EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA
REDEMPTORIS
CUSTOS
DO
SUMO PONTÍFICE
JOÃO
PAULO II
SOBRE
A FIGURA E A MISSÃO
DE
SÃO JOSÉ
NA
VIDA DE CRISTO E DA IGREJA
O
CONTEXTO EVANGÉLICO
III
O
HOMEM JUSTO - O ESPOSO
17.
No decorrer da sua vida, que foi uma peregrinação na fé, José, como Maria,
permaneceu fiel até ao fim ao chamamento de Deus. A vida de Maria foi o
cumprimento até às últimas consequências daquele primeiro fiat (faça-se)
pronunciado no momento da Anunciação; ao passo que José - como já foi dito -
não proferiu palavra alguma, aquando da sua «anunciação»: «fez como o anjo do
Senhor lhe ordenara» (Mt 1, 24). E este primeiro «fez» tornou-se o princípio da
«caminhada de José». Ao longo desta caminhada, os Evangelhos não registram
palavra alguma que ele tenha dito. Mas esse silêncio de José tem uma especial
eloquência: graças a tal atitude, pode captar-se perfeitamente a verdade
contida no juízo que dele nos dá o Evangelho: o «justo» (Mt 1, 19).
É
necessário saber ler bem esta verdade, porque nela está contido um dos mais
importantes testemunhos acerca do homem e da sua vocação. No decurso das
gerações a Igreja lê, de maneira cada vez mais atenta e mais cônscia este
testemunho, como que tirando do tesouro desta insígne figura «coisas novas e
coisas velhas» (Mt 13, 52).
18.
O homem «justo» de Nazaré possui sobretudo as características bem nítidas do
esposo. O Evangelista fala de Maria como de «uma virgem desposada com um homem
... chamado José» (Lc 1, 27). Antes de começar a realizar-se «o mistério
escondido desde todos os séculos em Deus» (Ef 3, 9), os Evangelhos põem diante
de nós a imagem do esposo e da esposa. Segundo o costume do povo hebraico, o
matrimónio constava de duas fases: primeiro, era celebrado o matrimónio legal
(verdadeiro matrimónio); e depois, só passado um certo período, é que o esposo
introduzia a esposa na própria casa. Antes de viver junto com Maria, portanto,
José já era o seu «esposo»; Maria, porém, conservava no seu íntimo o desejo de
fazer o dom total de si mesma exclusivamente a Deus. Poder-se-ia perguntar de
que modo este desejo se conciliava com as «núpcias». A resposta vem-nos somente
do desenrolar dos acontecimentos salvíficos, isto é, da acção especial do
próprio Deus. Desde o momento da Anunciação, Maria sabe que deve realizar-se o
seu desejo virginal, de entregar-se a Deus de modo exclusivo e total,
precisamente tornando-se mãe do Filho de Deus. A maternidade por obra do
Espírito Santo é a forma de doação que o próprio Deus espera da Virgem,
«desposada» com José. E Maria pronuncia o seu fiat (faça-se).
O
facto de ela ser «desposada» com José está incluído no mesmo desígnio de Deus.
Isso é indicado por ambos os Evangelistas citados, mas de maneira particular
por São Mateus. São muito significativas as palavras ditas a José: «Não temas
receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito
Santo» (Mt 1, 20). Elas explicam o mistério da esposa de José: Maria é virgem
na sua maternidade. Nela «o Filho do Altíssimo» assume um corpo humano e
torna-se «o Filho do homem».
Dirigindo-se
a José com as palavras do anjo, Deus dirige-se a ele como sendo esposo da
Virgem de Nazaré. Aquilo que nela se realizou por obra do Espírito Santo
exprime ao mesmo tempo uma confirmação especial do vínculo esponsal, que já
existia antes entre José e Maria. O mensageiro diz claramente a José: «Não
temas receber contigo, Maria, tua esposa». Por conseguinte, aquilo que tinha
acontecido anteriormente — os seus esponsais com Maria — tinha acontecido por
vontade de Deus e, portanto, devia ser conservado. Na sua maternidade divina,
Maria deve continuar a viver como «uma virgem, esposa de um esposo» (cf. Lc 1,
27).
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