DO
PAPA FRANCISCO
POR OCASIÃO DO 150º
ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ COMO PADROEIRO UNIVERSAL DA IGREJA
3. Pai na obediência
De forma análoga a quanto
fez Deus com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a
José os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os
povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua
vontade.[13]
José sente uma angústia
imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer «difamá-la»,[14] e
decide «deixá-la secretamente» (Mt 1, 19). No primeiro sonho, o anjo ajuda-o a
resolver o seu grave dilema: «Não temas receber Maria, tua esposa, pois o que
Ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o
nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 20-21). A sua
resposta foi imediata: «Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo»
(Mt 1, 24). Com a obediência, superou o seu drama e salvou Maria.
No segundo sonho, o anjo dá
esta ordem a José: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e
fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar» (Mt
2, 13). José não hesitou em obedecer, sem se questionar sobre as dificuldades
que encontraria: «E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu
para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes» (Mt 2, 14-15).
No Egito, com confiança e
paciência, José esperou do anjo o aviso prometido para voltar ao seu país. Logo
que o mensageiro divino, num terceiro sonho – depois de o informar que tinham
morrido aqueles que procuravam matar o menino –, lhe ordena que se levante,
tome consigo o menino e sua mãe e regresse à terra de Israel (cf. Mt 2, 19-20),
de novo obedece sem hesitar: «Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e
voltou para a terra de Israel» (Mt 2, 21).
Durante a viagem de
regresso, porém, «tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar
de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Então advertido em sonhos – e é a
quarta vez que acontece – retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa
cidade chamada Nazaré» (Mt 2, 22-23).
Por sua vez, o evangelista
Lucas refere que José enfrentou a longa e incómoda viagem de Nazaré a Belém,
devido à lei do imperador César Augusto relativa ao recenseamento, que impunha
a cada um registar-se na própria cidade de origem. E foi precisamente nesta
circunstância que nasceu Jesus (cf. 2, 1-7), sendo inscrito no registo do
Império, como todos os outros meninos.
São Lucas, de modo
particular, tem o cuidado de assinalar que os pais de Jesus observavam todas as
prescrições da Lei: os ritos da circuncisão de Jesus, da purificação de Maria
depois do parto, da oferta do primogénito a Deus (cf. 2, 21-24).[15]
Em todas as circunstâncias
da sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat», como Maria na Anunciação e
Jesus no Getsémani.
Na sua função de chefe de
família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o
mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12).
Ao longo da vida oculta em
Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade
torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no momento mais difícil da
sua vida, vivido no Getsémani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e
não a sua,[16] fazendo-Se «obediente até à morte (…) de cruz» (Flp 2, 8). Por
isso, o autor da Carta aos Hebreus conclui que Jesus «aprendeu a obediência por
aquilo que sofreu» (5, 8).
Vê-se, a partir de todas
estas vicissitudes, que «José foi chamado por Deus para servir diretamente a
Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse
modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a
plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação».[17]
Francisco
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[11] Cf. Deuteronómio4, 31;
Salmo 69, 17; 78, 38; 86, 5; 111, 4; 116, 5; Jeremias 31, 20.
[12] Cf. Francisco, Exort.
ap. Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), 88; 288: AAS 105 (2013) 1057;
1136-1137.
[13] Cf. Génesis 20, 3; 28,
12; 31, 11.24; 40, 8; 41, 1-32; Números 12, 6; I Samuel 3, 3-10; Daniel 2; 4;
Job 33, 15.
[14] Também nestes casos,
estava prevista a lapidação (cf. Deuteronómio 22, 20-21).
[15] Cf. Levítico 12, 1-8;
Êxodo 13, 2.
[16] Cf. Mateus 26, 39;
Marcos 14, 36; Lucas 22, 42.
[17] São João Paulo II,
Exort. ap.Redemptoris custos (15 de agosto de 1989), 8: AAS 82 (1990), 14.
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