EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA
REDEMPTORIS
CUSTOS
DO
SUMO PONTÍFICE
JOÃO
PAULO II
SOBRE
A FIGURA E A MISSÃO
DE
SÃO JOSÉ
NA
VIDA DE CRISTO E DA IGREJA
O
CONTEXTO EVANGÉLICO
III
O
HOMEM JUSTO - O ESPOSO
20.
Na Liturgia, Maria é celebrada como tendo estado «unida a José, homem justo,
por um vínculo de amor esponsal e virginal». (Collectio Missarum de
Beata Maria Virgine, I, « Sancta Maria de Nazareth », Praefatio.)
Trata-se, de facto , de dois amores que , conjuntamente, representam o mistério
da Igreja, virgem e esposa, a qual tem no matrimónio de Maria e José o seu
símbolo. «A virgindade e o celibato por amor do Reino de Deus não só não se
contrapõem à dignidade do matrimónio, mas pressupõem-na e confirmam-na. O
matrimónio e a virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único Mistério
da Aliança de Deus com o seu povo», (Exort.
Apost. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), n. 16: AAS 74 (1982),
p. 98.)
que é comunhão de amor entre Deus e os homens.
Mediante
o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generoso para com a
Mãe de Deus, fazendo-lhe «dom esponsal de si». Muito embora decidido a afastar-se,
para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava a realizar-se, por
ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a sua condição de
pertencer exclusivamente a Deus.
Por
outro lado, foi do matrimónio com Maria que advieram para José a sua dignidade
singular e os seus direitos em relação a Jesus. «é certo que a dignidade da Mãe
de Deus assenta tão alto, que nada pode haver de mais sublime; mas, por isso
mesmo que entre a Santíssima Virgem a José foi estreitado o vínculo conjugal,
não há dúvida de que ele se aproximou como ninguém dessa altíssima dignidade,
em virtude da qual a Mãe de Deus ocupa lugar eminente, a grande distância de
todas as criaturas. Uma vez que o casamento é a comunidade e a amizade máxima a
que, por sua natureza, anda ligada a comunhão de bens, segue-se que, se Deus
quis dar José como esposo à Virgem, deu-lo não apenas como companheiro na vida,
testemunha da sua virgindade e garante da sua honestidade, mas também para que
ele participasse, mediante o pacto conjugal, na sua excelsa grandeza. (Leão XIII, Carta Enc. Quamquam
pluries (15 de Agosto de 1889): l.c., pp. 177-178.)
21.
Um tal vínculo de caridade constituiu a vida da Sagrada Família; primeiro, na
pobreza de Belém, depois, durante o exílio no Egipto e, em seguida, quando ela
morava em Nazaré. A Igreja rodeia de profunda veneração esta Família,
apresentando-a como modelo para todas as famílias. A Família de Nazaré,
directamente inserida no mistério da Incarnação, constitui ela própria um
mistério particular. E ao mesmo tempo — como na Incarnação — é a este mistério
que pertence a verdadeira paternidade: a forma humana da família do Filho de
Deus, verdadeira família humana, formada pelo mistério divino. Nela, José é o
pai: a sua paternidade, porém, não é só «aparente», ou apenas «substitutiva»;
mas está dotada plenamente da autenticidade da paternidade humana, da autenticidade
da missão paterna na família. Nisto está contida uma consequência da união
hipostática: humanidade assumida na unidade da Pessoa divina do Verbo-Filho,
Jesus Cristo. Juntamente com a assunção da humanidade, em Cristo foi também
«assumido» tudo aquilo que é humano e, em particular, a família, primeira
dimensão da sua existência na terra. Neste contexto foi «assumida» também a
paternidade humana de José.
Com
base neste princípio, adquirem o seu significado profundo as palavras dirigidas
por Maria a Jesus, no templo, quando ele tinha doze anos: «Teu pai e eu ...
andávamos à tua procura». Não se trata de uma frase convencional: as palavras
da Mãe de Jesus indicam toda a realidade da Incarnação, que pertence ao
mistério da Família de Nazaré. José, que desde o princípio aceitou, mediante «a
obediência da fé», a sua paternidade humana em relação a Jesus, seguindo a luz
do Espírito Santo que por meio da fé se doa ao homem, por certo ia descobrindo
cada vez mais amplamente o dom inefável desta sua paternidade.
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