Art. 2 — Se o anjo foi produzido por Deus abeterno.
O segundo discute-se assim. — Parece que o anjo foi
produzido por Deus abeterno.
1. — Pois, Deus, causa da existência do anjo, não age
por algo que lhe foi acrescentado à essência, mas o seu ser é eterno. Logo,
produziu os anjos abeterno.
2. Demais. — O que nem sempre existiu está sujeito ao
tempo. Ora, o anjo está fora do tempo, como diz Alberto 1. Logo, o anjo sempre existiu.
3. Demais. — Agostinho prova a incorruptibilidade da
alma por ser o intelecto capaz da verdade 2.
Ora, sendo a verdade incorruptível, é também eterna. Logo, a natureza
intelectual da alma e do anjo não só é incorruptível, mas também eterna.
Mas, em contrário, diz a Escritura da pessoa a
Sabedoria gerada (Pr 8, 22): O Senhor me possuiu no princípio de
seus caminhos, antes que criasse coisa alguma. Ora, os anjos foram feitos por
Deus, como já se demonstrou 3.
Logo, houve tempo em que eles não existiram.
Só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, existe
abeterno. Pois a fé católica indubitavelmente o ensina, sendo o contrário rejeitado
como herético. Assim, Deus produziu as criaturas por tê-las feito do nada, isto
é, depois de terem sido nada.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Sendo a essência
de Deus o seu próprio querer, de ter Ele, pela sua essência, produzido os anjos
e as outras criaturas, não se segue não as tivesse produzido pela sua vontade.
Ora, esta quer, não porém necessariamente, a produção das criaturas, como antes
ficou dito 4. Logo, produziu as
que quis e quando as quis.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O anjo não está no tempo que
numera o movimento do céu, pois está fora de todo movimento da natureza corpórea.
Não está, porém, fora do tempo que lhe numera tanto a sucessão da sua
existência, posterior à não existência, como a das suas operações. Por onde diz
Agostinho que Deus move a criatura espiritual no tempo 5.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os anjos e as almas dotadas de
intelecto, pelo fato mesmo de terem uma natureza pela qual são capazes da
verdade, são incorruptíveis. Essa natureza, porém, não a tiveram abeterno, mas
Deus lhas deu quando quis. Por onde se não segue que os anjos existissem
abeterno.
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Notas:
1. De causis (prop. 2).
2. Soliloq., lib. II, c. XIX).
3. q. 61, a. 1.
4. Q. 19, a. 3; q. 46, a. 1.
5. Super Gen. ad litt.,
lib. VIII (c. XX).
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