26/12/2020

LEITURA ESPIRITUAL Dez 26

 

Evangelho

 

Mt XV 21 – 39

 

A cananeia

 

21 Jesus partiu dali e retirou-se para os lados de Tiro e de Sídon. 22 Então, uma cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio.» 23 Mas Ele não lhe respondeu nem uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-lhe com insistência: «Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.» 24 Jesus replicou: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.» 25 Mas a mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: «Socorre-me, Senhor.» 26 Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.» 27 Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.» 28 Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.» E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada.

 

Cura de muitos enfermos

 

29 Partindo dali, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 30 Vieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31 de modo que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos, os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel.

 

Segunda multiplicação dos pães

 

32 Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 33 Os discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34 Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 35 Ordenou à multidão que se sentasse. 36 Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 37 Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos. 38 Ora, os que comeram eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças. 39 Depois de ter despedido a multidão, Jesus subiu para o barco e veio para a região de Magadan.

 

 


Não se trata de dar muito ou dar pouco.

  Não interessa se o que se dá, nos sobra, ou nos faz falta.

No primeiro caso, de facto dá-se, no segundo, reparte-se.

        Aqui reside a grande diferença da solidariedade: Dar e repartir são duas coisas bastante diferentes.

  Ambas são, evidentemente, dádiva, só que uma é um pouco mais que isso, traduz uma preocupação real, efectiva, pelos outros e, sobretudo, um saudável conceito que, de facto, nada é propriamente nosso.

 No hospital, na cabana, no palácio, na paz e na guerra, todos nascemos nus e, aquilo que nos põem em cima, ou que nos vestem, não depende absolutamente da nossa vontade ou querer.

Durante muito tempo, alguns anos pelo menos, ninguém nos perguntará o que queremos fazer, o que desejaríamos tomar como alimento. Não temos qualquer capacidade de escolha ou eleição do quer que seja.

Somos, efectivamente, seres humanos, com direitos e garantias mas, esses direitos e garantias, que são efectivamente nossos, tal como a nossa identidade única e irrepetível, não depende de nós, não os podemos exigir.

Somos inteiramente dependentes dos outros, da sociedade em geral e de alguns em particular.

  Durante algum tempo – talvez muitos anos – teremos uma ilusão de independência porque podemos escolher, optar por fazer isto em vez daquilo, gostar desta pessoa e não daquela, pretendendo comandar a nossa própria vida diária.

  Isto é uma ilusão.

  Todo o conhecimento que adquirimos foi-nos proporcionado por alguém que no-lo transmitiu, ou partilhou connosco.

O que ficamos a saber não nos valerá de coisa nenhuma senão houver alguém que nos proporcione pô-lo em prática, desenvolvendo e aumentando a panóplia de serviços que se podem colocar à disposição da sociedade.

Nem mesmo quando atingimos o topo de uma carreira profissional deixamos de depender de outros que irão pondo em prática o que lhes vamos transmitindo.

  Há, portanto, uma igualdade e interdependência intrínseca real e consistente entre os seres humanos.

  Esta não é uma conclusão apressada ou de mera retórica, é uma constatação.

  A vida humana encerra em si mesma, muitos aspectos de contradição e, tal, custa-nos aceitar de bom grado.

 

(AMA, Migalhas para o caminho, ISBN 978-989-20.4856-7)

 

 

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