Novo Testamento
Evangelho
Lc XII, 42-59; Lc XIII, 1-5
Exortação à vigilância
42 O Senhor respondeu: «Quem será, pois,
o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal
para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? 43 Feliz o servo a quem o senhor,
quando vier, encontrar procedendo assim. 44 Em verdade vos digo que o porá à
frente de todos os seus bens. 45 Mas, se aquele administrador disser consigo
mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’ e começar a espancar servos e servas, a
comer, a beber e a embriagar-se, 46 o senhor daquele servo chegará no dia em
que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte,
fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. 47 O servo que, conhecendo a vontade
do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será
castigado com muitos açoites. 48 Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas
dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será
exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»
Por Jesus ou contra Jesus
49
«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse
ateado! 50 Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele
se realize! 51 Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo
digo, mas antes a divisão. 52 Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos
numa só casa: três contra dois e dois contra três; 53 vão dividir-se: o pai contra
o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a
sogra contra a nora e a nora contra a sogra.» 54 Dizia também às multidões: «Quando
vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: ‘Vem lá a chuva’; e assim
sucede. 55 E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai haver muito calor’; e assim
acontece. 56 Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é
que não sabeis reconhecer o tempo presente?» 57 «Porque não julgais por vós
mesmos, o que é justo? 58 Por isso, quando fores com o teu adversário ao
magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao
juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te
na prisão. 59 Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último
centavo.»
Necessidade da penitência
XIII 1
Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos
tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. 2 Respondeu-lhes:
«Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus,
por terem assim sofrido? 3 Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes,
perecereis todos igualmente. 4 E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de
Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de
Jerusalém? 5 Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos
da mesma forma.»
Texto
MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
PARA A QUARESMA DE 1991
Amados
irmãos e irmãs em Cristo:
A grande Encíclica de Leão XIII, a Rerum Novarum, da
qual se comemora o centenário, iniciou um novo capítulo da doutrina social da
Igreja. Pois bem, uma constante deste ensinamento é também o convite
infatigável ao empenho solidário, tendente a debelar a pobreza e o
subdesenvolvimento em que vivem milhões de seres humanos.
Não obstante a criação, com os seus bens, seja
destinada a todos, hoje grande parte da humanidade continua a sofrer sob o peso
intolerável da miséria. Numa tal situação há necessidade de caridade e
solidariedade vividas, como afirmei na Encíclica Sollicitudo rei socialis, para
significar quanto seja urgente actuar para o bem dos outros, e estarmos prontos
a esquecer-nos de nós mesmos – no sentido evangélico – para servirmos os
outros, em vez de os oprimir para nosso proveito.
1. Neste tempo de Quaresma dirigimo-nos de novo a
Deus, rico de misericórdia, fonte de todo o bem, para lhe pedir que nos liberte
do nosso egoísmo, e nos dê um coração novo e um novo espírito.
A Quaresma, e o período pascal que vem a seguir,
põem diante de nós a identificação total de Nosso Senhor Jesus Cristo com os
pobres. O filho de Deus, que se fez pobre por nosso amor, identifica-se com
aqueles que sofrem. Esta identificação plena encontra a sua expressão mais
evidente nas palavras do Senhor: «Todas as vezes que fizestes isto a um destes
meus irmãos mais pequenos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 40).
2. No ápice da Quaresma, a Quinta-feira Santa, a
Liturgia recorda-nos a instituição da Eucaristia, memorial da paixão, morte e
ressurreição de Cristo. É aqui, neste sacramento no qual a Igreja celebra a
profundidade da sua fé, que devemos ir buscar a consciência viva de Cristo
pobre, sofredor, perseguido. Aquele Cristo, Jesus, que tanto nos amou ao ponto
de dar a sua vida por nós e que se dá a nós na Eucaristia como alimento de vida
eterna, é o mesmo Cristo que nos convida a vê-lo no corpo e na vida daqueles
pobres, com os quais manifestou a sua plena solidariedade.
São João Crisóstomo colheu magistralmente esta
identificação, afirmando: «Se quiserdes honrar o Corpo de Cristo, não o
desprezeis quando está nu; não honreis Cristo eucarístico com paramentos de
seda, ignorando aquele outro Cristo que, fora dos muros da Igreja, sofre o frio
e a nudez» (cf. Om. in Mattaheum, n. 50, 3-4, PG 58).
3. Neste tempo de Quaresma é bom reflectir sobre a
parábola do rico opulento e de Lázaro. Todos os homens são chamados a
participar no banquete dos bens da vida, e todavia tantos encontram-se ainda
fora da porta, como Lázaro, enquanto «os cães iam lamber-lhe as feridas» (Lc 16,
11).
Se ignorássemos a multidão imensa de pessoas
humanas que não só estão privadas do estricto necessário para viver (alimento,
casa, assistência médica) mas que não têm sequer a esperança num futuro melhor,
tornar-nos-íamos como o rico opulento que finge não ver o pobre Lázaro (cf. Lc
16, 19-31).
Devemos, por isso, ter bem impressa nos olhos a
imagem da miséria assustadora, que aflige tantas partes do mundo; e por isso,
com esta intenção, repito o apelo que – em nome de Jesus Cristo e em nome de
toda a humanidade – dirigi a todos os homens durante a minha última visita ao
Sahel: «Como julgará a história uma geração que, tendo todos os meios para
nutrir (aquelas populações) do planeta, com indiferença fratricida se recusa a
fazê-lo?... Como pode deixar de ser um deserto, um mundo no qual a pobreza não
encontra um amor capaz de dar a vida?» (cf. L'Osservatore Romano, 31 de Janeiro
de 1990, p. 6).
Volvendo o nosso olhar para Jesus Cristo, o bom Samaritano,
não podemos esquecer que – desde a pobreza da manjedoura à espoliação total da
Cruz – Ele se fez um com os últimos. Ensinou-nos o desapego das riquezas, a
confiança em Deus, a disponibilidade à partilha. Exorta-nos a volver o olhar
para os nossos irmãos e irmãs, que vivem na miséria e no sofrimento, com o
espírito de quem - pobre - sabe que depende totalmente de Deus e Dele tem
necessidade absoluta. O modo como nos comportamos será a verdadeira, autêntica
medida do nosso amor a Ele, fonte de vida e de amor, e sinal de nossa
fidelidade ao seu Evangelho. Que a Quaresma aumente em todos esta consciência e
este empenho de caridade, para que não passe em vão mas nos conduza,
verdadeiramente renovados, para a alegria da Páscoa.
IOANNES PAULUS PP. II
© Copyright - Libreria Editrice Vaticana
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