30/03/2021

Leitura Espiritual Mar 30

 


Novo Testamento

 

Evangelho

 

Lc XV, 1-32

 


A ovelha perdida

XV 1 Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2 Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 3 Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: 4 «Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5 Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6 e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ 7 Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.»

 

A drácma perdida

8 «Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9 E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ 10 Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.»

 

O filho pródigo

11 Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. 12 O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14 Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. 15 Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. 16 Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17 E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ 20 E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. 21 O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ 22 Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. 23 Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24 porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. 25 Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. 26 Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. 27 Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ 28 Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29 Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; 30 e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ 31 O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»

Texto

 


Lembremo-nos da experiência tão humana da despedida de duas pessoas muito amigas. Desejariam ficar sempre juntas, mas o dever - ou seja o que for - obriga-as a afastar-se uma da outra. Não podem, portanto, continuar uma junto das outra, como seria do seu gosto. Nestas ocasiões, o amor humano, que por maior que seja, é sempre limitado, costuma recorrer aos símbolos. As pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, talvez uma fotografia onde se escreve uma dedicatória tão calorosa, que até admira que não arda o papel. Mas não podem ir além disso, porque o poder das criaturas não vai tão longe como o seu querer.

 

Ora o que não está na nossa mão, consegue-o o Senhor. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas uma realidade. Fica Ele mesmo. Embora vá para o Pai, permanece entre os homens. Não nos deixará um simples presente que nos faça evocar a sua memória, alguma imagem que tenda a apagar-se com o tempo, como uma fotografia que a pouco e pouco se vai esvaindo e amarelecendo até perder o sentido para quem não interveio naquele momento amoroso. Sob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente, com o seu Corpo, o seu Sangue, a alma e a sua Divindade.[1]

 

O Senhor ensina-nos que devemos ser humildes e que devemos procurar conforto nos outros quando estivermos tristes, ainda que o que tenta consolar-nos seja mais ignorante do que nós.[i]

 

O que quiser na verdade venerar a Paixão do Senhor deve contemplar de tal forma Jesus crucificado com os olhos da alma, que reconheça a sua própria carne na carne de Jesus. [ii]

 

O valor do Crucifixo como ajuda para a oração e a vida cristã é evidente: não há símbolo que nos lembre tão vivamente o infinito Amor de Deus pelo homem como esta imagem do próprio Filho de Deus pregado na Cruz por amor de nós, para que possamos alcançar a vida eterna. Nada pode incitar-nos mais ao arrependimento dos nossos pecados do que essa representação de Jesus crucificado por nossas culpas. Nada pode ser melhor âncora nas nossas tribulações e contrariedades de cada dia que esta imagem de Cristo agonizante, que dá sentido e valor ao nosso sofrimento.[2]

 

Foi para Getsemani com os Seus, e pediu-Lhes que O acompanhassem: o ficai aqui e depois velai coMigo, apesar da sua forma imperativa, eram na realidade um pedido, uma petição, a forma premente de expressar a Sua necessidade humana de companhia e a necessidade imperiosa que os discípulos tinham desse unirem à Sua oração. Faltam palavras para descrever o amor de Deus à liberdade: convoca-nos como testemunhas da prodigiosa riqueza da Sua vida e do seu interesse pela nossa salvação, mas nem nesses momentos transcendentes Se impõe.[3]

 

Quando Jesus desperta os discípulos adormecidos e os exorta à oração, vinha de experimentar, na Sua própria, as mais graves dificuldades. Ele não pode estranhar que a nós nos custe orar. Mas a luta santa – a agonia de que fala São Lucas – que o Senhor teve que enfrentar e vencer põe diante dos olhos que não se entra por caminhos de verdadeira vida interior se não há verdadeira luta por perseverar na oração: uma luta que, de um modo ou outro, é a de nos acomodarmos plenamente à Vontade Divina.[4]

 

Se vês que adormeço; se descobres que me assusta a dor; se notas que me detenho ao ver mais de perto a Cruz, não me deixes! Diz-me como a Pedro, como a Tiago, como a João, que necessitas da minha correspondência, do meu amor. Diz-me para seguir-te, para não voltar a deixar-te abandonado com os que tramam a Tua morte, tenho que passar por cima do sono, das minhas paixões, da comodidade.[5]

 

Em Getsemani, quando a Sua oração pela humanidade chegava ao cume da Sua acção salvifíca, sentiu pena pela indiferença dos Apóstolos, que afirmavam amá-Lo, e O amavam realmente, mas não totalmente: essa indiferença acentuou-se entre os que, por ignorância ou pela maldade do pecado, nem sequer punham os olhos n’Ele.[6]

 

 



[1] São Josemaria, Cristo que Passa, 83

[2] Cfr. Leo J. Trese, A Fé Explicada, Edições Quadrante, São Paulo, 4ª Ed., nr. 338

 

[3] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Cap. I, 4

 

[4] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Pg. 1160

[5] Cfr.M. Montenegro, Via Crucis, Palabra, 6ª Ed., Madrid, 1971, nr. 48

 

[6] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Cap. I, 10

 



[i] (Luís de Palma, A Paixão do Senhor, Éfeso, 1991, pg. 81-82)

[ii] (São Leão Magno, Sermão 15 sobre a Paixão)

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