Jo XI, 21-37
Ressurreição de Lázaro
21 Marta disse, então, a Jesus: «Senhor,
se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido. 22 Mas, ainda agora, eu sei
que tudo o que pedires a Deus, Ele to concederá.» 23 Disse-lhe Jesus: «Teu
irmão ressuscitará.» 24 Marta respondeu-lhe: «Eu sei que ele há-de ressuscitar
na ressurreição do último dia.» 25 Disse-lhe Jesus: «Eu sou a Ressurreição e a
Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá. 26 E todo aquele que
vive e crê em mim não morrerá para sempre. Crês nisto?» 27 Ela respondeu-lhe:
«Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir
ao mundo.» 28 Dito isto, voltou a casa e foi chamar sua irmã, Maria,
dizendo-lhe em voz baixa: «Está cá o Mestre e chama por ti.» 29 Assim que ela
ouviu isto, levantou-se rapidamente e foi ter com Ele. 30 Jesus ainda não tinha
entrado na aldeia, mas permanecia no lugar onde Marta lhe viera ao encontro. 31
Então, os judeus que estavam com Maria, em casa, para lhe darem os pêsames, ao
verem-na levantar-se e sair à pressa, seguiram-na, pensando que se dirigia ao
túmulo para aí chorar. 32 Quando Maria chegou ao sítio onde estava Jesus, mal o
viu caiu-lhe aos pés e disse-lhe: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não
teria morrido.» 33 Ao vê-la a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar
também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. 34 Depois, perguntou: «Onde
o pusestes?» Responderam-lhe: «Senhor, vem e verás.» 35 Então Jesus começou a
chorar. 36 Diziam os judeus: «Vede como era seu amigo!» 37 Mas alguns deles
murmuravam: «Então, este que deu a vista ao cego não podia também ter feito com
que Lázaro não morresse?»
Amar a Igreja
4
Alguns
afirmam que ficamos poucos na Igreja.
Eu
responder-lhes-ia que, se todos defendessem com lealdade a doutrina de Cristo,
depressa cresceria consideravelmente o número, porque Deus quer que se encha a
sua casa.
Na
Igreja descobrimos Cristo, que é o Amor dos nossos amores.
E
temos de desejar para todos esta vocação, este gozo íntimo que nos embriaga a
alma, a doçura luminosa do Coração misericordioso de Jesus.
Devemos
ser ecuménicos, ouve-se repetir.
Pois
sim.
No
entanto, temo que, por trás de algumas iniciativas auto-denominadas ecuménicas,
se oculte uma fraude, pois são actividades que não conduzem ao amor de Cristo,
à verdadeira vide.
Por
isso não dão fruto.
Eu
peço todos os dias ao Senhor que torne cada vez maior o meu coração, para que
continue a tornar sobrenatural este amor que pôs na minha alma a todos os
homens, sem distinção de raça, de povo, de condições culturais ou de fortuna.
Estimo
sinceramente a todos, católicos e não católicos, aos que crêem em alguma coisa
e aos não crentes, que me dão tristeza.
Mas
Cristo fundou uma única Igreja, tem uma única Esposa.
A
união dos cristãos?
Sim.
Mais
ainda: a união de todos os que crêem em Deus.
Mas
só existe uma Igreja verdadeira.
Não
é preciso reconstruí-la com pedaços disperses por todo o mundo. E não necessita
de passar por nenhum tipo de purificação para depois se encontrar finalmente
limpa.
A
Esposa de Cristo não pode ser adúltera, porque é incorruptível e pura. Só uma
casa conhece, guarda a inviolabilidade de um único tálamo com pudor casto.
Ela
conserva-nos para Deus, ela destina para o Reino os filhos que engendrou.
Todo
aquele que se separa da Igreja une-se a uma adúltera, afasta-se das promessas
da Igreja:
não
conseguirá as recompensas de Cristo quem abandona a Igreja de Cristo.
Amar a Igreja
5
A Igreja é Santa
Agora
compreenderemos melhor como a unidade da Igreja leva à santidade, como um dos
aspectos capitais da sua santidade é essa unidade centrada no mistério de Deus
Uno e Trino:
Há
um só corpo e um só espírito, como também vós fostes chamados a uma só
esperança pela vossa vocação.
Há
um só Senhor, uma só fé, um só baptismo.
Há
um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, e governa todas as coisas e
habita em todos nós.
Santidade
rigorosamente não significa senão união com Deus. A uma maior intimidade com o
Senhor corresponderá, portanto, maior santidade.
A
Igreja foi querida e fundada por Cristo, que cumpre assim a vontade do Pai; a
Esposa do Filho está assistida pelo Espírito Santo.
A
Igreja é a obra da Santíssima Trindade; é Santa e Mãe, a Nossa Santa Mãe
Igreja.
Podemos
admirar na Igreja uma perfeição a que chamaríamos original e outra final,
escatológica.
Às
duas se refere São Paulo na Epistola aos Efésios:
Cristo
amou a sua Igreja, e por ela se entregou a si mesmo, para a santificar,
purificando-a no baptismo da água pela palavra da vida, para apresentar a si
mesmo esta Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, ou coisa semelhante, mas
santa e imaculada.
A
santidade original e constitutiva da Igreja pode ficar velada - mas nunca
destruída, porque é indefectível: as portas do inferno não prevalecerão contra
ela -, pode ficar encoberta aos olhos humanos, dizia, em certos momentos de
obscuridade pouco menos que colectiva.
Mas
São Pedro aplica aos cristãos o título de gens
sancta, povo santo.
E,
sendo membros dum povo santo, todos os fiéis receberam essa vocação para a
santidade e hão-de esforçar-se por corresponder à graça e ser pessoalmente
santos.
Ao
longo de toda a história, e também na actualidade, tem havido tantos católicos
que se santificaram efectivamente:
jovens
e velhos, solteiros e casados, sacerdotes e leigos, homens e mulheres.
Mas
acontece que a santidade pessoal de tantos fiéis - dantes e de agora - não é
uma coisa aparatosa.
É
frequente que não a descubramos nas pessoas normais, correntes e santas, que
trabalham e convivem no meio de nós.
Para
um olhar terreno o pecado e as faltas de fidelidade ressaltam mais; chamam mais
a atenção.
Amar a Igreja
Gens
Sancta,
povo santo, composto por criaturas com misérias.
Esta aparente contradição marca um
aspecto do mistério da Igreja.
A Igreja, que é divina, é também humana,
porque está formada por homens e os homens têm defeitos: omnes homines terra et Cinis, todos somos pó e cinza.
Nosso Senhor Jesus Cristo, que funda a
Santa Igreja, espera que os membros deste povo se empenhem continuamente em
adquirir a santidade.
Nem todos respondem com lealdade à Sua
chamada.
Por isso, na Esposa de Cristo pode
encontrar-se, ao mesmo tempo, a maravilha do caminho de salvação e as misérias
daqueles que o percorrem.
O Divino Redentor dispôs que a
comunidade por Ele fundada, fosse uma sociedade perfeita no seu género e dotada
de todos os elementos jurídicos e sociais, para perpetuar neste mundo a obra da
Redenção...
Se na Igreja se descobre alguma coisa
que manifeste a debilidade da nossa condição humana, não deve atribuir-se à sua
constituição jurídica, mas antes à deplorável inclinação dos indivíduos para o
mal; inclinação que o seu Divino Fundador permite mesmo nos mais altos membros
do Corpo Místico, para que seja provada a virtude das ovelhas e dos pastores, e
para que em todos aumentem os méritos da fé cristã.
Essa é a realidade da Igreja, agora e
aqui.
Por isso, é compatível a santidade da
Esposa de Cristo com a existência de pessoas com defeitos no seu seio.
Cristo não excluiu os pecadores da
sociedade por Ele fundada.
Se, portanto, alguns membros se
encontram achacados com doenças espirituais, nem por isso deve diminuir o nosso
amor à Igreja.
Pelo contrário, há-de até aumentar a
nossa compaixão pelos seus membros.
7
Demonstraria pouca maturidade aquele
que, na presença de defeitos e misérias que encontrasse em alguma pessoa
pertencente à Igreja - por mais alto que estivesse colocada em virtude da sua
função -, sentisse diminuir a sua fé na Igreja e em Cristo.
A Igreja não é governada por Pedro, João
ou Paulo; é governada pelo Espírito Santo e o Senhor prometeu que permanecerá a
seu lado todos os dias, até à consumação dos séculos.
Escutai o que diz São Tomás, que tanto
se debruçou sobre este ponto, a respeito da recepção dos Sacramentos, que são
causa e sinal da graça santificante: “o que se abeira dos Sacramentos,
recebe-os certamente do ministro da Igreja, não enquanto é tal pessoa, mas
enquanto ministro da Igreja”.
Por isso, enquanto a Igreja lhe permitir
exercer o seu ministério, o que receber das suas mãos o Sacramento, não
participa do pecado do ministro indigno, mas comunica com a Igreja, que o tem
por ministro.
Quando o Senhor permitir que a fraqueza
humana apareça, a nossa reacção há-de ser a mesma que teríamos se víssemos a
nossa mãe doente ou tratada com frieza.
Amá-la mais, ter para com ela mais
manifestações externas e internas de carinho.
Se amamos a Igreja, nunca aparecerá em
nós o interesse mórbido de pôr à mostra, como culpa da Mãe, as misérias de
alguns dos seus filhos.
A Igreja, Esposa de Cristo, não tem por
que entoar nenhum mea culpa.
Nós sim: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!
Este é o verdadeiro meaculpismo, o
pessoal, e não o que ataca a Igreja, apontando e exagerando os defeitos
humanos, que, na Mãe Santa, são uma consequência da acção n'Ela exercida pelos
homens.
Acção que, aliás, só vai até onde os
homens podem, porque nunca chegarão a destruir - nem sequer a tocar - aquilo a
que chamávamos a santidade original e constitutiva da Igreja.
Por isso, Deus Nosso Senhor comparou,
com toda a propriedade, a Igreja à eira onde se amontoa a palha e o trigo, de
que sairá o pão para a mesa e para o altar; comparou-a também a uma rede
varredeira ex omni genere piscium
congreganti, capaz de apanhar peixes bons e maus que depois serão
separados.
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