20/06/2012

Que "conspira" um santo no Céu?


Os santos, neste mundo, viveram para amar a Deus e aos outros, imitando Jesus que «passou fazendo o bem». Mas quando chegam ao céu, como diz o Catecismo da Igreja Católica, "não cessam de cuidar daqueles que ficaram na terra. (...) A sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao desígnio de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam por nós e por todo o mundo".

Com efeito, parece que Deus, no céu, lhes concede a possibilidade de continuar a missão que cumpriram aqui na terra, mas ainda com maior fecundidade. Do céu poderei ajudar-vos melhor, dizia-nos S. Josemaria no final da vida, e ao mesmo tempo pedia-nos para rezarmos por ele, para que "saltasse" o Purgatório.

Após mais de 20 anos a trabalhar perto deste santo, comprovei que ele tinha razão. A sua vida santa foi uma enorme ajuda para os que o seguiam e para tantos milhões de pessoas através dos seus livros. Mas, desde o dia em que “saltou” para o céu, a sua ajuda multiplicou-se e chegou a uma imensa multidão de corações, devido à sua intercessão junto de Deus pelas necessidades, grandes ou pequenas, de muitas pessoas. E o mais interessante: se intercede, por exemplo, para uma rapariga encontrar a lente de contacto que perdeu no autocarro, toca, ao mesmo tempo, esse coração para se abrir a Jesus Cristo.

O aspecto que mais me chamou a atenção é que os favores obtidos por S. Josemaria têm quase sempre duas facetas: não se limitam a resolver um problema, mas deixam também uma luz, um fruto espiritual nas pessoas que o invocam.

A novidade de algo por demais conhecido

A missão que Deus confiou a Josemaria Escrivá, no dia 2 de Outubro de 1928, foi fundar o Opus Dei, um caminho de santificação através do trabalho profissional e do cumprimento dos deveres quotidianos do cristão. Com Jesus, o panorama mais do que conhecido de todos os dias ganha uma novidade inesperada, uma grandeza insuspeitada, ao ser iluminado pelo amor redentor de nosso Senhor.

Ao ler as cartas que relatam graças obtidas pela intercessão de Mons. Escrivá, observa-se uma variedade assombrosa de situações: desde donas de casa oprimidas por um pequeno problema doméstico até drogados ou pessoas que se encontram perto do suicídio. Algumas cartas narram histórias terríveis: vidas destroçadas e sem saída aparente. Outras contam a luta contra doenças; há quem consiga arranjar emprego, encontrar objectos perdidos... Além disso, a maioria fala também de uma aproximação a Deus, por vezes depois de uma vida muito afastada da fé.

Favores muito... normais

Que há de comum nestes relatos? Várias coisas. Em primeiro lugar, têm pouco de "maravilhoso": não falam de fenómenos paranormais, clamorosos, embora entre os favores obtidos por intercessão de S. Josemaria não faltem factos cientificamente inexplicáveis, particularmente certas curas extraordinárias que puderam ser verificadas experimentalmente e de que se recolheram algumas noutro livro. Mas, de um modo geral, insisto, os favores atribuídos a Josemaria Escrivá são muito... "normais".

Piedade, sim; superstição, não

Essa realidade enquadra-se muito na mensagem e no modo de ser do Fundador do Opus Dei, que foi um verdadeiro "apóstolo da vida corrente". Considerava-se "pouco milagreiro" e evitava instintivamente tudo o que soava a "prodígio" ou coisa "portentosa". Em Caminho, o seu livro mais difundido, escreveu: «Não sou "milagreiro". – Disse-te já que me sobejam milagres no Santo Evangelho para firmar fortemente a minha fé” (Caminho, 583). Acreditava sobretudo nos milagres diários da Eucaristia, dos sacramentos, da graça. Do céu continuou, pois, a ensinar-nos a descobrir Jesus Cristo na vida quotidiana, para que ninguém confie temerariamente em que Deus intervirá «para resolver as consequências da inépcia ou para facilitar o nosso comodismo. O milagre que o Senhor vos pede – afirmava numa homília - é a perseverança na nossa vocação cristã e divina, a santificação do trabalho de cada dia: o milagre de converter a prosa diária em decassílabos, em verso heróico, pelo amor com que realizais a vossa ocupação habitual". (Cristo que passa, 50).

Este era também um traço muito seu: a unidade entre a vida e a fé. Parecia-lhe um contra-senso recorrer aos santos para solucionar um problema e ao mesmo tempo levar uma existência afastada de Deus, sem o mínimo desejo de se emendar. Atitude que, infelizmente, leva algumas pessoas a confundirem piedade com superstição.

Os santos são "os braços de Cristo"

O Senhor nunca passa ao largo das nossas necessidades: está sempre a estender-nos a mão. Numa igreja de Münster há um Crucifixo, grande, de madeira. Uma bomba deixou-o sem braços. E sobre a Cruz lêem-se estas palavras: "Não tenho outras mãos senão as vossas". Os santos são as mãos de que Cristo se serve para nos ajudar. Talvez este livro nos faça pensar que o Senhor nos está a pedir, também a nós, que lhe emprestemos as nossas mãos.

Mons. Joaquim Alonso, [1] prólogo do livro Favores que pedimos a los santos, Ed. Palabra, de Mons. Flavio Capucci.

Fonte: http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/que-5c22conspira5c22-um-santo-no-ceu3f


[1] Mons. Joaquim Alonso foi Consultor Teólogo da Congregação para a Causa dos Santos. Foi, durante muito tempo, um dos mais directos colaboradores de S. Josemaria no governo do Opus Dei.

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