31/03/2021

Leitura Espiritual Mar 31

 


Novo Testamento

 

Evangelho

 

Lc XVI, 1-31



 

Advertência aos discípulos

XII 1 Entretanto, a multidão tinha-se reunido; eram milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos: «Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2 Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. 3 Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. 4 Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. 5 Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. 6 Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. 7 Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros. 8 Digo-vos ainda: Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. 9 Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus.

 

Pecado contra o Espírito Santo

10 E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará. 11 Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, 12 pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que deveis dizer.» 

 

Cuidado com a avareza

13 Dentre a multidão, alguém lhe disse: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» 14 Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» 15 E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» 16 Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. 17 E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: ‘Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?’ 18 Depois continuou: ‘Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. 19 Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ 20 Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ 21 Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»

 

Confiança em Jesus

 

22 Em seguida, disse aos discípulos: «É por isso que vos digo: Não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir; 23 pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestuário. 24 Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, e Deus alimenta-os. Quanto mais não valeis vós do que as aves! 25 E quem de vós, pelo facto de se inquietar, pode acrescentar um côvado à extensão da sua vida? 26 Se nem as mínimas coisas podeis fazer, porque vos preocupais com as restantes? 27 Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. 28 Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé! 29 Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, 30 pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. 31 Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo.

 

Texto

 


MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

PAPA JOÃO PAULO II

PARA A QUARESMA DE 1996

 

 

Amados Irmãos e Irmãs!

 

1. O Senhor chama-nos, uma vez mais, a segui-Lo pelo itinerário quaresmal, caminho anualmente proposto a todos os fiéis, para que renovem a sua resposta pessoal e comunitária à vocação baptismal e produzam frutos de conversão. A Quaresma é um caminho de reflexão dinâmica e criativa que impele à penitência, para robustecer todo o propósito de compromisso evangélico; um caminho de amor, que abre o ânimo dos crentes aos irmãos, elevando-os para Deus. Jesus pede aos seus discípulos que vivam e difundam a caridade, o mandamento novo que representa um magistral resumo do Decálogo divino, confiado a Moisés no Monte Sinai. Na vida de todos os dias, sucede encontrarmos famintos, sedentos, doentes, marginalizados, migrantes. Durante o tempo quaresmal, somos convidados a olhar, com mais atenção, os seus rostos carregados de sofrimento; rostos que testemunham o desafio das pobrezas do nosso tempo.

 

2. O Evangelho destaca como o Redentor experimenta singular compaixão por aqueles que vivem em dificuldade; fala-lhes do Reino de Deus e cura os enfermos no corpo e no espírito. Depois diz aos discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer». Mas eles reparam que só têm cinco pães e dois peixes. Também nós hoje, como então os Apóstolos em Betsaída, dispomos de meios, sem dúvida, insuficientes para valer eficazmente a cerca de oitocentos milhões de pessoas famintas ou mal nutridas, que, às portas do ano 2000, lutam ainda pela sua sobrevivência.

 

Que fazer então? Deixar as coisas como estão, rendendo-nos à impotência? É esta a pergunta para a qual, ao início da Quaresma, desejo chamar a atenção de cada fiel e de toda a comunidade eclesial. A multidão de famintos, composta de crianças, mulheres, anciãos, migrantes, deslocados, desempregados, dirige-nos o seu grito de dor. Imploram-nos, esperando ser ouvidos. Como não tornar atentos os nossos ouvidos e vigilantes os nossos corações, começando por pôr à disposição aqueles cinco pães e os dois peixes que Deus colocou em nossas mãos? Todos podemos fazer qualquer coisa por eles, dando cada um o seu próprio contributo. Isto requer certamente renúncias, que supõem uma conversão interior e profunda. É preciso, sem dúvida, rever os comportamentos consumistas, combater o hedonismo, opor-se à indiferença e à delegação das responsabilidades.

 

3. A fome é um drama enorme que aflige a humanidade : urge tomar ainda maior consciência do mesmo e oferecer um apoio convicto e generoso às várias Organizações e Movimentos, nascidos para aliviar os sofrimentos de quem corre o risco de morrer por carência de alimento, privilegiando aqueles que não são atingidos por programas governamentais e internacionais. Impõe-se apoiar a luta contra a fome, tanto nos países menos avançados como nas nações altamente industrializadas, onde, infelizmente, vai sempre aumentando a distância que separa os ricos dos pobres.

 

A terra está dotada dos recursos necessários para saciar a humanidade inteira. É preciso sabê-los usar com inteligência, respeitando o ambiente e os ritmos da natureza, garantindo a equidade e a justiça nas trocas comerciais, e uma distribuição das riquezas que tenha em conta o dever da solidariedade. Alguém poderia objectar que se trata de uma enorme e quimérica utopia. O ensinamento e a acção social da Igreja, porém, demonstram o contrário: sempre que os homens se convertem ao Evangelho, esse projecto de partilha e solidariedade torna-se uma estupenda realidade.

 

4. Na verdade, enquanto vemos, por um lado, ser destruídas grandes quantidades de produtos necessários à vida do homem, por outro, descobrimos com amargura longas filas de pessoas que aguardam a sua vez junto das mesas dos pobres ou à volta dos comboios das Organizações humanitárias, ocupadas a distribuir ajudas de toda a espécie. Mas, também nas modernas metrópoles, à hora de encerramento dos mercados locais, não é raro vislumbrar gente desconhecida que se inclina a rebuscar o rebotalho das mercadorias ali abandonado.

 

Diante de tais cenas, sintomas de profundas contradições, como não experimentar no espírito um sentimento de revolta interior? Como não sentir-se tocado por um impulso espontâneo de caridade cristã? A autêntica solidariedade, todavia, não se improvisa; só através de um paciente e responsável trabalho de formação, realizado desde a infância, é que aquela se tornará um hábito mental da pessoa, englobando os diversos campos de actividade e responsabilidade. Requer-se um processo geral de sensibilização, capaz de envolver toda a sociedade. A Igreja Católica, em colaboração cordial com as outras Confissões religiosas, deseja oferecer o seu próprio e qualificado contributo para um tal processo. Trata-se de um fundamental esforço de promoção do homem e de partilha fraterna, que não pode deixar de ver ai empenhados também os próprios pobres, segundo as suas possibilidades.

 

5. Amados Irmãos e Irmãs! Ao mesmo tempo que vos confio estas reflexões quaresmais, para que as desenvolvais individual e comunitariamente sob a guia dos vossos Pastores, exorto-vos a cumprir gestos significativos e concretos, capazes de multiplicar aqueles poucos pães e peixes, de que dispomos. Contribuir-se-á assim validamente para fazer frente aos vários géneros de fome, sendo este um modo autêntico de viver o providencial período da Quaresma, tempo de conversão e reconciliação.

 

Nestes empenhativos propósitos, sirva-vos de apoio e conforto a Bênção Apostólica, que de bom grado concedo a cada um de vós, pedindo ao Senhor a graça de nos encaminhar generosamente, mediante a oração e a penitência, para as celebrações da Páscoa.

 

Castel Gandolfo, 8 de Setembro, Natividade da Virgem Santa Maria, do ano 1995, décimo sétimo de Pontificado.

 

IOANNES PAULUS PP II

 

 

© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

 

 

 

Reflexão na Semana Santa

 


Leiamos constantemente a Paixão do Senhor. 

Que rico ganho, quanto proveito tiraremos! 

Porque ao contemplá-Lo sarcasticamente adorado, com gestos e com acções, e pálido de troças, e depois desta farsa esbofeteado e submetido aos últimos tormentos, ainda que sejas mais duro que uma pedra, tornar-te-ás mais brando que a cera, e expulsarás toda a soberba da tua alma.

 

(São João Crisóstomo, Homílias sobre São Mateus, 87, 1)

VIRTUDES

 


Prudência 2

A prudência está relacionada com a inteligência, mais ainda, segundo ensina a tradição filosófica, está na razão prática, isto é, na razão enquanto orientada e disposta para a praxis, para a acção. Mas pressupõe o desejo e o amor ao bem. É isto que distingue a prudência da astúcia, e também da ‘prudência da carne’ de que São Paulo fala (cf. Rm 8, 6): "a daqueles que têm inteligência, mas procuram não a usar para descobrir e amar Nosso Senhor. A verdadeira prudência é a que permanece atenta às insinuações de Deus e, nessa vigilante escuta, recebe na alma promessas e realidades de salvação"2.

Sagrada Escritura: "o sábio de coração será chamado prudente" (Pr 16, 21)

Pequena agenda do cristão

  

Quarta-Feira

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


30/03/2021

Leitura Espiritual Mar 30

 


Novo Testamento

 

Evangelho

 

Lc XV, 1-32

 


A ovelha perdida

XV 1 Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2 Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 3 Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: 4 «Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5 Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6 e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ 7 Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.»

 

A drácma perdida

8 «Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9 E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ 10 Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.»

 

O filho pródigo

11 Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. 12 O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14 Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. 15 Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. 16 Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17 E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ 20 E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. 21 O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ 22 Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. 23 Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24 porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. 25 Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. 26 Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. 27 Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ 28 Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29 Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; 30 e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ 31 O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»

Texto

 


Lembremo-nos da experiência tão humana da despedida de duas pessoas muito amigas. Desejariam ficar sempre juntas, mas o dever - ou seja o que for - obriga-as a afastar-se uma da outra. Não podem, portanto, continuar uma junto das outra, como seria do seu gosto. Nestas ocasiões, o amor humano, que por maior que seja, é sempre limitado, costuma recorrer aos símbolos. As pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, talvez uma fotografia onde se escreve uma dedicatória tão calorosa, que até admira que não arda o papel. Mas não podem ir além disso, porque o poder das criaturas não vai tão longe como o seu querer.

 

Ora o que não está na nossa mão, consegue-o o Senhor. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas uma realidade. Fica Ele mesmo. Embora vá para o Pai, permanece entre os homens. Não nos deixará um simples presente que nos faça evocar a sua memória, alguma imagem que tenda a apagar-se com o tempo, como uma fotografia que a pouco e pouco se vai esvaindo e amarelecendo até perder o sentido para quem não interveio naquele momento amoroso. Sob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente, com o seu Corpo, o seu Sangue, a alma e a sua Divindade.[1]

 

O Senhor ensina-nos que devemos ser humildes e que devemos procurar conforto nos outros quando estivermos tristes, ainda que o que tenta consolar-nos seja mais ignorante do que nós.[i]

 

O que quiser na verdade venerar a Paixão do Senhor deve contemplar de tal forma Jesus crucificado com os olhos da alma, que reconheça a sua própria carne na carne de Jesus. [ii]

 

O valor do Crucifixo como ajuda para a oração e a vida cristã é evidente: não há símbolo que nos lembre tão vivamente o infinito Amor de Deus pelo homem como esta imagem do próprio Filho de Deus pregado na Cruz por amor de nós, para que possamos alcançar a vida eterna. Nada pode incitar-nos mais ao arrependimento dos nossos pecados do que essa representação de Jesus crucificado por nossas culpas. Nada pode ser melhor âncora nas nossas tribulações e contrariedades de cada dia que esta imagem de Cristo agonizante, que dá sentido e valor ao nosso sofrimento.[2]

 

Foi para Getsemani com os Seus, e pediu-Lhes que O acompanhassem: o ficai aqui e depois velai coMigo, apesar da sua forma imperativa, eram na realidade um pedido, uma petição, a forma premente de expressar a Sua necessidade humana de companhia e a necessidade imperiosa que os discípulos tinham desse unirem à Sua oração. Faltam palavras para descrever o amor de Deus à liberdade: convoca-nos como testemunhas da prodigiosa riqueza da Sua vida e do seu interesse pela nossa salvação, mas nem nesses momentos transcendentes Se impõe.[3]

 

Quando Jesus desperta os discípulos adormecidos e os exorta à oração, vinha de experimentar, na Sua própria, as mais graves dificuldades. Ele não pode estranhar que a nós nos custe orar. Mas a luta santa – a agonia de que fala São Lucas – que o Senhor teve que enfrentar e vencer põe diante dos olhos que não se entra por caminhos de verdadeira vida interior se não há verdadeira luta por perseverar na oração: uma luta que, de um modo ou outro, é a de nos acomodarmos plenamente à Vontade Divina.[4]

 

Se vês que adormeço; se descobres que me assusta a dor; se notas que me detenho ao ver mais de perto a Cruz, não me deixes! Diz-me como a Pedro, como a Tiago, como a João, que necessitas da minha correspondência, do meu amor. Diz-me para seguir-te, para não voltar a deixar-te abandonado com os que tramam a Tua morte, tenho que passar por cima do sono, das minhas paixões, da comodidade.[5]

 

Em Getsemani, quando a Sua oração pela humanidade chegava ao cume da Sua acção salvifíca, sentiu pena pela indiferença dos Apóstolos, que afirmavam amá-Lo, e O amavam realmente, mas não totalmente: essa indiferença acentuou-se entre os que, por ignorância ou pela maldade do pecado, nem sequer punham os olhos n’Ele.[6]

 

 



[1] São Josemaria, Cristo que Passa, 83

[2] Cfr. Leo J. Trese, A Fé Explicada, Edições Quadrante, São Paulo, 4ª Ed., nr. 338

 

[3] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Cap. I, 4

 

[4] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Pg. 1160

[5] Cfr.M. Montenegro, Via Crucis, Palabra, 6ª Ed., Madrid, 1971, nr. 48

 

[6] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Cap. I, 10

 



[i] (Luís de Palma, A Paixão do Senhor, Éfeso, 1991, pg. 81-82)

[ii] (São Leão Magno, Sermão 15 sobre a Paixão)

Reflexão na Semana Santa

 


Porque Nossa Senhora não se afastou do Calvário?

No fim e ao cabo, nada podia fazer, e a sua presença não evitava nem aliviava as dores do seu Filho nem a Sua humilhação. E não  fez pela mesma razão que uma mãe permanece junto ao leito do seu filho agonizante em lugar de se afastar e distrair-se, já que não pode fazer nada para que continue vivendo ou deixe de sofrer. A Virgem solidarizou-se com o seu Filho; o seu amor levou-a sofrer com Ele.  

(F. Suarez, A Virgem Nossa Senhora, pg. 294)

Pequena agenda do cristão

   Pequena agenda do cristão - Terça-Feira

 

TeRÇa-Feira

Pequena agenda do cristão 

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Orações sugeridas:

Salmo II

Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient. 
Quare fremerunt gentes et populi meditati sunt inania?
Astiterum reges terrae et principes convenerunt in unum adversus Dominum et adversus christum eius.
Dirumpamus vincula eorum et proiciamos a nobis iugum ipsorum.
Qui habitabit in caelis, irridebit eos, Dominus subsanabit eos.
Ego autem constitui regem meum super sion montem sanctum meum.
Praedicabo decretum eius Dominus dixit ad me: filius meus es tu; ego hodie genui te.
Postula a me, et dabo tibi gentes hereditatem tuam et possessionem tuam terminos terrae.
Reges eos in virga ferrea et tamquam vas figuli confringes eos.
Et nunc, reges, intelegite, erudimini, qui indicatis terram.
Servite Domino in timore et exultate ei cum tremore.
Apprehendite disciplinam ne quando irascatur et pereatis via, cum exarcerit in brevi ira eius.
Beati omnes qui confident in eo.
Gloria Patri...
Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient.
Oremus:
Omnipotens et sempiterne Deus qui in dilecto Filio Tuo universorum rege omnia instaurare voluisti concede propitius ut cunctae familiae gentium pecati vulnere disgregatae eius suavissimo subdantur imperio: Qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum.

Exame Pessoal

Sabes Senhor, qual é, talvez a minha maior fraqueza? É pensar em demasiado mim, nos meus problemas, nas minhas tristezas, naquilo que me acontece e no que gostaria me acontecesse. Nas voltas e reviravoltas que dou sobre mim mesmo, sobre a minha vida.
E os outros? Sim, os outros que rezam por mim, que se interessam por mim, que têm paciência para comigo, que me desculpam as minhas faltas e as minhas fraquezas, que estão sempre prontos a ouvir-me a atender-me, que não se importam de esperar que eu os compense pelo bem que me fazem, que não me pressionam para que pague o que me emprestam, que não me criticam nem julgam com a severidade que mereço.
Ajuda-me Senhor, a ser, pelo menos reconhecido e a devolver o bem que recebo e, além disso a não julgar, a não emitir opinião, critica ou conceito, vendo nos outros, a maior parte das vezes, os defeitos e fraquezas que eu próprio possuo.

Senhor, ajuda-me a pensar nos outros em vez de estar aqui, mergulhado nos meus problemas, girando à volta de mim mesmo, concentrado apenas no que me diz respeito. Os outros! Todos os outros. Os que conheço, de quem sou amigo ou familiar e aqueles que me são desconhecidos. São Teus filhos como eu, logo, todos são meus irmãos. Se somos irmãos somos também herdeiros, convém, portanto que me preocupe com aqueles que vão partilhar a herança comigo.

Noverim me

Oh Deus que me conheces perfeitamente tal como sou, ajuda-me a conhecer-me a mim mesmo, para que possa combater com eficácia os enormes defeitos do meu carácter, em particular...
Chamaste-me, Senhor, pelo meu nome e eu aqui estou: com as minhas misérias, as minhas debilidades, com palavras maiores que os actos, intenções mais vastas que as obras e desejos que ultrapassam a vontade.
Porque não sou nada, não valho nada, não sei nada e não posso nada, entrego-me totalmente nas Tuas mãos para que, por intercessão de minha Mãe, Maria Santíssima, de São José, meu Pai e Senhor, do Anjo da Minha Guarda e de São Josemaria, possa adquirir um espírito de luta perseverante.
   
Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afaste de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxime de Ti
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a ti.
Eu sei que podeis tudo e que, para Vós, nenhum projecto é impossível.
Faz-me santo, meu Deus, ainda que seja à força.

Nada te perturbe / nada te atemorize Tudo passa / Deus não muda A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem Nada falta / só Deus basta. (Santa Teresa de Jesus)