Novo Testamento
Evangelho
Lc XIII, 6-30
A figueira estéril
6 Disse-lhes, também, a seguinte
parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar
frutos, mas não os encontrou. 7 Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos
que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que
está ela a ocupar a terra?’ 8 Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este
ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. 9 Se der
frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’»
Cura da mulher encurvada
10
Um dia de sábado, ensinava Jesus numa sinagoga. 11 Estava lá certa mulher
doente por causa de um espírito, há dezoito anos: andava curvada e não podia
endireitar-se completamente. 12 Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher,
estás livre da tua enfermidade.» 13 E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela
endireitou-se e começou a dar glória a Deus. 14 Mas o chefe da sinagoga,
indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis
dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para
serdes curados e não em dia de sábado.» 15 Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas,
não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e
o leva a beber? 16 E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há
dezoito anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» 17 Dizendo isto,
todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com
todas as maravilhas que Ele realizava.
O grão de mostarda e o fermento
18
Disse, então: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? 19
É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal.
Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus
ramos.» 20 Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus? 21 É semelhante
ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até
ficar levedada toda a massa.»
A porta estreita
22 Jesus percorria cidades e aldeias,
ensinando e caminhando para Jerusalém. 23 Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos
os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: 24 «Esforçai-vos por entrar pela porta
estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. 25 Uma
vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora e batereis,
dizendo: ‘Abre-nos, Senhor!’ Mas ele há-de responder-vos: ‘Não sei de onde
sois.’ 26 Começareis, então, a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste
nas nossas praças.’ 27 Responder-vos-á: ‘Repito-vos que não sei de onde sois.
Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.’ 28 Lá haverá pranto e
ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no
Reino de Deus, e vós a serdes postos fora. 29 Hão-de vir do Oriente, do
Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus. 30 E há últimos
que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos.»
Texto
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
JOÃO PAULO II
PARA A QUARESMA DE 1993
«Tenho sede» (Jo 19,28)
Amados irmãos e irmãs,
1. Durante o santo tempo da Quaresma, a Igreja
retoma mais uma vez o caminho que conduz à Páscoa. Guiada por Jesus e seguindo
os seus passos ela envolve-nos na travessia do deserto.
A história da Salvação deu ao deserto um
significado religioso e profundo. Conduzido por Moisés e mais tarde iluminado
por outros profetas, o Povo eleito pôde, através de privações e sofrimentos,
experimentar a presença fiel de Deus e da sua misericórdia; alimentou-se com o
pão descido do céu e extinguiu a sede com a água que brotava da rocha; o Povo
de Deus cresceu na fé e na experiência do evento do Messias redentor.
Foi também no deserto que João Baptista pregou e as
multidões acorreram a ele para receber, nas águas do Jordão, o baptismo de
penitência: o deserto foi um lugar de conversão para acolher Aquele que vem
para vencer a desolação e a morte ligadas ao pecado. Jesus, o Messias dos
pobres que ele cumula de bens (cf. Lc 1, 53), deu início à sua missão assumindo
a condição daquele que tem fome e sede no deserto.
Amados irmãos e irmãs, convido-vos, ao longo desta
Quaresma, a meditar a Palavra de vida deixada por Cristo à sua Igreja a fim de
que ilumine o itinerário de cada um dos seus membros. Reconhecei a voz de Jesus
que vos fala, especialmente neste tempo de Quaresma, no Evangelho, nas
celebrações litúrgicas, nas exortações dos vossos pastores. Escutai a voz de
Jesus que, aflito pela fadiga e pela sede diz à Samaritana junto da fonte de
Jacó: "dá-me de beber" (Jo 4, 7). Contemplai Jesus pregado na cruz,
expirando, e escutai a sua voz apenas perceptível: "Tenho sede" (Jo
19, 28). Hoje Cristo repete o seu apelo e revive os tormentos da sua agonia nos
nossos irmãos e nos pobres.
Convidando-nos, com a vivência da Quaresma, a
percorrer os caminhos do amor e da esperança traçados por Cristo, a Igreja
ajuda-nos a compreender que a vida cristã comporta o desapego dos bens
supérfluos, a aceitação da pobreza que nos liberta e que nos dispõe a descobrir
a presença de Deus e a acolher os nossos irmãos com solidariedade cada vez mais
activa e em comunhão cada vez mais ampla.
Recordai, pois, a palavra do Senhor: "Quem
der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu
discípulo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa" (Mt 10,
42). Meditai com todo o coração e com esperança naquelas outras palavras:
"Vinde, benditos de meu Pai,... pois tive sede e me destes de beber"
(Mt 25, 34-35).
Durante a Quaresma de 1993, para concretizar a
solidariedade e a caridade fraterna associadas à busca espiritual deste tempo
forte do ano litúrgico, peço aos membros da Igreja que volvam particular
atenção aos homens e mulheres, provados pela desertificação dramática das suas
terras e àqueles que, em demasiadas regiões do mundo, têm falta deste bem
elementar, mas indispensável à vida, que é a água.
Sentimo-nos inquietos por ver que hoje o deserto
avança e abrange terras que ainda ontem eram prósperas e férteis. Não podemos
esquecer que, em muitos casos, o próprio homem foi causa da esterilização de
terras que se tornaram desertas e da poluição de águas que antes eram sãs.
Quando não se respeitam os bens da terra, quando se abusa deles, age-se de
maneira injusta e até mesmo criminosa, porque as consequências são miséria e
morte para muitos nossos irmãos e irmãs.
Preocupa-nos também profundamente ver que inteiros
povos, milhões de seres humanos, estão reduzidos à indigência, padecem a fome e
são atingidos por doenças porque privados de água potável. De facto, a fome e
numerosas doenças estão intimamente relacionadas com a seca e a poluição das
águas. Lá onde as chuvas são raras e onde as nascentes de água secam, a vida
torna-se mais frágil e diminui até desaparecer. Zonas imensas da Africa são
atingidas por este flagelo; mas o mesmo verifica-se também nalgumas regiões da
América Latina e da Austrália.
Além disso, está à vista de todos que o
desenvolvimento industrial anárquico e o emprego de tecnologias que rompem o
equilíbrio natural, causaram prejuízos graves ao ambiente, provocando sérias
catástrofes. Corremos o risco de deixar em herança às gerações futuras, em
muitas partes do mundo, o drama da sede e do deserto.
Convido-vos calorosamente a ajudar com generosidade
as instituições, as organizações e as obras sociais que se ocupam das
populações aflitas por carestias ou pela sede e submetidas às dificuldades da
desertificação crescente. Exorto-vos igualmente a colaborar com todos aqueles
que se esforçam por analisar cientificamente todos os factores da
desertificação e por descobrir os meios para lhe pôr remédio.
Oxalá a generosidade activa dos filhos e das filhas
da Igreja, bem como de todos os homens e mulheres de boa vontade, possa
apressar a realização da profecia de Isaías: "Porque a água jorrará do
deserto, e rios, da estepe. A terra seca se transformará em brejo, e a terra
árida em mananciais de água" (35, 6-7)!
De todo o coração vos abençoo, em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo. Amém.
Vaticano, 18 de Setembro de 1992.
IOANNES PAULUS PP. II
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