"Estes
dias – dizias-me – foram mais felizes do que nunca!". E respondi-te sem
hesitar: porque "viveste" um pouco mais entregue do que
habitualmente. (Sulco, 7)
Recordem
a parábola dos talentos. Aquele servo que só recebeu um podia – como os
companheiros – empregá-lo bem, procurar que rendesse, usando as suas
qualidades. E que decide? Tem medo de o perder. E está certo. Mas, e depois?
Enterra-o! E acaba por não dar fruto.
Não
esqueçamos este caso de temor doentio de aproveitar honradamente a capacidade
de trabalho, a inteligência, a vontade, o homem todo. Enterro-o – parece
afirmar esse desgraçado –, mas a minha liberdade fica a salvo! Não. A liberdade
inclinou-se para uma coisa muito concreta, para a mais pobre e árida secura.
Optou, porque não tinha outro remédio senão escolher; mas escolheu mal.
Nada
mais falso do que opor a liberdade à entrega, porque a entrega surge como
consequência da liberdade. Reparem que, quando uma mãe se sacrifica por amor
aos filhos, escolheu; e, segundo a medida desse amor, assim se manifestará a
sua liberdade. Se esse amor é grande, a liberdade será fecunda e o bem dos
filhos nasce dessa bendita liberdade, que pressupõe entrega, e nasce dessa
bendita entrega, que é precisamente liberdade.
Mas,
perguntar-me-ão, quando conseguimos o que amamos com toda a alma, já não
continuamos a procurá-lo. Desapareceu a liberdade? Garanto-vos que então é mais
activa do que nunca, porque o amor não se contenta com um cumprimento
rotineiro, nem se coaduna com o fastio e a apatia. Amar significa recomeçar
todos os dias a servir, com obras de carinho.
Insisto,
e gostaria de gravá-lo a fogo em cada um: a liberdade e a entrega não se
contradizem; apoiam-se mutuamente. A liberdade só se pode entregar por amor;
não concebo outra espécie de desprendimento. Não é um jogo de palavras mais ou
menos acertado. Na entrega voluntária, em cada instante dessa dedicação, a
liberdade renova o amor e renovar-se é ser continuamente jovem, generoso, capaz
de grandes ideais e de grandes sacrifícios. (Amigos
de Deus, 30–31)
© Gabinete de
Informação do Opus Dei na Internet
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