MISTÉRIOS DO EVANGELHO [i]
Primeiro Mistério
Seguir Jesus
Mas… sigo Jesus como?
Parece que a resposta está
latente no meu coração.
Sigo-O cada vez que me
lembro dEle, o que acontece amiúde durante o dia.
Exagero?
Não!
Mas penso - e desejo
ardentemente - que seja permanente, visceral, com todo o empenho e entrega de o
meu coração todo inteiro. Sei muito bem que tal só é possível com amor. Mas Tu,
meu Deus, não sabes que Te amo? Então... aumenta o meu AMOR POR TI que eu, não
consigo, mas Tu podes TUDO! (AMA, reflexões, 2019)
Segue-me!
Estava ali, sentado naquela
cadeira de café. Não é meu hábito mas, naquela tarde, estava um pouco cansado
de uma caminhada pelas ruas da cidade e apeteceu-me descansar um pouco. Ouvi
distintamente alguém que dizia: - Tu segue-me! Que estranho! Uma frase que eu
conheço perfeitamente e sobre a qual medito bastante: Refiro-me ao “chamamento
típico” de Jesus Cristo que os Evangelistas referem por várias vezes. Fez-me
confusão, confesso. Estarei a ouvir “coisas”? Estou tontinho? Olhei em volta e
as sete ou oito pessoas que estavam por ali sentadas continuavam a conversar
normalmente. Enfim… gente comum, uns três ou quatro homens, duas senhoras e
três jovens “agarrados” aos telemóveis. Pois… não podia ser… Mas, de facto,
tornei a ouvir talvez com um acento de insistência: - Tu segue-me! Bom… desta
vez a coisa pareceu-me séria e tive de fazer um esforço para não me levantar
imediatamente persignando-me. Mas, sou teimoso, muito teimoso, e nada dado nem
a “visões” nem a “audições” estranhas como vindas “do Além”. Por isso resolvi
“entrar no jogo” e perguntei em silêncio: - Senhor… estás a falar comigo? E
ouvi: - Claro que estou a falar contigo. Vem e segue-me! Fiquei estarrecido! O
Senhor estava a falar comigo, sentado a uma mesa de café, numa rua qualquer da
cidade onde vivo. O esforço agora, para me comportar sem dar nas vistas, era
tentar reter a torrente lágrimas que sentia impetuosa a vir-me aos olhos. Deixei
de ouvir os ruídos das conversas à minha volta, do bulício normal de uma rua de
cidade, dos automóveis, nada. Como se uma espécie de “bolha” invisível me
tivesse encerrado isolando-me do mundo exterior. Pensei: ‘O que faço agora?’
Ali perto há uma Igreja aberta ao público. Quase como um “zombie” levantei-me e
fui até lá. O Templo estava deserto pelo que me senti muito à vontade e comecei
num monólogo íntimo, mas aceso e confiante: ‘Pronto, Senhor, não sabia onde ir,
ou antes, onde querias que fosse para seguir-Te, por isso, vim aqui. Desculpa a
minha ousadia e a minha pouca fé mas, se há mais alguma coisa…’ E não acabei
porque Ele, - tive então a certeza absoluta que era Ele – disse-me: ‘Fizeste
exactamente o que Eu queria. Sabes:
estou aqui neste Sacrário e há mais de quatro horas e não aparece ninguém para
Me fazer um pouco de companhia, ou, sequer, para Me cumprimentar! Que bom!
Agora estás aqui e podemos passar uns bons momentos juntos’, Para mim já não
havia quaisquer “barreiras” ou impedimentos de falsa vergonha e por isso
comecei a falar como se de repente tivesse aberto as portas do meu coração, da
minha alma, e deixasse vir cá para fora quanto guardava cioso da minha Fé e do
meu Amor. Sentia-me tão contente e feliz por ter merecido – sem merecimento – o
convite do Senhor que nem sei quanto tempo ali estive, nem o que Lhe disse ou
contei. Nunca me interrompeu e eu fui falando, falando ininterruptamente até que
uma senhora com alguma idade entrou na Igreja. Nessa altura disse-me: ‘Pronto!
Gostei do nosso convívio, podes ir-te embora. Ah! E obrigado por Me teres
seguido!’.
O
convite de Jesus Cristo a segui-Lo é muito simples e pragmático.
«Segue-Me!»
Posso
imaginar o tom, a inflexão das Suas palavras: Não são “imperiosas” nem
“formais”. São simples e concretas e não admitem interpretações. O tom é normal
e corrente. É, de facto um convite mas, parece uma ordem. Dirige-se sempre a
alguém especialmente e não é nem multitudinário nem abrangente. Realmente as
pessoas - multidões, lê-se nos Evangelhos - acompanham Jesus mas tal não quer
dizer que O sigam. Seguir alguém é acompanhar – permanentemente – essa pessoa,
escutando o que diz, vendo o que faz e como faz, no fim e ao cabo ter essa
pessoa como guia e mestre. Não consta nos Evangelhos que alguém não tenha
aceitado o convite a não ser, mas, neste caso, o jovem que desejava ser
perfeito e, Jesus, ofereceu-lhe a solução e foi esta que o jovem não quis
aceitar. (Cfr.
Mc 10, 17-22) O Senhor escolhe quem muito bem entende e
fá-lo – sempre – com a esperança que a pessoa que convida aceite e, com
segui-Lo, deseje imitá-Lo e alcance a Salvação Eterna. Talvez que o caso mais
paradigmático que consta nos Evangelhos (A escolha é minha) seja o convite endereçado a Mateus. (Cfr. Mt 9, 9) Jesus passa pelo seu lugar de trabalho:
sentado no telónio de cobrador de impostos. Olha-o nos olhos e diz as “famosas
palavras”: «Segue-me».
A
resposta foi pronta e imediata: Mateus levantou-se e seguiu Jesus. A decisão de
Mateus de seguir Jesus sugere-me algumas “lições”.
Uma
primeira “lição”: Não pode adiar-se para um momento qualquer num futuro sempre
incerto, ou é – como disse – pronta e imediata ou corre-se o risco de nunca
acontecer.
Uma
segunda “lição”: Não põe condições ou levanta obstáculos, impedimentos.
(Mateus, por exemplo, poderia demorar um pouco para terminar o que estava a
fazer.)
Uma
terceira “lição”: A exigência do desprendimento pessoal seja o que for:
importante ou de escasso valor, necessário ou não, com a confiada certeza que o
Senhor providenciará o que se mostrar útil.
(Foi
este desprendimento que faltou ao “Jovem Rico”) (Cfr. Mc 10, 17-22)
Uma
quarta “lição”: As “consequências” de seguir Jesus são inimagináveis!
Por
exemplo, Mateus tornou-se um dos Doze Apóstolos e foi autor de um dos
Evangelhos.
(AMA,
2019)
Nota:
Desde o séc. II, o Evangelho
de Mateus foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das
tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que
o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por
Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já
actuante no mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro
Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão
ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não
identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe
o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória,
na perspectiva do Reino de Deus.
[i]
Escolhi este
título para uma série de reflexões sobre os mistérios contidos no Evangelho. Se
por “mistério” consideramos algo que não entendemos inteiramente ou não compreendemos
com meridiana clareza, então julgo que o Evangelho contém muitas atitudes, palavras,
gestos de Jesus Cristo cujo verdadeiro significado e “alcance” nos escapa.
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