Evangelho
Jo XIX, 25 - 42
A mãe junto da Cruz
25 Estavam, de pé, junto à
cruz de Jesus, Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria
Madalena. 26 Jesus, vendo Sua mãe e, junto dela, o discípulo que amava, disse a
Sua mãe: «Mulher, eis o teu filho». 27 Depois disse ao discípulo: «Eis a tua
mãe». E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-a na sua casa. 28 Em seguida,
sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse:
«Tenho sede». 29 Havia ali um vaso cheio de vinagre. Então, os soldados,
ensopando no vinagre uma esponja e atando-a a uma cana de hissopo, chegaram-Lha
à boca. 30 Jesus, tendo tomado o vinagre, disse: «Tudo está consumado!».
Depois, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
Sepultura de Jesus
31 Os judeus, visto que era
o dia da Preparação, para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, porque
aquele dia de sábado era de grande solenidade, pediram a Pilatos que lhes
fossem quebradas as pernas e fossem retirados. 32 Foram, pois, os soldados e
quebraram as pernas ao primeiro e ao outro com quem Ele havia sido crucificado.
33 Mas, quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não Lhe quebraram
as pernas, 34 mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança e
imediatamente saiu sangue e água. 35 Quem foi testemunha deste facto o atesta,
e o seu testemunho é digno de fé e ele sabe que diz a verdade, para que também
vós acrediteis. 36 Porque estas coisas sucederam para que se cumprisse a
Escritura: “Não Lhe quebrarão osso algum”. 37 E também diz outro passo da
Escritura: “Hão-de olhar para Aquele a quem trespassaram”. 38 Depois disto,
José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que oculto por medo dos
judeus, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. Pilatos
permitiu-o. Foi, pois, e tomou o corpo de Jesus. 39 Nicodemos, aquele que tinha
ido anteriormente de noite ter com Jesus, foi também, levando uma composição de
quase cem libras de mirra e aloés. 40 Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-n'O
em lençóis com perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus.
41 Ora, no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um horto e no horto um
sepulcro novo, em que ninguém tinha ainda sido sepultado. 42 Por ser o dia da
Preparação dos judeus e o sepulcro estar perto, depositaram ali Jesus.
DE
CIVITATE DEI
LIVRO IX
CAPÍTULO VI
Paixões que perturbam os demónios,
segundo Apuleio, que afirma ser útil aos homens a sua ajuda junto dos deuses.
Por agora, ponhamos de parte a questão
dos santos anjos e vejamos com o, segundo os platónicos, os demónios, colocados
entre os deuses e os homens, são agitados pelas ferventes ondas das paixões.
Se, efectivamente, sofressem tais movimentos, mantendo a liberdade de espírito
e dominando-as, (A Puleio)
não teria dito dos demónios que, entregues, com o nós, aos movimentos
desordenados do coração e às agitações do espírito, flutuam à mercê do
fervilhar das ondas do pensamento. E, pois, o seu espírito, isto é, a parte
superior da alma, a parteque os toma
racionais, onde a virtude e a sabedoria
(se é que alguma têm) com andariam as paixões turbulentas das partes inferiores
da alma, para as reger e moderar — é, pois, o seu espírito, digo eu, como
confessa este platónico, que é sacudido pelas agitadas ondas das paixões. O seu
espírito é, portanto, escravo das paixões torpes, dos medos, das cóleras e de
outras que tais. Qual é, então, neles a parte que está livre e na posse da
sabedoria pela qual poderão agradar aos deuses e, com o exemplo dos seus bons
costumes, estimularos homens, — se o seu espírito, submetido e oprimido por
paixões viciosas, aplica tudo o que a natureza lhes concedeu de razão para
enganar e seduzir — com tanto maior sanha quanto mais possuído está pela avidez
de prejudicar?
CAPÍTULO VII
Afirmam os platónicos que os
deuses foram desacreditados
pelas fantasias dos poetas, que os
representam como sujeitos a afeições contrárias, próprias
dos demónios e não dos deuses.
Se alguém disser que não se refere a
todos mas apenas ao grupo dos maus demónios aos quais os poetas, sem muito se
afastarem da verdade, representam como deuses inimigos ou amigos do homem, e
que é destes que A Puleio diz que “flutuam à mercê do fervilhar das ondas do
seu pensamento” — com o poderemos compreender uma coisa dessas, quando, ao
falar assim, ele (A Puleio) descreve o lugar que ocupam entre os deuses e os
homens, não apenas os maus mas todos os demónios, devido ao seu corpo aéreo?
Realm ente, diz ele, a ficção dos
poetas consiste nisto: em colocarem alguns destes demónios entre os deuses, em
darem-lhes nomes de deuses, em lhes distribuírem homens à sua vontade, como
amigos ou inimigos, — e tudo graças à liberdade impune da ficção poética.
Todavia, apresentam-nos os deuses muito distanciados, devido à sua morada
celeste e à opulência da sua felicidade, destes costumes dos demónios. É, pois,
uma ficção dos poetas chamar deuses a seres que o não são e, com o nome de
deuses, pô-los a brigar entre si por causa dos homens que amam ou odeiam por
paixão partidária. Mas esta ficção, diz ele, não está longe da verdade, porque
os demónios, chamados deuses [835] sem o serem, são todavia descritos tais
quais são. Diz ser o caso dessa Minerva de Homero que
intervém em plena assembleia dos Gregos para acalmar a cólera de Aquiles
(Quae
mediis coetibus Graiutn cohibendo Achiüi intervenit. Apuleio,
De Deo Socratis, XI;
ed. Thom as, p. 19).
Essa Minerva é para ele uma ficção
poética, porque Minerva, considera-a ele como uma deusa e coloca-a, longe de
todo o contacto com os mortais, nas altas regiões do éter, entre os deuses, que
ele a todos tem por bons e felizes. Mas que certo demónio tenha favorecido os
Gregos contra os Troianos e outro tenha protegido os Troianos contra os Gregos
(Vénus e Marte, como lhes chama o citado poeta (Homero) — mas que para ele (A
Puleio) são deuses por ele colocados nas moradas celestes onde não praticam
estas façanhas, e que os demónios tenham lutado entre si a favor dos seus
amigos contra os seus inimigos, é nisso que, confessa, os poetas pouco se
afastam da verdade. Realmente, contam estes factos de seres semelhantes aos
homens nos movimentos do seu coração e que, com o afirma (A Puleio), flutuam à
mercê do fervilhar das ondas do seu pensamento, capazes de manifestarem a sua
predilecção por uns e o seu ódio por outros, não por amorda justiça mas por
paixões partidárias, tal como o público que, no circo, toma partido pelos
caçadores ou aurigas da sua preferência. Parece, pois, que o filósofo platónico
procurou fazer com que, quando os poetas cantam estes feitos, todos acreditem
que eles foram cometidos, não pelos demónios intermediários, mas pelos próprios
deuses cujos nomes os poetas introduzem nas suas ficções.
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