13/09/2011

Existe a esperança nos condenados?

Parece que existe a esperança nos condenados:
1. Com efeito, o diabo é condenado e é o chefe dos condenados, conforme se lê no Evangelho de Mateus: “Ide, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos(25, 41). Ora, o diabo tem esperança, segundo a palavra de Jó: “A esperança dele o frustrará(40, 28). Logo, parece que os condenados têm esperança.
2. Além disso, a esperança, como a fé, pode ser formada e informe. Ora, a fé informe pode existir nos demónios e nos condenados, segundo a Carta de Tiago: “Os demónios crêem e estremecem(2, 19). Logo, parece que os condenados também podem ter a esperança informe.
3. Ademais, nenhum homem pode, depois de sua morte, acrescentar mérito ou demérito que não teve em sua vida, segundo o livro do Eclesiastes: “Tombe uma árvore para o sul ou para o norte, para onde tombar, aí ficará(11, 3). Ora, muitos condenados tiveram esperança nesta vida e nunca desesperaram. Logo, também terão esperança na vida futura.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, a esperança causa alegria, segundo o Apóstolo: “Alegrai-vos na esperança(Rm 12, 12). Mas, os condenados não estão na alegria, mas na dor e nos prantos, conforme o livro de Isaías: “Meus servos cantarão, com o coração alegre! Mas vós gritareis com o coração aflito; vós bramireis com a alma angustiada!(65, 14). Logo, os condenados não têm esperança.
Suma Teológica: II-II, 18, 3

É da razão da bem-aventurança que cause a quietação da vontade; como é da essência da pena, que o castigo infligido como pena repugne à vontade. Ora, a vontade não pode encontrar seu repouso ou sofrer contradição da parte daquilo que ignora. E, por isso, Agostinho diz que os anjos não puderam ser perfeitamente felizes no seu primeiro estado, antes da confirmação na graça, nem miseráveis, antes da queda, pois não tinham presciência do que iria acontecer. Com efeito, para que haja verdadeira e perfeita bem-aventurança, o homem deve estar seguro da perpetuidade dela, sem o que a vontade não se aquietaria. Semelhantemente, como a perpetuidade da condenação faz parte do sofrimento dos condenados, ela não teria a razão de pena, se ela não repugnasse à vontade; o que não poderia se dar, se ela ignorasse a perpetuidade da condenação. Portanto, a condição de miséria dos condenados implica que eles saibam que jamais poderão escapar à condenação e conseguir a bem-aventurança eterna, conforme a palavra do livro de Jó: “Não crê que possa passar das trevas para a luz(15, 22). É claro, pois, que os condenados não podem conceber a bem-aventurança como um bem possível, assim como não o podem os bem-aventurados como um bem futuro. Portanto, nem os bem-aventurados nem os condenados têm esperança. Mas, podem tê-la os que estão nesta vida ou no purgatório, porque em ambas as situações concebem a bem-aventurança eterna como um bem futuro e possível.
Quanto às objecções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Gregório declara que esta palavra se aplica aos membros do diabo (Nota: isto é, os pecadores que a ele se submetem), cuja esperança está aniquilada; ou, se é aplicada ao próprio diabo, pode-se referir-se à esperança pela qual presume obter vitória sobre os santos, conforme o que antes fora dito: “Tem certeza que contra sua boca se lança um Jordão(Jó 40, 18). Ora, não é desta esperança que nós aqui tratamos.
2. Agostinho afirma: “A fé pode ter por objeto tanto as coisas más como boas, as passadas como as presentes e as futuras, as próprias e as alheias; mas a esperança limita-se às realidade boas, futuras e devidas a cada um”. E, por isso, a fé informe pode convir mais aos condenados do que a esperança, porque os bens divinos não são para eles futuros e possíveis, mas são ausentes.
3. A falta de esperança nos condenados não lhes faz variar o demérito, assim como o desaparecimento da esperança nos bem-aventurados não lhes aumenta o mérito; pois é a mudança de estado que provoca um e outro.


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