A alegria cristã 4
O seu oposto
A paixão oposta à alegria é a tristeza,
causada por não se possuir o bem-amado. Se a origem da alegria é o amor –
digamos que é o efeito e o ato da caridade -, a da tristeza será, portanto, o
egoísmo. São Tomás salienta que a tristeza «tem a sua origem no amor
desordenado de si mesmo, que não é um vício especial, mas sim a raiz comum de
todos os vícios» São Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 28, a. 4.. Não são, pois, a
dor ou as dificuldades que se opõem à alegria, mas a tristeza que pode nascer
da falta de fé e esperança perante essas situações. Por isso, a tristeza é
vista como uma doença da alma, que pode proceder de uma causa fisiológica
(doença ou cansaço) ou de uma causa moral: o pecado cometido e a falta de
correspondência à graça, que poderá conduzir à acédia ou tibieza espiritual.
São Josemaria prevenia ante a presença da
tristeza, à qual considerava uma “aliada do inimigo”: «Não há alegria? - Então
pensa: há um obstáculo entre Deus e eu. - Quase sempre acertarás» (Caminho, n.
662). Por outro lado, o que se sabe filho de Deus não pode permitir que os
pecados pessoais o conduzam à tristeza, pois encontra o amor misericordioso do
Pai e a “força” de conhecer e reconhecer a sua debilidade: «Quando te afligirem
as tuas misérias, não fiques triste. - Glorifica-te nas tuas fraquezas com São
Paulo» (Caminho n. 879); «A tristeza é a escória do egoísmo. Se queremos viver
para Nosso Senhor, não nos faltará a alegria, mesmo que descubramos os nossos
erros e as nossas misérias» (Amigos de Deus, n. 92).
O Papa Francisco adverte sobre um perigo que
pode causar a falta de alegria: «O grande risco do mundo atual, com sua
múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que
brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres
superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos
próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os
pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu
amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem» Francisco,
Evangelii gaudium, n. 2.
(Vicente Bosch)
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