PASTORAL SOCIAL
SECRETARIADO DIOCESANO
COMISÃO DIOCESANA “JUSTIÇA E PAZ”
A face positiva da crise
Conta, peso e medida |
Numa crise, porém, nem tudo é mau, ponderando o potencial de mudança que ela em si contém. Na etimologia grega (krisis), a crise tem a ver com o discernimento que ocorre num processo de mudança ou passagem de uma situação a outra. Diríamos mesmo que a crise é a chave do progresso, sem se negar que o momento da crise vem sempre carregado de dificuldades.
A crítica situação económica/financeira da nossa sociedade traduz-se em desemprego, recessão económica que mais o agravará (os já mais de 600.000 desempregados aumentarão mais e mais), redução de salários, extinção de apoios sociais, etc., etc. Não serão, pois, fáceis os tempos que se aproximam.
Num primeiro momento, seremos tentados a imputar aos políticos a responsabilidade da situação e a esperar que eles a resolvam, dando-nos por quites com a escolha que fazemos no momento do voto.
Mas isso é pouco, muito pouco mesmo.
Precisamos de ir ao fundo da questão, indagar das suas causas e da nossa quota-parte de responsabilidade na eclosão desta crise sob pena de a sua superação, quando supostamente ocorrer, mais não ser que o protelar de outra crise ainda maior.
Sem pretender retirar culpas a quem as tenha – políticos, banqueiros, agentes económicos… – haveremos de reconhecer que muita gente, embarcando no erro crasso de que poderia viver acima das possibilidades, deixou-se embriagar na espiral do consumismo e na perigosa ilusão de que a felicidade anda de mãos dadas com a abundância do ter, jamais lhes passando pela cabeça que haveria de chegar o momento de apresentação da factura.
A montante da crise económica está, pois, uma crise bem mais grave, a crise moral ou crise dos valores, pelo que será pura ilusão pensar que aquela será ultrapassada sem uma profunda revisão dos “valores” que a geraram.
Esta é a área de intervenção da Igreja, denunciar os falsos valores que estiveram na génese da crise moral, a mãe de todas as crises: a crise económica já instalada, e a crise social que já se pressente, de contornos e consequências difíceis de prever em toda a sua dimensão.
Ao longo dos anos foram violados valores fundamentais da vida social, designadamente os valores da Verdade e da Justiça Social.
Confundiu-se Verdade com “opinião da maioria”, e assim se legitimou a violação dos maiores valores da humanidade: o direito à vida nascente, com a legalização do aborto; a estabilidade do casamento, com a desordenada abertura ao divórcio e a proliferação da união de facto; por fim, o próprio casamento, com as uniões homossexuais.
Em suma, o edifício social assente sobre alicerces falsos!
Quanto a justiça social, agravou-se o fosso entre os muito ricos e os pobres: escandalosos vencimentos de milhões (gestores públicos…) versus salários e reformas de tostões.
Princípios estruturais da vida em sociedade, como os Princípios da Solidariedade e do Bem Comum foram flagrantemente substituídos por oportunismo dos mais bem posicionados na sociedade, e o princípio da Subsidiariedade, que é vital em qualquer sociedade, foi demagogicamente sacrificado em nome do alegado Estado Social, um Estado que quis chamar a si o múnus de tudo fazer e tudo assumir – na saúde, na educação, na segurança social… – não deixando aos entes intermédios e ao cidadão o espaço que lhes é próprio.
Nada adiantará pretender consertar o tecto e as paredes do edifício, sem previamente firmar os alicerces: à busca desenfreada do ter como factor de felicidade, há que contrapor a construção do ser; ao oportunismo, o trabalho e a honestidade; ao egoísmo, a solidariedade para com quem não teve as mesmas oportunidades. Mas acima de tudo, há que repor a Verdade, os Princípios, os Valores.
Se a sociedade aproveitar esta crise para, reflectindo sobre as suas causas, rectificar o que está errado, não será em vão o sacrifício que ora temos que suportar. Essa será a face positiva desta crise.
Não iremos ficar-nos pela crise, somos incentivados a acreditar na sua superação, conscientes, porém, de que à custa de muito suor e lágrimas. A tanto nos induz a reflexão desta Semana Maior que nos diz que o acontecimento de Sexta-Feira Santa só aparentemente foi um fracasso, porquanto a última palavra foi proferida no Domingo a seguir.
A Esperança é o alento do cristão e, neste momento de desalento da nossa sociedade, será o grande contributo que lhe presta.
Votos de uma Santa Páscoa vivida na alegria da Vitória da Vida sobre a morte, são os votos que aos seus leitores formula
Comissão Diocesana "Justiça e Paz"
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