21/06/2011

Sobre a família 89

Educar em liberdade

EDUCAR A LIBERDADE
A educação bem pode entender-se como uma habilitação da liberdade em ordem a perceber o apelo do valioso – daquilo que enriquece e convida a crescer – e a enfrentar os seus requisitos práticos. E isso consegue-se propondo usos da liberdade, propondo tarefas plenas de sentido.
Cada idade da vida tem os seus aspectos positivos. Um dos mais nobres que tem a juventude é a facilidade para confiar e responder positivamente à exigência amável. Num tempo relativamente curto podem apreciar-se mudanças notáveis em jovens a quem se confiaram encargos que podiam assumir, e que consideravam importantes: ajudar uma pessoa, colaborar com os pais nalguma função educativa... 
Pelo contrário, essa nobreza manifesta-se, de forma pervertida e frequentemente violenta, contra aqueles que se limitam a satisfazer os seus caprichos. À primeira vista, esta atitude é mais cómoda, mas a longo prazo os custos são muito mais gravosos e, sobretudo, não ajuda a amadurecer, pois não os prepara para a vida.  

Quem se acostuma, desde pequeno, a pensar que tudo se resolve de forma automática, sem nenhum esforço ou abnegação, provavelmente não amadurecerá no tempo devido. E quando a vida magoar – coisa que inevitavelmente acontecerá – talvez não tenha arranjo. O homem deve modelar o seu carácter, aprender a esperar os resultados de um esforço longo e continuado, a superar a escravidão do imediato.

Certamente, o ambiente hedonista e consumista que hoje respiram muitas famílias no chamado “primeiro mundo” – e também noutros muitos ambientes de países menos desenvolvidos – não facilita captar o valor da virtude ou a importância de atrasar uma satisfação para obter um bem maior.
Mas face a esta circunstância adversa, o sentido comum põe de manifesto a importância do esforço; por exemplo, nos nossos dias tem especial vigor a referência à cultura desportiva, na qual se nota que quem deseja ganhar uma medalha tem de estar disposto a sofrer treinos prolongados e árduos.
Em geral, a pessoa que é capaz de se orientar livremente para bens que realmente “valem a pena”  deve estar preparada para enfrentar tarefas de grande envergadura (aggredi),e para resistir com tenacidade no empenho quando chega o desalento e aparecem as dificuldades (sustinere).Estas duas dimensões da fortaleza fornecem a energia moral para não nos conformarmos com aquilo que já foi conseguido e continuar a crescer, chegar a ser mais. Hoje é especialmente importante mostrar com eloquência que uma pessoa que dispõe dessa energia moral é mais livre do que quem não dispõe dela.
Todos estamos chamados a conseguir essa liberdade moral, que só se pode obter com um uso – não um uso qualquer – moralmente bom da liberdade de arbítrio. Constitui um desafio para os educadores, e em particular para os pais, mostrar de modo convincente que o uso autenticamente humano da liberdade não consiste tanto em fazer o que nos apeteça, mas em fazer o bem  porque nos dá na gana, que é a razão mais sobrenatural, como costumava dizer S. Josemaria. [i]
É esse o caminho para se libertar do clima asfixiante de suspeita e de coação moral, que impedem procurar pacificamente a verdade e o bem e aderir cordialmente a eles. Não há cegueira maior do que a de quem se deixa levar pelas paixões, pelas “ganas” (ou pela falta delas). Quem só pode aspirar ao que lhe apetece é menos livre do que aquele que pode procurar, não apenas em teoria mas com obras, um bem árduo.
Não há desgraça maior do que a de quem, ambicionando um bem, se surpreende sem forças para o levar a cabo. Porque a liberdade encontra todo o seu sentido quando se exercita no serviço da verdade que resgata, quando se gasta em procurar o Amor infinito de Deus, que nos desata de todas as escravidões. [ii]

j.m. barrio
© 2011, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet


[i] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 17.
[ii] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 27.

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