Novo Testamento
Evangelho
Lc Lc XI, 14-32
Blasfémia dos fariseus
14
Jesus estava a expulsar um demónio mudo. Quando o demónio saiu, o mudo falou e
a multidão ficou admirada. 15 Mas alguns dentre eles disseram: «É por Belzebu,
chefe dos demónios, que Ele expulsa os demónios.» 16 Outros, para o
experimentarem, reclamavam um sinal do Céu. 17 Mas Jesus, que conhecia os seus
pensamentos, disse-lhes: «Todo o reino, dividido contra si mesmo, será
devastado e cairá casa sobre casa. 18 Se Satanás também está dividido contra si
mesmo, como há-de manter-se o seu reino? Pois vós dizeis que é por Belzebu que
Eu expulso os demónios. 19 Se é por Belzebu que Eu expulso os demónios, por
quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso, eles mesmos serão os vossos
juízes. 20 Mas se Eu expulso os demónios pela mão de Deus, então o Reino de Deus
já chegou até vós. 21 Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os
seus bens estão em segurança; 22 mas se aparece um mais forte e o vence,
tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. 23 Quem não
está comigo está contra mim, e quem não junta comigo, dispersa.»
O demónio que volta
24
«Quando um espírito maligno sai de um homem, vagueia por lugares áridos em
busca de repouso; e, não o encontrando, diz: ‘Vou voltar para minha casa, de
onde saí.’ 25 Ao chegar, encontra-a varrida e arrumada. 26 Vai, então, e toma
consigo outros sete espíritos piores do que ele; e, entrando, instalam-se ali.
E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro.»
A mãe deJesus é louvada
27
Enquanto Ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse:
«Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!» 28 Ele,
porém, retorquiu: «Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em
prática.»
Sinal de Jonas
29
Como as multidões afluíssem em massa, começou a dizer: «Esta geração é uma
geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o
de Jonas. 30 Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o
será também o Filho do Homem para esta geração. 31 A rainha do Sul há-de
levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de
condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de
Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! 32 Os ninivitas hão-de
levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la,
porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é
maior do que Jonas.»
Texto
MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
PARA A QUARESMA DE 1987
Amados irmãos e irmãs em Cristo:
«Encheu de bens os famintos, e despediu
vazios os ricos» (Lc 1, 53).
Estas palavras que a Virgem Maria
pronunciou no seu Magnificat são ao mesmo tempo um louvor a Deus Pai e um apelo
que cada um de nós pode acolher no seu coração e meditar neste tempo da Quaresma.
Tempo de conversão, tempo da Verdade que
nos «tornará livres» (Jo 8, 32), porque não podemos enganar aquele que sonda
«os corações e as mentes» (Sl 7, 10). Perante Deus nosso Criador, perante
Cristo nosso Redentor, de que nos podemos orgulhar? Que riquezas ou que
talentos nos poderiam dar qualquer superioridade?
Maria ensina-nos que as verdadeiras
riquezas, as que não passam, vêm de Deus; nós devemos desejá-las, ter fome
delas, abandonar tudo aquilo que é fictício e passageiro, para receber estes
bens e recebê-los em abundância. Convertamo-nos, abandonemos o velho fermento
(cf. 1 Cor 5, 6) do orgulho e de tudo aquilo que conduz à injustiça, ao
desprezo, à ânsia de possuir egoisticamente dinheiro e poder.
Se nos reconhecermos pobres diante de Deus
– o que é verdade e não falsa humildade – teremos um coração de pobre, olhos e
mãos de pobre para partilhar aquelas riquezas das quais Deus nos colmará: a
nossa Fé que não podemos guardar egoisticamente só para nós, a Esperança, da
qual têm necessidade aqueles que estão privados de tudo, a Caridade, que nos
faz amar os pobres como Deus os amou, com um amor de preferência. O Espírito do
Amor nos colmará de mil bens a partilhar: quanto mais os desejarmos, tanto mais
os receberemos em abundância.
Se formos verdadeiramente aqueles «pobres
de espírito» aos quais é prometido o Reino dos céus (Mt 5, 3), a nossa oferta
será bem aceite por Deus. Também a oferta material, que costumamos dar durante
a Quaresma, se for feita com um coração de pobre, é uma riqueza, porque damos
aquilo que recebemos de Deus para ser distribuído: não recebemos senão para
dar. Como os cinco pães e os cinco peixes do jovem que as mãos de Cristo
multiplicaram para alimentar a multidão, do mesmo modo aquilo que oferecemos
será multiplicado por Deus para os pobres.
Chegaremos nós ao fim desta Quaresma com o
coração repleto, cheios de nós mesmos, mas com as mãos vazias para os outros?
Ou pelo contrário chegaremos à Páscoa, guiados pela Virgem do Magnificat, com
uma alma de pobre, faminta de Deus, e com as mãos cheias de todos os dons de
Deus para distribuir ao mundo que tanta necessidade tem deles?
«Louvai o Senhor, porque ele é bom, porque
eterna é a sua misericórdia» (Sl 117, 1).
IOANNES PAULUS PP. II
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