chegar ao momento em que nós, católicos e luteranos, teremos a possibilidade de partilhar a mesma Eucaristia, e quiseram receber a bênção do celebrante. Com amor, os abençoei. O mesmo gesto, muito rico de significado, foi repetido em Roma, durante a missa que presidi, na Praça Farnese, por ocasião do VIo centenário da canonização de Santa Brígida, a 6 de Outubro de 1991.

Encontrei análogos sentimentos do outro lado do oceano, no Canadá, em Setembro de 1984; e especialmente, no mês de Setembro de 1987, nos Estados Unidos, onde se nota uma grande abertura ecuménica. É o caso — para dar um exemplo — do encontro ecuménico em Colúmbia, na Carolina do Sul, a 11 de Setembro de 1987. Já de per si é importante o facto de que se verifiquem com regularidade estes encontros entre os irmãos do «pós-Reforma» e o Papa. Estou-lhes profundamente grato, porque eles me aceitaram de boa vontade, tanto os responsáveis das várias Comunidades, como as Comunidades no seu todo. Deste ponto de vista, julgo significativa a celebração ecuménica da Palavra, realizada em Colúmbia e que teve por tema a família.

73. Motivo de grande alegria é, ainda, a constatação de como, no período pós-conciliar, abundam, nas diversas Igrejas locais, as iniciativas e acções a favor da unidade dos cristãos, as quais estendem sucessivamente a sua incidência ao nível das Conferências episcopais, de cada uma das dioceses e comunidades paroquiais, como também dos diversos ambientes e movimentos eclesiais.

Colaborações realizadas

74. «Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus» (Mt 7, 21). A coerência e a honestidade das intenções e afirmações de princípio verificam-se pela sua aplicação à vida concreta. O Decreto conciliar sobre o ecumenismo assinala que, nos outros cristãos, «a sua fé em Cristo produz frutos de louvor e acção de graças pelos benefícios recebidos de Deus. Há também, entre eles, um vivo sentido da justiça e uma sincera caridade para com o próximo». 125

O terreno, agora delineado, é fértil não apenas para o diálogo, mas também para uma activa colaboração: a «fé operosa produziu não poucas instituições para aliviar a miséria espiritual e corporal, promover a educação da juventude, tornar mais humanas as condições sociais da vida e estabelecer por toda a parte a paz». 126

A vida social e cultural oferece amplos espaços de colaboração ecuménica. Com uma frequência sempre maior, os cristãos aparecem juntos a defender a dignidade humana, a promover o bem da paz, a aplicação social do Evangelho, a tornar presente o espírito cristão nas ciências e nas artes. Eles encontram-se cada vez mais unidos, quando se trata de ir ao encontro das carências e misérias do nosso tempo: a fome, as calamidades, a injustiça social.

75. Esta cooperação, que recebe inspiração do próprio Evangelho, deixa de ser uma mera acção humanitária, para os cristãos. Mas tem a sua razão de ser na palavra do Senhor: «Tive fome e destes-Me de comer» (Mt 25, 35). Como já sublinhei, a cooperação de todos os cristãos manifesta claramente aquele grau de comunhão que existe já entre eles. 127

Assim aos olhos do mundo, a acção concorde dos cristãos na sociedade reveste o valor transparente de um testemunho prestado unanimemente ao nome do Senhor. Aquela assume também as dimensões de um anúncio, porque revela o rosto de Cristo.

As divergências doutrinais que restam, exercem uma influência negativa e põem limites também à colaboração. Porém, a comunhão de fé já existente entre os cristãos oferece uma base sólida para a sua acção conjunta não apenas no campo social, mas também no âmbito religioso.

Esta cooperação facilitará a procura da unidade. O Decreto sobre o ecumenismo observa que, por ela, «todos os que crêem em Cristo podem mais facilmente aprender como devem entender-se melhor e estimar-se mais uns aos outros, e assim se abre o caminho que leva à unidade dos cristãos». 128

76. Neste contexto, como não recordar o interesse ecuménico pela paz, que se exprime na oração e na acção com uma participação crescente dos cristãos e uma motivação teológica que pouco a pouco se vai tornando mais profunda? Nem poderia ser de outro modo. Porventura não acreditamos nós em Jesus Cristo, Príncipe da paz? Os cristãos estão cada vez mais unidos na rejeição da violência, qualquer tipo de violência, desde as guerras à injustiça social.

Somos chamados a um compromisso cada vez mais activo, a fim de se manifestar ainda mais claramente que as motivações religiosas não são a verdadeira causa dos conflitos em curso, embora infelizmente, não esteja esconjurado o risco de instrumentalizações para fins políticos e polémicos.

No ano 1986, durante a Jornada Mundial de Oração pela Paz, em Assis, os cristãos das várias Igrejas e Comunidades eclesiais invocaram, a uma só voz, o Senhor da história pela paz no mundo. Naquele dia, de modo distinto mas paralelo, rezaram pela paz também os hebreus e os representantes das religiões não cristãs, numa sintonia de sentimentos que fizeram vibrar as cordas mais profundas do espírito humano.

E não quero esquecer a Jornada de Oração pela Paz na Europa especialmente nos Balcãs, que me levou de novo como peregrino à cidade de S. Francisco, nos dias 9 e 10 de Janeiro de 1993, bem como a Missa pela Paz nos Balcãs e de modo particular na Bósnia-Herzegovina, que presidi a 23 de Janeiro de 1994 na Basílica de S. Pedro, no contexto da Semana de oração pela unidade dos cristãos.

Quando o nosso olhar percorre o mundo, a alegria invade o nosso espírito. Constatamos, de facto, que os cristãos se sentem cada vez mais interpelados pela questão da paz. Consideram-na estritamente conexa com o anúncio do Evangelho e com o advento do Reino de Deus.

Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas: (em italiano)

103 Cfr. Dichiarazione comune del Sommo Pontefice Paolo VI e di Sua Santità Shenouda III, Papa di Alessandria e Patriarca della sede di S. Marco (10 maggio 1973): AAS 65 (1973), 299-301.
104 Cfr. Dichiarazione comune del Sommo Pontefice Paolo VI e di Sua Beatitudine Mar Ignazio Jacoub III, Patriarca della Chiesa di Antiochia dei Siri e di tutto l'Oriente (27 ottobre 1971): AAS 63 (1971), 814-815.
105 Cfr. Discorso agli inviati della Chiesa Copta Ortodossa (2 giugno 1979): AAS 71 (1979), 1000-1001.
106 Cfr. Dichiarazione comune del Papa Giovanni Paolo II e di Sua Santità Moran Mar Ignazio Zakka I Iwas, Patriarca Siro-Ortodosso di Antiochia e di tutto l'Oriente (23 giugno 1984): Insegnamenti VII, 1 (1984), 1902-1906.
107 Discorso rivolto a Sua Santità Abuna Paulos, Patriarca della Chiesa Ortodossa d'Etiopia (11 giugno 1993): L'Osservatore Romano 11-12 giugno 1993, p. 4.
108 Cfr. Dichiarazione cristologica comune tra la Chiesa cattolica e la Chiesa assira dell'Oriente: L'Osservatore Romano 12 novembre 1994, p. 1.
109 Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 19.
110 Ibid.
111 Ibid., 19.
112 Cfr. ibid.
113 Ibid.
114 Ibid., 20.
115 Ibid., 21.
116 Ibid.
117 Ibid.
118 Ibid., 22.
119 Ibid.
120 Ibid., 22; cfr. 20.
121 Ibid., 22.
122 Ibid., 23.
123 Ibid.
124 Cfr. Radiomessaggio Urbi et Orbi (27 agosto 1978): AAS 70 (1978), 695-696.
125 Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 23.
126 Ibid.
127 Cfr. ibid., 12.
128 Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 12.

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