Após o que ficou dito da natureza, do conhecimento e da
vontade dos anjos, resta considerar-lhes a criação, ou o começo deles, em universal.
E esta consideração é tripartida. Assim, primeiro consideraremos como foi
produzido o ser natural deles. Segundo, como foram aperfeiçoados pela graça ou
pela glória. Terceiro, como alguns deles tornaram-se maus.
Sobre o primeiro ponto quatro artigos se discutem:
Art. 1. — Se os anjos são a causa da própria
existência.
Art. 2 — Se o anjo foi produzido por Deus abeterno.
Art. 3 — Se os anjos foram criados antes do mundo
corpóreo.
Art. 4 — Se os anjos foram criados no céu empíreo.
Art. 1. — Se os anjos são a causa da própria
existência.
Art. 1. — Se os
anjos são a causa da própria existência.
(Supra, q. 44, a. 1; Opusc. XV, De Angelis cap. IX,
XVII)
O primeiro discute-se assim. – Parece que os anjos não
tem causa da própria existência.
1. Pois, na Escritura (Gn 1) se trata das
coisas criadas por Deus. Ora, nela não se faz nenhuma menção dos anjos. Logo,
estes não foram criados por Deus.
2. Demais. — O filósofo diz que se houver alguma
substância que seja forma sem matéria, terá imediatamente, por si mesma, o ser
e a unidade, e não terá causa que a faça ente e una 1. Ora, os anjos são formas imateriais, como
já antes se demonstrou 2. Logo,
não tem causa da sua existência.
3. Demais. — A forma do que é feito por um agente deste
provém. Ora, os anjos, sendo formas, não recebem a forma de nenhum agente.
Logo, não tem causa agente.
Mas, em contrário, a Escritura diz (Sl 148, 2):
Louvai-o, todos os seus anjos; e depois acrescenta: Porque ele disse, e foram
feitas as coisas.
É necessário admitir-se que os anjos, bem
como todos os seres, menos Deus, foram feitos por Deus. Pois, só Ele é a
própria existência, diferindo, em todos os outros, a essência da existência,
como resulta do já visto 3.
Donde, é manifesto que só Deus é o ser pela sua essência, sendo todos os outros
seres por participação. Ora, tudo o que é por participação é causado pelo que é
por essência; assim, tudo o que é ígneo é causado pelo fogo. Por onde, é necessário
que os anjos tenham sido criados por Deus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Agostinho diz
que os anjos não foram omissos na primeira criação das coisas, mas estão
incluídos nas expressões do céu ou da luz 4.
Assim, pois, ou foram omissos ou estão incluídos em os nomes das coisas
corpóreas, porque Moisés falava a um povo rude, ainda incapaz de compreender a
natureza incorpórea. E se se lhes dissesse existirem certos seres superiores a
toda natureza corpórea, isso lhes seria ocasião de idolatria, à qual eram
inclinados, e à qual Moisés precipuamente queria arrancá-los.
RESPOSTA À SEGUNDA. — As substâncias que são formas
subsistentes não têm nenhuma causa formal da sua existência e da sua unidade,
nem causa agente, pela transmutação da matéria da potência para o acto; mas tem
causa que lhes produziu a substância total.
Donde se deduz a RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO.
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Notas:
1. VIII Metaph. (lect. V).
2. Q. 50, a. 2.
3. Q. 44, a. 1.
4. De civit. Dei, lib. XI
(cap. IX).
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