MISTÉRIOS DOLOROSOS
Quarto Mistério
Jesus toma a Cruz
Sobre
os Teus ombros doridos, repousa agora a Cruz que, desde sempre, Te estava
reservada.
Enfraquecido
como estás, uma noite inteira sem dormir, o sofrimento atroz do Getsémani, as vergastadas,
os encontrões, deixaram-Te quase sem forças.
O
Teu Espírito está como que aturdido pelos insultos, as palavras soezes, o ódio
e a raiva que vês nos homens que Te rodeiam e que toda a noite Te atormentaram.
Para
alguns judeus, príncipes dos sacerdotes e os outros do Sinédrio, és um inimigo
e há que exacerbar ao máximo a multidão dos simples, analfabetos, pouco mais
que brutos, para que peçam mais e mais sofrimentos, mais e mais troça e escárnio.
Só descansarão quando Te virem morto, pregado na Cruz.
Há o
secreto medo que os Teus discípulos que se contam por milhares, acorram em Teu
auxílio, se sublevem e subvertam facilmente toda uma turba de pobres homens e
mulheres ávidos de um chefe, de um líder contra os odiados opressores romanos.
Para
estes últimos, não passas de um divertimento. Algo que sai da rotina. Ainda por
cima, não têm qualquer responsabilidade; não lavou as mãos do assunto, o seu
chefe, Pôncio Pilatos?
E
onde estou eu, Senhor?
No
grupo turbulento, inconsciente e sem vontade própria os que gritam: «Crucifica-O!» (Cfr. Jo 19. 15), daqueles que se aglomeram,
ávidos de verem como é que vais aguentar o pesado madeiro?
Ou
estou no meio daqueles que se limitam a cumprir ordens, sem querer saber, como
nem porquê, se são justas ou injustas, e assim Te flagelei e agora Te arrasto
para receberes a Cruz?
Acrescento,
talvez, alguma coisa da minha lavra: uso o azorrague com mais força, fui eu
quem se lembrou da coroa de espinhos, dei-Te algumas bofetadas por minha conta?
Ou
sou, ainda, dos que, de longe, disfarçadamente, olham tudo, apavorados que
descubram qualquer ligação conTigo, olhando em volta, perscrutando se alguém se
lembra de me Ter visto no meio dos quatro mil que alimentas-Te milagrosamente
com uns poucos de peixes e pães?
Esta
angústia de não saber onde estou, faz-me encolher na minha própria
insignificância cobarde e pusilânime.
Quantas
vezes me deixei ir com os outros, sem querer saber para onde ia, onde levava
aquele caminho?
Quantas
vezes inventei eu próprio algumas modificações nesses caminhos ínvios
tornando-os mais tortuosos?
Quantas
vezes não fugi e não me escondi, fiquei calado e atentei passar despercebido
com medo de cair em “ridículo”, de “chocar” os outros, ou muito simplesmente de
me afirmar como Teu filho e não consentir, na minha presença, ofensas a meu
Pai?
Descansa
agora a Cruz no Teu ombro dorido, Senhor que Tu és homem, embora perfeito,
sentes em todo o Teu corpo esse peso enorme desse lenho duro que há-de receber
o teu Corpo martirizado.
E
conheces, um a um, todos os pecados de todos os homens que constituem o peso
dessa Cruz. Os meus também.
E eu
queixo-me da minha cruz. Que é pesada, que é incómoda, que, até por vezes, me
tira o sono!
Perdoa-me,
Senhor, a minha insensibilidade perante a Tua Cruz.
Não
olhes para mim, Senhor, com o Teu olhar magoado e triste.
Deixa-me
respirar um pouco, tomar alento, ganhar coragem para então, postado a Teu lado,
volveres para mim o Teu olhar misericordioso e, silenciosamente, dizeres-me:
Estás perdoado; não tornes a pôr mais peso nesta tão pesada Cruz.
E
eu, senhor, com o coração cheio de alegria pela Tua bondade, prometo
solenemente fazer tudo, com a Tua ajuda, para não tornar mais pesada a Tua
Santa Cruz.
(AMA, 1999)
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