16/04/2011

A Páscoa e a Ordem

Duc in altum
As quatro narrativas da Paixão e Ressurreição de Jesus oferecemnos o forte contraste da confusão dos discípulos com a serenidade do Salvador. Neles tudo é agitação, aflição e perplexidade; em Cristo, firmeza e paz. Quando, finalmente esperançados, Pedro e João correm para o sepulcro vazio, nada encontram que se assemelhe à desordem de um roubo ou de uma saída precipitada. Tudo está arrumado: «os lençóis postos no chão e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus (…) enrolado num lugar à parte» (Jo 20, 7-8). Tanto bastou para acreditarem; Jesus saíra do sepulcro por Sua livre vontade e, como sempre, perfeitamente senhor de Si mesmo.

É, sem dúvida, um aspecto muito secundário da Páscoa, mas que vale a pena considerar: a paz e a ordem são atributos divinos e humanos, que fazem parte da imitação de Cristo.

Dizia com sentido prático S. Josemaria que o homem possui quatro faculdades: inteligência, memória, vontade… e agenda. Esta é, de facto, indispensável para conseguirmos a devida ordem no dia-a-dia. Não apenas como auxiliar da memória, mas inclusive como ordenadora das nossas ocupações.

Na verdade, cometemos com frequência o erro de tentar «organizar» a nossa vida, como se esta consentisse ser dominada a nosso bel-prazer. E daí vêm muitas ilusões e desilusões: porque julgamos que o trabalho nos deve obedecer, quando são os afazeres profissionais e familiares que nos condicionam implacavelmente.

A agenda tem uma função muito mais humilde: recordar-nos as nossas obrigações, prever o que teremos de fazer hoje, amanhã, depois, daqui a quinze dias, um mês mais tarde… e humildemente cingir-nos ao horário que a vida nos impõe. E descobrir então o tempo que realmente é «nosso», ou seja, que podemos aproveitar livremente.

No fundo, a ordem consiste sobretudo na previsão; e menos na organização. Mas a previsão faz-nos efectivamente «dominar» o tempo: nada nos «cai em cima» de supetão; já o espero. Já estou preparado. Não me apanha desprevenido. Nada é urgente…

Bom, reconheçamos que a mais cuidadosa previsão não evita o imprevisto; simplesmente, como dizia outro grande trabalhador, se nos preparamos para o que é previsível, estamos preparados para o imprevisto. E reconheçamos que sempre acaba por haver coisas urgentes… Mas também para esses casos S. Josemaria nos dava um bom conselho: «O que é urgente pode esperar; o que é muito urgente deve esperar».

A agenda enche-se, quase nos assusta; mas - é curioso - afinal, entre os rabiscos ou os lembretes que se acumulam, sempre se abrem clareiras, às vezes de largo espectro - aquelas horas que costumamos gastar em declarações de cansaço e queixas de não termos tempo para nada…

P. Hugo de Azevedo


 INFORMAÇÕES MUITO BREVES    [De vez em quando] 2011.04.13

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