Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 12, 1-26
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 12, 1-26
1 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde se encontrava Lázaro,
que Jesus tinha ressuscitado. 2 Ofereceram-Lhe lá uma ceia. Marta servia, e
Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele. 3 Então, Maria tomou uma libra de
perfume feito de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e Os enxugou
com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume. 4 Judas
Iscariotes, um dos Seus discípulos, aquele que O havia de entregar, disse: 5
«Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários para se dar aos
pobres?». 6 Disse isto, não porque se importasse com os pobres, mas porque era
ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que nela se deitava. 7 Mas Jesus respondeu:
«Deixa-a; ela reservou este perfume para o dia da Minha sepultura; 8 porque
pobres sempre os tereis convosco, mas a Mim nem sempre Me tereis». 9 Uma grande
multidão de judeus soube que Jesus estava ali e foi lá, não somente por causa
de Jesus, mas também para ver Lázaro, a quem Ele tinha ressuscitado dos mortos.
10 Os príncipes dos sacerdotes deliberaram então matar também Lázaro, 11 porque
muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus. 12 No dia
seguinte, uma grande multidão de povo, que tinha ido à festa, ouvindo dizer que
Jesus ia a Jerusalém, 13 tomou ramos de palmeiras, saiu ao Seu encontro e
clamava: «Hossana! Bendito O que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel».14
Jesus encontrou um jumentinho, e montou em cima dele, segundo está escrito: 15
“Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei vem montado sobre um jumentinho”. 16
A princípio, os Seus discípulos não compreenderam estas coisas, mas quando
Jesus foi glorificado, então lembraram-se de que estas coisas tinham sido
escritas d'Ele e que eles mesmos tinham contribuído para o seu cumprimento. 17
A multidão que estava com Ele, quando chamou Lázaro do sepulcro e o ressuscitou
dos mortos, dava testemunho d'Ele. 18 Por isso, Lhe saiu ao encontro a
multidão, porque ouviram dizer que tinha feito este milagre. 19 Então os
fariseus disseram entre si: «Vedes que nada adiantais? Eis que todos correm
atrás d'Ele!». 20 Ora havia lá alguns gregos, entre aqueles que tinham ido
adorar a Deus durante a festa. 21 Estes aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida
da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, desejamos ver Jesus». 22
Filipe foi dizê-lo a André; André e Filipe disseram-no a Jesus. 23 Jesus respondeu-lhes:
«Chegou a hora em que o Filho do Homem será glorificado. 24 Em verdade, em
verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, 25 fica
infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á
e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26 Se
alguém Me quer servir, siga-Me e, onde Eu estou, estará ali também o que Me
serve. Se alguém Me servir, Meu Pai o honrará.
Ioannes
Paulus PP. II
Dominum et vivificantem
sobre
o Espírito Santo
na
Vida da Igreja e do Mundo
/…5
35.
Por conseguinte, o Espírito, que «perscruta todas as coisas, até mesmo as
profundezas de Deus», conhece desde o princípio «os segredos do homem». 133 Exactamente por isto, só Ele pode
plenamente «convencer quanto ao pecado» que se verificou no princípio, aquele
pecado que é raiz de todos os outros e o foco de irradiação da pecaminosidade
do homem na terra, que jamais se extingue. O Espírito da verdade conhece a
realidade originária do pecado, causado na vontade do homem por obra do «pai da
mentira» — daquele que já «está julgado». 134
O Espírito Santo convence, pois, o mundo quanto ao pecado em relação com este
«juízo»; mas constantemente orientando no sentido da «justiça», que foi
revelada ao homem juntamente com a Cruz de Cristo: mediante a «obediência até à
morte». 135
Somente
o Espírito Santo pode convencer do pecado dos primórdios do ser humano,
exactamente Ele que é o Amor do Pai e do Filho, Ele que é Dom, enquanto o
pecado do princípio humano consiste na mentira e na recusa do Dom e do Amor, os
quais decidem do princípio do mundo e do homem.
36.
Segundo o testemunho do princípio — que encontramos na Escritura e na Tradição,
em continuidade com a primeira (e também mais completa) descrição no Livro do
Génesis — o pecado na sua forma originária é entendido como «desobediência», o
que significa simples e directamente transgressão de uma proibição feita por
Deus. 136 Mas, à luz de todo o
contexto, é também evidente que as raízes desta desobediência devem ser
procuradas em profundidade na real situação do homem, globalmente considerada.
Chamado à existência, o ser humano — homem e mulher — é uma criatura. A «imagem
de Deus», que consiste na racionalidade e na liberdade, denota a grandeza e a
dignidade do sujeito humano, que é pessoa. Mas este sujeito pessoal, não
obstante isso, é sempre uma criatura: na sua existência e essência depende do
Criador. Segundo o Livro do Génesis, «a árvore do conhecimento do bem e do mal»
devia exprimir e lembrar constantemente ao homem o «limite» intransponível para
um ser criado. É neste sentido que deve ser entendida a proibição da parte de
Deus: o Criador proíbe ao homem e à mulher comerem os frutos da árvore do
conhecimento do bem e do mal. As palavras da instigação, ou seja da tentação,
como está formulada no texto sagrado, induzem a transgredir essa proibição —
isto é, a superar o «limite»: «Quando o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e
tornar-vos-eis como Deus ("como deuses"), conhecendo o bem e o mal». 137
A
«desobediência» significa precisamente «passar além» daquele «limite», que
permanece intransponível para a vontade e liberdade do homem, como ser criado.
O Deus Criador é, de facto, a única e definitiva fonte da ordem moral no mundo
por Ele criado. O homem não pode por si mesmo decidir o que é bom e o que é mau
— não pode «conhecer o bem e o mal, como Deus». Sim, no mundo criado, Deus
permanece a primeira e soberana fonte para decidir sobre o bem e o mal, mediante
a íntima verdade do ser, a qual é reflexo do Verbo, eterno Filho,
consubstancial ao Pai. Ao homem, criado à imagem de Deus, o Espírito Santo
concede como dom a consciência, a fim de que nela a imagem possa reflectir
fielmente o seu modelo, que é, a um tempo, a própria Sabedoria e a Lei eterna,
fonte da ordem moral no homem e no mundo. A «desobediência», como dimensão
originária do pecado, significa recusa desta fonte, pela pretensão da parte do
homem de se tornar fonte autónoma e exclusiva para decidir sobre o bem e o mal.
O Espírito que «perscruta as profundezas de Deus» e que, ao mesmo tempo, é para
o homem a luz da consciência e a fonte da ordem moral, conhece em toda a sua
amplitude esta dimensão do pecado, que se inscreve no mistério do princípio humano.
E não cessa de «convencer o mundo» disso mesmo em relação com a Cruz de Cristo
no Gólgota.
37.
Segundo o testemunho do princípio, Deus na criação revelou-se a si mesmo como
omnipotência, que é Amor. Simultaneamente, revelou ao homem que, como «imagem e
semelhança» do seu Criador, ele é chamado a participar na verdade e no amor.
Esta participação significa uma vida em união com Deus, que é a «vida eterna». 138 Mas o homem, sob a influência do «pai da
mentira» afastou-se desta participação. Em que medida? Não, certamente, na
medida do pecado de um espírito puro, na medida do pecado de Satanás. O
espírito humano é incapaz de atingir uma tal medida. 139 Na própria descrição do Génesis, é fácil
notar a diferença de grau entre o sopro do mal por parte daquele que é pecador
(ou seja, permanece no pecado) «desde o princípio» 140 e que já «está julgado», 141 e o mal da desobediência da parte do homem.
Esta
desobediência, todavia, significa sempre um voltar as costas a Deus e, num
certo sentido, o fechar-se da liberdade humana em relação a Ele. Significa
também certa abertura desta liberdade — da consciência e da vontade humanas —
para com aquele que é o «pai da mentira». Este acto de opção consciente não é
só «desobediência», mas traz consigo também uma certa adesão à motivação
contida na primeira instigação ao pecado e incessantemente renovada ao longo de
toda a história do homem sobre a face da terra: «Deus sabe que no dia, em que o
comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e vos tornareis como Deus, conhecendo o bem
e o mal».
Encontramo-nos
aqui exactamente no centro do que poderia chamar-se o «anti-Verbo», isto é, «a
antiverdade». Com efeito, é falseada a verdade do homem: de quem é o homem e de
quais são os limites intransponíveis do seu ser e da sua liberdade. Esta «anti-verdade»
é possível porque é ao mesmo tempo «falseada» completamente a verdade sobre
quem é Deus. Deus criador passa a ser colocado em estado de suspeição, ou,
melhor dito, em estado de acusação directamente, na consciência da criatura.
Pela primeira vez na história do homem, aparece o perverso «génio da
suspeição». Ele procura «falsear» o próprio Bem, o Bem absoluto, que
exactamente na obra da criação se manifestou como o Bem que se doa de modo inefável:
como «bonum diffusivum sui», como Amor criador. Quem poderia «converter»
plenamente «do pecado» isto é, dessa motivação da desobediência originária do
homem, se não Aquele único que é o Dom e a fonte de toda a dádiva, se não o
Espírito, que «perscruta as profundezas de Deus» e é o Amor do Pai e do Filho?
38.
Realmente, apesar de tudo o que testemunha a criação e a economia salvífica a
ela inerente, o espírito das trevas 142
é capaz de mostrar Deus como inimigo da própria criatura; e, primeiro que tudo,
como inimigo do homem, como fonte de perigo e de ameaça para o homem. Deste
modo, é enxertado por Satanás na psicologia do homem o gérmen da oposição
relativamente Aquele que, «desde o princípio», há-de ser considerado como
inimigo do homem — e não como Pai. O homem é desafiado para se tornar adversário
de Deus!
A
análise do pecado na sua dimensão originária indica que, da parte do «pai da
mentira», ao longo da história da humanidade irá dar-se uma constante pressão
para a rejeição de Deus por parte do homem, até ao ódio: «amor sui usque ad
contemptum Dei» (amor de si mesmo até ao desprezo de Deus) como se exprime
Santo Agostinho. 143 O homem será
propenso a ver em Deus, antes de mais nada, uma limitação para si próprio e não
a fonte da sua libertação e a plenitude do bem. Vemos isto confirmado na época
moderna, quando as ideologias ateias tendem a desarreigar a religião,
baseando-se no pressuposto de que ela determinaria a «alienação» radical do
homem, como se este fosse expropriado da sua humanidade quando, ao aceitar a
ideia de Deus, lhe atribui a Ele aquilo que pertence ao homem e exclusivamente
ao homem! Daqui nasce um processo de pensamento e de praxis histórico sociológica,
em que a rejeição de Deus chegou até à declaração da sua «morte», o que é um
absurdo: conceitual e verbal! Mas a ideologia da «morte de Deus» ameaça
sobretudo o homem, como indica o Concílio Vaticano II, quando, ao analisar a
questão da «autonomia das coisas temporais», escreve: «A criatura sem o Criador
perde o sentido... Mais ainda, o esquecimento de Deus faz com que a própria
criatura se obscureça». 144 A
ideologia da «morte de Deus», pelos seus efeitos, facilmente demonstra ser,
tanto no plano da teoria como no de prática, a ideologia da «morte do homem».
4. O Espírito que transforma o
sofrimento em amor salvífico
39.
«O Espírito, que perscruta as profundezas de Deus», foi chamado por Jesus, no
discurso do Cenáculo, o Paráclito. Ele, de facto, desde o princípio «é
invocado» 145 para «convencer o
mundo quanto ao pecado». É invocado, de modo definitivo, por meio da Cruz de
Cristo. Convencer do pecado quer dizer demonstrar o mal nele contido. Isto
equivale a desvendar o «mysterium iniquitatis» (mistério da iniquidade). Não é
possível atingir o mal do pecado em toda a sua dolorosa realidade sem
«perscrutar as profundezas de Deus». O obscuro mistério do pecado apareceu no
mundo, desde o princípio, no quadro da referência ao Criador da liberdade
humana. E apareceu como um acto da vontade da criatura-homem contrário à
vontade de Deus: contrário a vontade salvífica de Deus; ou melhor,
manifestou-se em oposição à verdade, com base na mentira já definitivamente
«julgada» — mentira que colocou em estado de acusação, em estado de permanente
suspeição o próprio Amor criador e salvífico. O homem seguiu o «pai da
mentira», pondo-se contra o Pai da vida e o Espírito da verdade.
O
«convencer quanto ao pecado», portanto, não deveria significar também revelar o
sofrimento, revelar a dor, inconcebível e inexprimível, que, por causa do
pecado, o Livro Sagrado, na sua visão antropomórfica, parece entrever nas
«profundezas de Deus» e, em certo sentido, no próprio coração da inefável
Trindade? A Igreja, inspirando-se na Revelação, crê e professa que o pecado é
ofensa a Deus. O que é que, na imperscrutável intimidade do Pai, do Verbo e do
Espírito Santo, corresponde a esta «ofensa», a esta recusa do Espírito que é
Amor e Dom? A concepção de Deus, como ser necessariamente perfeitíssimo,
exclui, por certo, em Deus, qualquer espécie de sofrimento, derivante de
carências ou feridas; mas nas «profundezas de Deus» há um amor de Pai que,
diante do pecado do homem, reage, segundo a linguagem bíblica, até ao ponto de
dizer: «Estou arrependido de ter criado o homem». 146
«o Senhor viu que a maldade dos homens era grande sobre a terra ... E o Senhor
arrependeu-se de ter criado o homem sobre a terra... O Senhor disse:
"Estou arrependido de os ter feito"». 147
Mas o Livro Sagrado, mais frequentemente, fala-nos de um Pai que experimenta
compaixão pelo homem, como que compartilhando a sua dor. Esta imperscrutável e
indizível «dor» de Pai, em definitivo, gerará sobretudo a admirável economia do
amor redentor em Jesus Cristo, para que, através do «mistério da piedade», o
amor possa revelar-se mais forte do que o pecado, na história do homem. Para
que prevaleça o «Dom»!
O
Espírito Santo, que, segundo as palavras de Jesus, «convence quanto ao pecado»,
é o Amor do Pai e do Filho; e, como tal, é o Dom trinitário e, simultaneamente,
a eterna fonte de toda a dádiva divina às criaturas. N'Ele, precisamente, nós
podemos conceber como que personificada e actuada de uma maneira transcendente
a virtude da misericórdia, que a tradição patrística e teológica, na linha do
Antigo e do Novo Testamento, atribui a Deus. No homem, a misericórdia inclui a
dor e a compaixão pelas misérias do próximo. Em Deus, o Espírito que é Amor faz
com que a consideração do pecado humano se traduza em novas dádivas do amor
salvífico. D'Ele, na unidade com o Pai e o Filho, nasce a economia da salvação,
que enche a história do homem com os dons da Redenção. Se o pecado, rejeitando
o amor, gerou o «sofrimento» do homem que, de algum modo, se estendeu a toda a
criação, 148 o Espírito Santo
entrará no sofrimento humano e cósmico com uma nova efusão de amor, que redimirá
o mundo. E nos lábios de Jesus Redentor, em cuja humanidade se concretiza o
«sofrimento de Deus», ressoará com frequência uma palavra em que se manifesta o
Amor eterno e cheio de misericórdia: «Misereor» (tenho compaixão). 149 Assim, «o convencer quanto ao pecado»,
por parte do Espírito Santo, torna-se um manifestar diante da criação
«submetida à caducidade» e, sobretudo, no mais íntimo das consciências humanas,
que o pecado é vencido pelo sacrifício do Cordeiro de Deus: este tornou-se «até
à morte» o servo obediente que, reparando a desobediência do homem, opera a
redenção do mundo. É deste modo, que o Espírito da verdade, o Paráclito,
«convence quanto ao pecado».
40.
O valor redentor do sacrifício de Cristo é expresso com palavras muito
significativas pelo autor da Epístola aos Hebreus, o qual, depois de ter
recordado os sacrifícios da Antiga Aliança, em que «o sangue dos cordeiros e
dos touros... santifica quanto à pureza da carne», acrescenta: «Quanto mais o
sangue de Cristo, em virtude de um Espírito eterno se ofereceu a si mesmo sem
mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servir o
Deus vivo!». 150 Embora
conscientes de que outras interpretações são possíveis, as nossas considerações
sobre a presença do Espírito Santo em toda a vida de Cristo levam-nos a
reconhecer neste texto como que um convite a reflectir sobre a presença do
mesmo Espírito também no sacrifício redentor do Verbo Incarnado.
Reflictamos
primeiro sobre as palavras iniciais que tratam deste sacrifício; depois,
separadamente, sobre a «purificação da consciência» que ele opera. Trata-se de
facto, de um sacrifício oferecido «em virtude de» (= por obra de) um Espírito
eterno», que dele «recebe» a força do «convencer quanto ao pecado» em ordem à
salvação. É o mesmo Espírito Santo de que Jesus Cristo será «portador» para os
Apóstolos no dia da sua ressurreição, segundo a promesa do Cenáculo,
apresentando-se a eles com as feridas da crucifixão, e que lhes «dará» «para a
remissão dos pecados»: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os
pecados, ser-lhes-ão perdoados». 151
Nós
sabemos que «Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré»,
como dizia Simão Pedro em casa do centurião Cornélio. 152 Conhecemos o mistério pascal da sua «partida»,
segundo o Evangelho de São João. As palavras da Epístola aos Hebreus
explicam-nos, agora, de que maneira Cristo «se ofereceu a si mesmo sem mácula a
Deus», e como fez isto «em virtude de um Espírito eterno». No sacrifício do
Filho do homem, o Espírito Santo está presente e age tal como agia na sua
concepção, na sua vinda ao mundo, na sua vida oculta e no seu ministério
público. Segundo a Epístola aos Hebreus, na caminhada para a sua «partida»,
através do Getzemani e do Gólgota, o próprio Jesus Cristo se abriu totalmente
na sua humanidade à acção do Espírito Paráclito que, do sofrimento, faz emergir
o eterno amor salvífico. Ele, portanto, foi «atendido pela sua piedade. Apesar
de ser Filho de Deus, aprendeu a obedecer pelos sofrimentos suportados». 153 Deste modo, a Epístola demonstra como a
humanidade, submetida ao pecado nos descendentes do primeiro Adão, se tornou em
Jesus Cristo perfeitamente submetida a Deus e a ele unida, e, ao mesmo tempo,
cheia de misericórdia para com os homens. Aparece assim uma nova humanidade
que, em Jesus Cristo, mediante o sofrimento da Cruz, retornou ao amor, traído
por Adão com o pecado. Esta nova humanidade reencontra-se na mesma fonte divina
do dom original: no Espírito que «perscruta... as profundezas de Deus» e que é
ele próprio Amor e Dom.
O
Filho de Deus, Jesus Cristo — como homem —, na oração ardente da Sua paixão,
permitiu ao Espírito Santo, que já tinha penetrado até ao mais profundo a sua
humanidade, transformá-la num sacrifício perfeito mediante o acto da sua morte,
como vítima de amor na Cruz. Foi Ele, sozinho, quem fez esta oblação. Como
único Sacerdote, «ofereceu-se a si mesmo sem mácula a Deus». 154 Na sua humanidade Ele era digno de se
tornar um tal sacrifício, porque Ele só era «sem mácula». Mas ofereceu-o «em
virtude de um Espírito eterno»: o que equivale a dizer que o Espírito Santo
agiu de um modo especial nesta auto-doação absoluta do Filho do homem, para
transformar o sofrimento em amor redentor.
41.
No antigo Testamento, por mais de uma vez se fala do «fogo do céu», que
queimava as oferendas apresentadas pelos homens. 155
Por analogia, pode dizer-se que o Espírito Santo é «fogo do céu» que age no
mais profundo do mistério da Cruz. Provindo do Pai, Ele encaminha para o Pai o
sacrifício do Filho, introduzindo-o na divina realidade da comunhão trinitária.
Se o pecado gerou o sofrimento, agora o sofrimento de Deus em Cristo
crucificado adquire, pelo Espírito Santo, a sua plena expressão humana.
Encontramo-nos assim diante de um mistério paradoxal de amor: em Cristo, sofre
um Deus rejeitado pela sua própria criatura: «Não crêem em mim!»; mas, ao mesmo
tempo, à profundeza deste sofrimento — e indirectamente à profundeza do próprio
pecado «de não ter acreditado» — o Espírito Santo vai buscar uma nova medida do
dom feito ao homem e à criação desde o princípio. Nas profundezas do mistério
da Cruz está operante o Amor, que reconduz o homem a participar novamente na
vida, que está no próprio Deus.
O
Espírito Santo como Amor e Dom desce, em certo sentido, ao próprio coração do
sacrifício que é oferecido na Cruz. Referindo-nos à tradição bíblica podemos
dizer: Ele consuma este sacrifício com o fogo do Amor, que une o Filho ao Pai
na comunhão trinitária. E dado que o sacrifício da Cruz é um acto próprio de
Cristo, também neste sacrifício Ele «recebe» o Espírito Santo. E recebe-o de
tal modo, que depois Ele mesmo — e Ele somente com Deus Pai — o pode «dar» aos
Apóstolos, à Igreja e à humanidade. Ele só o «envia» de junto do Pai. 156 Ele só se apresenta diante dos Apóstolos
reunidos no Cenáculo, «sopra sobre eles» e diz: «Recebei o Espírito Santo.
Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados», 157 como tinha preanunciado João Baptista:
«Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com O fogo». 158 Com estas palavras de Jesus o Espírito
Santo é revelado e ao mesmo tempo é tornado presente como Amor que está
operante no mais profundo do mistério pascal, como fonte do poder salvífico da
Cruz de Cristo, como Dom da vida nova e eterna.
Esta
verdade sobre o Espírito Santo é expressa quotidianamente na Liturgia romana,
quando o Sacerdote, antes da comunhão, profere estas palavras significativas:
«Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que, por vontade do Pai, cooperando o
Espírito Santo, destes vida ao mundo pela vossa morte...». E na Oração
Eucarística III, referindo-se à mesma economia salvífica, o Sacerdote pede a
Deus que o Espírito Santo «faça de nós uma oferenda permanente» que lhe seja
agradável.
5. «O sangue que purifica a
consciência»
42.
Dissemos que, no ponto culminante do mistério pascal, o Espírito Santo é
definitivamente revelado e tornado presente de uma maneira nova. Cristo
ressuscitado diz aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo». Deste modo, é
revelado o Espírito Santo, porque as palavras de Cristo constituem a
confirmação das promessas e dos anúncios do discurso do Cenáculo. E por isso
mesmo o Paráclito é tornado presente de uma maneira nova. Ele, na realidade,
actuava já desde o início no mistério da criação e ao longo de toda a história
da Antiga Aliança de Deus com o homem. A sua acção foi plenamente confirmada
pela missão do Filho do homem como Messias, que veio pelo poder do Espírito
Santo. No ápice da missão messiânica de Jesus, o Espírito Santo torna-Se
presente no mistério pascal em toda a sua subjectividade divina: como Aquele
que deve continuar agora a obra salvífica radicada no sacrifício da Cruz. Esta
obra, sem dúvida, foi confiada por Jesus a homens: aos Apóstolos e à Igreja. No
entanto, nestes homens e por meio deles, o Espírito Santo permanece o
transcendente sujeito protagonista da realização desta obra, no espírito do
homem e na história do mundo: Ele, o Paráclito invisível e, simultaneamente,
omnipresente! O Espírito que «sopra onde quer». 159
As
palavras pronunciadas por Cristo ressuscitado, no «primeiro dia depois do
sábado», dão particular relevo à presença do Paráclito Consolador, como Aquele
que «convence o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo». Só
com esta referência se explicam, efectivamente, as palavras que Jesus põe em
relação directa com o «dom» do Espírito Santo aos Apóstolos. Ele diz: «Recebei
o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados;
àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos». 160 Jesus assim confere aos Apóstolos o
poder de perdoar os pecados, para que eles o transmitam aos seus sucessores na
Igreja. Todavia, este poder, concedido aos homens, pressupõe e inclui a acção
salvífica do Espírito Santo. Tornando-Se «luz dos corações» 161 — isto é, das consciências — o Espírito
Santo «convence quanto ao pecado», ou seja, leva o homem a conhecer o seu mal
e, ao mesmo tempo, orienta-o para o bem. Graças à multiplicidade dos seus dons
— pelo que Ele é invocado como o «septiforme» — o poder salvífico de Deus pode atingir
toda a espécie de pecados do homem. Na realidade, como diz São Boaventura,
«todos os males são destruídos, ao mesmo tempo que são proporcionados todos os
bens». 162
Sob
o influxo do Consolador, realiza-se, portanto, a conversão do coração humano, que
é a condição indispensável para o perdão dos pecados. Sem uma verdadeira
conversão, que implica uma contrição interior, e sem um sincero e firme
propósito de mudança, os pecados permanecem «não perdoados» (retidos), como diz
Jesus e, com Ele, toda a Tradição da Antiga e da Nova Aliança. Com efeito, as
primeiras palavras pronunciadas por Jesus no início do Seu ministério, segundo
o Evangelho de São Marcos, são as seguintes: «Convertei-vos e acreditai no
Evangelho». 163 Temos uma
confirmação desta exortação no «convencer quanto ao pecado» que o Espírito
Santo empreende, de uma maneira nova, em virtude da Redenção operada pelo
Sangue do Filho do homem. Por esta razão a Epístola aos Hebreus afirma que este
«sangue purifica a consciência». 164
Portanto, este sangue abre ao Espírito Santo, em certo sentido, o caminho para
o íntimo do homem, isto é, para o santuário das consciências humanas.
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
____________________
Notas:
133 Cf. 1 Cor 2, 10 s.
134 Cf. Jo 16, 11.
135 Cf. Flp 2, 8.
136 Cf Gén 2, 16 s.
137 Gén 3, 5.
138 Cf. Gén. 3, 22: sobre a « árvore da Vida »; Cf.
também Jo 3, 36- 4, 14; 5, 24; 6, 40. 47; 10, 28; 12, 50; 14, 6; Act 13, 48,
Rom 6, 23; Gál 6, 8; 1 Tim 1, 16; Tit 1, 2; 3, 7; 1 Pdr 3, 22; 1 Jo 1, 2; 2,
25; 5, 11. 13; Apoc 2, 7.
139 Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theol. Ia-IIae, q.
80, a. 4 ad 3.
140 1 Jo 3, 8.
141 Jo 16, 11.
142 Cf. Ef 6, 12; Lc 22, 53.
143 Cf. De Civitate Dei, XIV, 28: CCL 48, 451.
144 Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 36.
145 Em grego o verbo é parakaleiu = invocar, chamar a
si.
146 Cf. Gén 6, 7.
147 Gén 6, 5-7.
148 Cf. Rom 8, 20-22.
149 Cf. Mt 15, 32, Mc 8, 2.
150 Hebr 9, 13 s.
151 Jo 20, 22 s.
152 Act 10, 38.
153 Hebr 5, 7 s.
154 Hebr 9, 14.
155 Cf. Lev 9, 24; 1 Rs 18, 38; 2 Crón 7, 1.
156 Cf.Jo 15, 26.
157 Jo 20, 22 s.
158 Mt 3, 11.
159 Cf Jo 3, 8.
160 Jo 20, 22 5.
161 Cf. Sequêcia Veni, Sancte Spiritus.
162 S. BOAVENTURA, De septem donis Spiritus Sancti,
Collatio II, 3: Ad Claras Aquas, V, 463.
163 Mc 1, 15.
164 Cf. Hebr 9, 14.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.