Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 14, 1-31
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Evangelho: Jo 14, 1-31
1 «Não se perturbe o vosso coração. Acreditais em Deus, acreditai também
em Mim. 2 Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vo-lo
teria dito. Vou preparar um lugar para vós. 3 Depois que Eu tiver ido e vos
tiver preparado um lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde
estou, estejais vós também. 4 E vós conheceis o caminho para ir onde Eu vou». 5
Tomé disse-Lhe: «Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos saber o
caminho?». 6 Jesus disse-lhe: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém
vai ao Pai senão por Mim. 7 Se Me conhecesseis, também certamente conheceríeis
Meu Pai; mas desde agora O conheceis e já O vistes». 8 Filipe disse-Lhe:
«Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta». 9 Jesus disse-lhe: «Há tanto
tempo que estou convosco, e ainda não Me conheces, Filipe? Quem Me viu, viu
também o Pai. Como dizes, pois: Mostra-nos o Pai? 10 Não acreditais que Eu
estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que vos digo, não as digo por
Mim mesmo. O Pai, que está em Mim, Esse é que faz as obras.11 Crede em Mim: Eu
estou no Pai e o Pai está em Mim. 12 Crede-o ao menos por causa das mesmas
obras. «Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em Mim fará também
as obras que Eu faço. Fará outras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai. 13
Tudo o que pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no
Filho. 14 Se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu a farei. 15 «Se Me amais, observareis os Meus mandamentos; 16 e Eu rogarei ao
Pai e Ele vos dará um outro Paráclito, para que fique eternamente convosco, 17
o Espírito de verdade, a Quem o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O
conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós. 18 «Não
vos deixarei órfãos; voltarei a vós. 19 Ainda um pouco, e depois já o mundo não
Me verá. Mas ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. 20 Naquele dia
conhecereis que estou em Meu Pai e vós em Mim e Eu em vós. 21 Aquele que aceita
os Meus mandamentos e os guarda, esse é que Me ama; e aquele que Me ama, será
amado por Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele». 22 Judas, não o
Iscariotes, disse-Lhe: «Senhor, qual é a causa por que Te hás-de manifestar a
nós e não ao mundo?». 23 Jesus respondeu-lhe: «Se alguém Me ama, guardará a
Minha palavra e Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele, e faremos nele a Nossa
morada. 24 Quem não Me ama não observa as Minhas palavras. E a palavra que
ouvistes não é Minha, mas do Pai que Me enviou. 25 «Disse-vos estas coisas,
estando convosco. 26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em
Meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos disse. 27 «Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz; não
vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe o vosso coração, nem se assuste. 28
Ouvistes que Eu vos disse: Vou e voltarei a vós. Se vós Me amásseis, certamente
vos alegraríeis de Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. 29 Eu
vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis. 30
Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo. Ele não pode
nada contra Mim, 31 mas é preciso que o mundo conheça que amo o Pai e que faço
como Ele Me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Ioannes
Paulus PP. II
Dominum et vivificantem
sobre
o Espírito Santo
na
Vida da Igreja e do Mundo
/…9
59.
A íntima relação com Deus, no Espírito Santo, faz com que o homem também se
compreenda de uma maneira nova a si mesmo a à sua própria humanidade. É
realizada, assim, plenamente, aquela imagem e semelhança de Deus, que o homem é
desde o princípio. 255 Esta
verdade íntima do homem deve ser continuamente redescoberta à luz de Cristo,
que é o protótipo da relação com Deus; e, na mesma verdade, deve ser igualmente
redescoberta a razão de o homem não poder «encontrar-se plenamente a não ser no
dom sincero de si mesmo», ao conviver com os outros homens, como escreve o
Concílio Vaticano II; isso acontece justamente por motivo da semelhança com
Deus, a qual «torna manifesto que o homem, é a única criatura sobre a terra a
ser querida por Deus por si mesma», com a sua dignidade de pessoa, mas também
com a sua abertura à integração e à comunhão com os outros. 256 O conhecimento efectivo e a realização
plena desta verdade do ser dão-se só por obra do Espírito Santo. O homem
aprende esta verdade de Jesus Cristo e põe-na em prática na própria vida por
obra do Espírito Santo, que Ele nos deu.
Neste
caminho — no caminho de um amadurecimento interior assim, que inclui a
descoberta plena do sentido da humanidade — Deus torna-se íntimo ao homem e
penetra, cada vez mais profundamente, em todo o mundo humano. Deus uno e trino,
que «existe» em si mesmo como realidade transcendente de Dom interpessoal, ao
comunicar-se no Espírito Santo como dom ao homem, transforma o mundo humano, a
partir de dentro, a partir do interior dos corações e das consciências. Neste
caminho, o mundo, participante do Dom divino, torna-se — como ensina o Concílio
— «cada vez mais humano, cada vez mais profundamente humano», 257 ao mesmo tempo que, nele, vai
amadurecendo, através dos corações e das consciências dos homens, o Reino no
qual Deus será definitivamente «tudo em todos», 258
como Dom e como Amor. Dom e Amor: é esta a eterna potência do abrir-se de Deus
uno e trino ao homem e ao mundo, no Espírito Santo.
Na
perspectiva do ano 2000 depois do nascimento de Cristo, importa conseguir que
um número cada vez maior de homens «possam encontrar-se plenamente... através
do dom sincero de si». Trata-se, pois, de fazer com que, sob a acção do
Espírito Paráclito, se realize, no nosso mundo, um processo de verdadeiro
amadurecimento na humanidade, na vida individual e na vida comunitária; foi em
ordem a isso que o próprio Jesus, «quando pedia ao Pai "que todos sejam
um, como eu e tu somos um" (Jo 17, 21-22)... nos sugeriu que
existe uma certa semelhança entre a união das pessoas divinas e a união dos
filhos de Deus na verdade e na caridade». 259 O Concílio insiste
nesta verdade sobre o homem; e a Igreja vê nela uma indicação particularmente
vigorosa e determinante das próprias tarefas apostólicas. Sendo o homem, de facto,
«o caminho da Igreja», este caminho passa através de todo o mistério de Cristo,
modelo divino do homem. Neste caminho, o Espírito Santo, consolidando em cada
um de nós «o homem interior», faz com que o homem cada vez mais «se encontre
plenamente através do dom sincero de si». Pode afirmar-se que nestas palavras
da Constituição pastoral do Concílio está resumida toda a antropologia cristã:
a teoria e a prática fundamentadas no Evangelho, onde o homem, descobrindo em
si mesmo a pertença a Cristo e, n'Ele, a própria elevação à dignidade de «filho
de Deus», compreende melhor também a sua dignidade de homem, precisamente
porque é o sujeito da aproximação e da presença de Deus, o sujeito da
condescendência divina, na qual está incluída a perspectiva e até mesmo a
própria raiz da glorificação definitiva. Então pode repetir-se, com verdade,
que é «glória de Deus o homem que vive, mas a vida do homem é a visão de Deus»:
260 o homem, ao viver uma vida
divina, é a glória de Deus; e o dispensador escondido desta vida e desta glória
é o Espírito Santo. Ele — afirma o grande Basílio — «simples na sua essência,
mas manifestando de maneira multiforme a sua virtude... difunde-se, sem sofrer
diminuição alguma, e está presente a cada um daqueles que o podem receber, como
se existisse só ele, ao mesmo tempo que infunde em todos a graça em plenitude».
261
60.
Quando os homens descobrem, sob a influência do Paráclito, esta dimensão divina
do seu ser e da sua vida, quer como pessoas quer como comunidades, estão em
condições de libertar-se dos diversos determinismos, que resultam
principalmente das bases materialistas do pensamento, da praxis e da sua
relativa metodologia. Na nossa época, estes factores conseguiram penetrar até
ao mais íntimo do homem, naquele santuário da consciência, onde o Espírito
Santo continuamente faz entrar a luz e a força da vida nova segundo a
«liberdade dos filhos de Deus». O amadurecimento do homem nesta vida nova é
impedido pelos condicionamentos e pressões, que exercem sobre ele as estruturas
e os mecanismos dominantes nos diversos sectores da sociedade. Pode dizer-se
que, em muitos casos, os factores sociais, em vez de favorecerem o
desenvolvimento e a expansão do espírito humano, acabam por arrancá-lo à
genuína verdade do seu ser e da sua vida — sobre a qual vela o Espírito Santo —
para o sujeitar ao «príncipe deste mundo».
O
grande Jubileu do ano 2000 contém, pois, uma mensagem de libertação por obra do
Espírito Santo, o único que pode ajudar as pessoas e as comunidades a
libertarem-se dos antigos e dos novos determinismos — guiando-as com a «lei do
Espírito que dá a vida em Cristo Jesus» 262
— descobrindo e actuando, deste modo, a medida plena da verdadeira liberdade do
homem. Com efeito, — como escreve São Paulo — «onde está o espírito do Senhor,
aí há liberdade». 263 Esta
revelação da liberdade e, por conseguinte, da verdadeira dignidade do homem,
adquire uma particular eloquência para os cristãos e para a Igreja em situações
de perseguição — quer em tempos passados quer actualmente: porque as testemunhas
da Verdade divina, neste caso, tornam-se uma comprovação viva da acção do
Espírito da verdade, presente no coração e na consciência dos fiéis; e, não
poucas vezes, selam com o próprio martírio a suprema glorificação da dignidade
humana.
Mesmo
nas condições normais da sociedade, os cristãos, quando testemunhas da
autêntica dignidade do homem, contribuem, pela sua obediência ao Espírito Santo
para a multiforme «renovação da face da terra», colaborando com os seus irmãos
em ordem à realização e valorização de tudo o que é bom, nobre e belo 264 no
progresso actual da civilização, da cultura, da ciência, da técnica e dos
outros sectores do pensamento e da actividade humana. E fazem-no como
discípulos de Cristo, o qual — escreve ainda o Concílio — «constituído Senhor
peal a sua ressurreição... actua no coração dos homens pela virtude do seu
Espírito, não só suscitando neles o desejo do mundo futuro, mas, por isso
mesmo, inspirando, purificando e fortalecendo também as generosas aspirações
com as quais a família humana procura tornar mais humana a própria vida e, para
esse fim, submeter toda a terra». 265
Assim, eles afirmam ainda mais a grandeza do homem, criado à imagem e
semelhança de Deus, grandeza que é iluminada pelo mistério da Incarnação do
Filho de Deus; este, na «plenitude dos tempos», por obra do Espírito Santo,
entrou na história e manifestou-se verdadeiro homem: Ele, «gerado antes de toda
a criatura» e «por meio do qual existem todas as coisas e nós igualmente
existimos». 266
5. A Igreja, sacramento da íntima
união com Deus
61.
Aproximando-se o final do segundo Milénio, que deve recordar a todos e como que
tornar de novo presente o advento do Verbo quando chegou a «plenitude dos
tempos», a Igreja, uma vez mais, deseja penetrar na própria essência da sua
constituição divino-humana e da sua missão, que lhe permite participar na
missão messiânica de Cristo, conforme o ensino e o projecto, que permanecem
válidos, do Concílio Vaticano II. Nesta mesma linha, podemos remontar até ao
Cenáculo, onde Jesus Cristo revela o Espírito Santo como Paráclito, como
Espírito da verdade, e fala da sua própria «partida», mediante a Cruz, como
condição necessária para a «vinda» do mesmo Espírito. «É melhor para vós que eu
vá, porque se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu partir, enviar-vo-lo-ei».
267 Vimos que este anúncio teve a
sua primeira realização já na tarde do dia de Páscoa e, em seguida, durante a
celebração do Pentecostes em Jerusalém: desde então para cá, ele continua a
realizar-se mediante a Igreja, na história da humanidade.
A
luz deste anúncio adquire pleno significado também o que Jesus disse, ainda no
decorrer da última Ceia, a propósito da sua nova «vinda». É significativo, de
facto, que Ele anuncie, no mesmo discurso do adeus, não só a sua partida, mas
também a sua nova vinda. Diz exactamente: «Não vos deixarei órfãos; voltarei
para junto de vós». 268 E no
momento da despedida definitiva, antes de subir ao céu, repetirá, de uma forma
ainda mais explícita: «E eis que eu estou convosco»; e estou «todos os dias,
até ao fim do mundo». 269 Esta
nova «vinda» de Cristo — este seu vir continuamente para estar com os
Apóstolos, com a Igreja, este seu «estou convosco até ao fim do mundo» — não
modifica, certamente, o facto da sua «partida»; segue-se a ela, depois de
concluída a missão messiânica do mesmo Cristo na terra; e dá-se no âmbito do
preanunciado envio do Espírito Santo e inscreve-se, por assim dizer, no íntimo
da sua própria missão. No entanto, realiza-se por obra do Espírito Santo, o
qual faz com que Cristo, que partiu, venha agora e sempre de uma maneira nova.
Este voltar de Cristo, por obra do Espírito Santo, e a sua constante presença e
acção na vida espiritual actualizam-se na realidade sacramental. Nesta
realidade, Cristo, que partiu na sua humanidade visível, vem, está presente e
actua na Igreja de uma forma tão íntima, que faz dela o seu Corpo. E como tal,
a Igreja vive, opera e cresce «até ao fim do mundo». E tudo isto se realiza por
obra do Espírito Santo.
62.
A expressão sacramental mais completa da «partida» de Cristo, por meio do
mistério da Cruz e da Ressurreição, é a Eucaristia. Nela, todas as vezes que é
celebrada, realiza-se sacramentalmente, a sua vinda, a sua presença salvífica:
no Sacrifício e na Comunhão. Realiza-se por obra do Espírito Santo e no âmbito
da sua própria missão. 270
Mediante a Eucaristia, o Espírito Santo leva a efeito aquele «fortalecimento do
homem interior», de que fala a Epístola aos Efésios. 271 Mediante a Eucaristia, as pessoas e as
comunidades, sob a acção do Paráclito Consolador, aprendem a descobrir o
sentido divino da vida humana, lembrado pelo Concílio Vaticano II: aquele
sentido, pelo qual Jesus Cristo «revela plenamente o homem ao próprio homem»,
sugerindo «uma certa semelhança entre a união das pessoas divinas e a união dos
filhos de Deus na verdade e na caridade». 272
Tal união exprime-se e realiza-se, de modo particular, mediante a Eucaristia,
na qual o homem, participando no sacrifício de Cristo, que a celebração
actualiza, aprende também a «encontrar-se... no dom... de si», 273 na comunhão com Deus e com os outros
homens, seus irmãos.
Por
isso, os primeiros cristãos, desde aqueles dias que se seguiram à descida do
Espírito Santo, «eram assíduos à fracção do pão e à oração», formando assim uma
comunidade unida no ensino dos Apóstolos. 274
«Reconheciam», desse modo, que o seu Senhor Ressuscitado, que já subira aos
céus, voltava ao meio deles, na comunidade eucarística da Igreja e por meio
dela. Guiada pelo Espírito Santo, a Igreja, desde os inícios, exprimiu-se e
confirmou-se a si mesma mediante a Eucaristia. E assim foi sempre, em todas as
gerações cristãs, até aos nossos dias, até a esta vigília do completamento do
segundo Milénio cristão. É certo que temos de verificar, infelizmente, que este
último Milénio decorrido foi o Milénio das grandes separações entre os
cristãos. Por isso, todos aqueles que crêem em Cristo, a exemplo dos Apóstolos,
deverão pôr todo o empenho em conformar o pensamento e as obras à vontade do
Espírito Santo, «princípio de unidade da Igreja», 275
a fim de que todos os baptizados num só Espírito para constituir um só corpo se
redescubram irmãos, unidos na celebração da mesma Eucaristia, «sacramento de
piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade». 276
63.
A presença eucarística de Cristo — o seu sacramental «eu estou convosco» —
permite à Igreja descobrir, cada vez mais profundamente o próprio mistério,
como atesta toda a eclesiologia do Concílio Vaticano II, segundo o qual «a
Igreja é em Cristo como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima
união com Deus e da unidade de todo o género humano». 277 Como sacramento, a Igreja desenvolve-se
sobre o fundamento do mistério pascal da «partida» de Cristo, vivendo da sua
«vinda» sempre nova por obra do Espírito Santo, que vai realizando a sua missão
de Paráclito Espírito da verdade. É este precisamente o mistério essencial da
Igreja, como professa o Concílio.
Se
em virtude da criação, Deus é Aquele em que todos nós «vivemos, nos movemos e
existimos», 278 o poder da
Redenção, por sua vez, perdura e desenvolve-se na história do homem e do mundo
como que num duplo ritmo, cuja fonte se encontra no Pai eterno. Por um lado, é
o «ritmo» da missão do Filho, que veio ao mundo, nascendo de Maria Virgem por
obra do Espírito Santo; por outro lado, é também o «ritmo» da missão do
Espírito Santo, tal como foi revelado definitivamente por Cristo. Por causa da
«partida» do Filho, o Espírito Santo veio e vem continuamente como Consolador e
Espírito da verdade. No âmbito da sua missão, como que no íntimo da presença invisível
do Espírito, o Filho, que «partira» no mistério pascal, «vem» e está
continuamente presente no mistério da Igreja; e ora se oculta, ora se manifesta
na sua história, mas sem deixar de conduzir sempre o seu curso. Tudo isto
acontece, de maneira sacramental, por obra do Espírito Santo, o qual, indo aurir
das riquezas da Redenção de Cristo, continuamente dá a vida. Tomando
consciência cada vez mais viva deste mistério, a Igreja apreende melhor a sua
identidade, sobretudo como sacramento.
Assim
acontece também porque, por vontade do seu Senhor, a Igreja desempenha o seu
ministério salvífico para com o homem por meio dos diversos Sacramentos. O
ministério sacramental, todas as vezes que é realizado, comporta em si o
mistério da «partida» de Cristo mediante a Cruz e a Ressurreição, em virtude da
qual vem o Espírito Santo. Vem e actua: «dá a vida». Os Sacramentos, de facto,
significam a graça e conferem a graça: exprimem a vida e dão a vida. A Igreja é
a dispensadora visível dos sinais sagrados, enquanto o Espírito Santo age nos
mesmos como o dispensador invisível da vida que eles significam. Em união com o
Espírito está presente e age Cristo Jesus.
64.
Se a Igreja é «o sacramento da íntima união com Deus», ela é tal em Jesus
Cristo, em quem esta mesma união se actua como realidade salvífica. Ela é tal
em Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo. A plenitude da realidade
salvífica, que é Cristo na história, difunde-se, de modo sacramental, pelo
poder do Espírito Paráclito. Neste sentido o Espírito Santo é o «outro
Consolador», o novo Consolador, uma vez que, pela sua acção, a Boa Nova toma
corpo nas consciências e nos corações humanos e expande-se na história. Em tudo
isto, é o Espírito Santo que dá a vida.
Quando
empregamos a palavra «sacramento» em referência à Igreja, devemos ter presente
que a sacramentalidade da Igreja, no texto conciliar, aparece distinta daquela
que é própria dos Sacramentos em sentido estrito. Lemos, efectivamente: «A
Igreja é... como que um sacramento, ou sinal, e instrumento da íntima união com
Deus». Mas o que conta e emerge do sentido analógico em que a palavra é
empregada nos dois casos é a relação que a Igreja tem com o poder do Espírito
Santo, que é o único que dá a vida: a Igreja é sinal e instrumento da presença
e da acção do Espírito vivificante.
O
Vaticano II acrescenta que a Igreja é «um sacramento... da unidade de todo o
género humano». Trata-se, evidentemente, da unidade que o género humano — em si
mesmo diferenciado de muitos modos — tem de Deus e em Deus. Ela radica-se no
mistério da criação e adquire uma dimensão nova no mistério da Redenção, em
ordem à salvação universal. Dado que Deus quer «que todos os homens se salvem e
cheguem ao conhecimento da verdade», 279
a Redenção compreende todos os homens e, de certo modo, toda a criação. Nesta
mesma dimensão universal da salvação, o Espírito Santo actua, em virtude da
«partida» de Cristo. Por isso, a Igreja, radicada mediante o seu próprio
mistério na economia trinitária da salvação, com toda a razão se compreende a
si mesma como «sacramento da unidade de todo o género humano». Ela tem
consciência de o ser pelo poder do Espírito Santo, de que ela é sinal e
instrumento na actuação do plano salvífico de Deus.
Deste
modo se realiza a «condescendência» do Amor infinito da Santíssima Trindade:
Deus, Espírito invisível, aproxima-se do mundo visível. Deus uno e trino
comunica-se ao homem no Espírito Santo, desde o princípio, graças à sua «imagem
e semelhança». Sob a acção do mesmo Espírito, o homem e, por intermédio dele, o
mundo criado, redimido por Cristo, aproximam-se dos seus destinos definitivos
em Deus. A Igreja é «o sacramento, ou sinal, e o instrumento» desta aproximação
dos dois pólos da criação e da Redenção, Deus e o homem. A mesma Igreja opera
no sentido de restabelecer e fortalecer a unidade do género humano nas próprias
raízes: na relação de comunhão que o homem tem com Deus, como seu Criador, seu
Senhor e seu Redentor. É uma verdade fundada no ensino do Concílio, que podemos
meditar, explicar e aplicar, em toda a amplitude do seu significado, neste
período da passagem do segundo para o terceiro Milénio cristão. É grato para
nós tomar consciência cada vez mais viva do facto de que, dentro da acção
desenvolvida pela Igreja na história da salvação, inscrita na história da humanidade,
está presente e a agir o Espírito Santo, Aquele que anima com o sopro da vida
divina, a peregrinação terrena do homem e faz convergir toda a criação, toda a
história, para o seu termo último, no oceano infinito de Deus.
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
____________________
Notas:
255 Cf. Gén 1, 26 s.; S .TOMÁS DE AQUINO, Summa Theol.
Ia, q. 93, aa. 4. 5. 8.
256 Cf . Const. past sobre a Igreja no mundo
contemporâneo Gaudium et spes, 24; cf. também n. 25.
257 Cf. Ibid., 38, 40.
258 Cf. 1 Cor 15, 28.
259 Cf. Const. past. sobre a Igreja no mundo
contemporâneo Gaudium et spes, 24.
260 Cf. S. IRENEU, Adversus haereses, IV, 20, 7: SC
100/2, p. 648.
261 S. BASÍLIO, De Spiritu Sancto, IX, 22: PG 32, 110.
262 Rom 8, 2.
263 2 Cor 3, 17.
264 Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. sobre a
Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 53-59.
265 Ibid., 38.
266 1 Cor 8, 6.
267 Jo 16, 7.
268 Jo 14, 18.
269 Mt 28, 20.
270 É o que exprime a «Epiclese» antes da Consagração:
« Santificai estes dons, derramando sobre eles o vosso Espírito, de modo que se
convertam, para nós, no Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo » (Oração
Eucarística II).
271 Cf. Ef 3, 16.
272 Cf. Const. past. sobre a Igreja no mundo
contemporâneo Gaudium et spes, 23.
273 Ibid.
274 Cf. Act 2, 42.
275 CONC. ECUM. VAT. II, Decr. sobre o Ecumenismo
Unitatis redintegratio, 2.
276 S. AGOSTINHO, In Johannis Evangelium Tractatus
XXVI, 13: CCL 36, 266. Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia
Sacrosanctum Concilium, 47.
277 Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
278 Act 17, 28.
279 1 Tim 2, 4.
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