16/10/2020

Leitura espiritual Outubro 16

 


Cartas de São Paulo

1.ª Timóteo 1

 

Saudação –

1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, 2 a Timóteo, verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor.

 

As falsas doutrinas –

3 Quando parti para a Macedónia, recomendei-te que ficasses em Éfeso, para dissuadir alguns de ensinarem doutrinas estranhas 4 e de se ocuparem de fábulas ou de genealogias intermináveis, que favorecem mais as discussões do que o desígnio de Deus que se realiza na fé. 5 O objectivo desta recomendação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. 6 Por se terem afastado desta linha, alguns perderam-se em discursos vãos. 7 Pretendendo serem mestres da lei, não sabem nem o que dizem, nem o que afirmam com tanta segurança. 8 Mas nós sabemos que a lei é boa, contanto que dela se faça um uso legítimo 9 e tendo em conta que a lei não foi feita para o justo, mas para os maus e rebeldes, para os ímpios e pecadores, para os sacrílegos e profanadores, para os parricidas e matricidas, homicidas, 10 impudicos, pederastas, traficantes de escravos, mentirosos, perjuros, e tudo aquilo que está em contradição com a sã doutrina, 11 segundo o Evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi confiado.

 

Acção de graças –

12 Dou graças àquele que me confortou, Cristo Jesus Nosso Senhor, por me ter considerado digno de confiança, pondo-me ao seu serviço, 13 a mim que antes fora blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, sem ter fé ainda. 14 E a graça de Nosso Senhor manifestou-se em mim com superabundância, juntamente com a fé e o amor que está em Cristo Jesus. 15 Eis uma palavra digna de fé e de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. 16 E justamente por isso alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Cristo Jesus mostrasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para aqueles que haviam de crer nele para a vida eterna. 17 Ao rei dos séculos, ao Deus incorruptível, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Ámen. 18 Esta é a recomendação que te confio, meu filho Timóteo, de acordo com o que predisseram algumas profecias a teu respeito: apoiado nelas, combate o bom combate, 19 conservando a fé e a boa consciência. Alguns, que as rejeitaram, naufragaram na sua fé, 20 como aconteceu com Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.

 



Cristo que passa

 

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A fé e a vocação de cristãos afectam toda a nossa existência e não só uma parte dela.

As relações com Deus são necessariamente relações de entrega e assumem um sentido de totalidade.

A atitude de um homem de fé é olhar para a vida, em todas as suas dimensões, com uma perspectiva nova: a que nos é dada por Deus.

 

Vós, que hoje celebrais comigo esta festa de São José, sois todos homens dedicados ao trabalho em diversas profissões humanas, formais diversos lares, pertenceis a diferentes nações, raças e línguas. Adquiristes formação em centros de ensino, em oficinas ou escritórios, tendes exercido durante anos a vossa profissão, estabelecestes relações profissionais e pessoais com os vossos companheiros, participastes na solução dos problemas colectivos das vossas empresas e da sociedade.

Pois bem: recordo-vos, mais uma vez, que nada disso é alheio aos planos divinos.

A vossa vocação humana é uma parte, e parte importante, da vossa vocação divina.

Esta é a razão pela qual vos haveis de santificar, contribuindo ao mesmo tempo para a santificação dos outros, vossos iguais, precisamente santificando o vosso trabalho e o vosso ambiente: a profissão ou ofício que enche os vossos dias, que dá fisionomia peculiar à vossa personalidade humana, que é a vossa maneira de estar no mundo: o vosso lar, a vossa família; e a nação em que nascestes e que amais.

 

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O trabalho acompanha necessariamente a vida do homem sobre a terra.

Com ele nascem o esforço, a fadiga, o cansaço, as manifestações de dor e de luta que fazem parte da nossa existência humana actual e que são sinais da realidade do pecado e da necessidade da redenção. Mas o trabalho, em si mesmo, não é uma pena nem uma maldição ou castigo: os que assim falam não leram bem a Sagrada Escritura.

É a hora de nós, os cristãos, dizermos bem alto que o trabalho é um dom de Deus e que não tem nenhum sentido dividir os homens em diversas categorias segundo os tipos de trabalho, considerando umas tarefas mais nobres do que outras.

O trabalho, todo o trabalho, é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação.

É um meio de desenvolvimento da personalidade.

É um vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para sustentar a família; meio de contribuir para o melhoramento da sociedade em que se vive e para o progresso de toda a Humanidade.

 

Para um cristão, essas perspectivas alargam-se e ampliam-se, porque o trabalho aparece como participação na obra criadora de Deus que, ao criar o homem, o abençoou dizendo-lhe: Procriai e multiplicai-vos e enchei a terra e subjugai-a, e dominai sobre todo o animal que se mova à superfície da terra.

Além disso, ao ser assumido por Cristo, o trabalho apresenta-se-nos como uma realidade redimida e redentora: é, não só o âmbito em que o homem vive, mas também meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora.

 

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Convém não esquecer, portanto, que esta dignidade do trabalho está fundamentada no Amor.

O grande privilégio do homem é poder amar, transcendendo assim o efémero e o transitório.

O homem pode amar as outras criaturas, dizer um tu e um eu cheios de sentido.

E pode amar a Deus, que nos abre as portas do Céu, que nos constitui membros da sua família, que nos autoriza a falar também de tu a Tu, face a face.

Por isso, o homem não pode limitar-se a fazer coisas, a construir objectos.

O trabalho nasce do amor, manifesta o amor, ordena-se ao amor. Reconhecemos Deus não só no espectáculo da Natureza, mas também na experiência do nosso próprio trabalho, do nosso esforço.

O trabalho é, assim, acção de graças, porque nos sabemos colocados por Deus na terra, amados por Ele, herdeiros das suas promessas.

É justo que se nos diga: quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.

 

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O trabalho é também apostolado, ocasião de entrega aos outros homens, para lhes revelar Cristo e levá-los até Deus Pai, consequência da caridade que o Espírito Santo derrama nas almas.

Entre as indicações que S. Paulo dá aos de Éfeso sobre como deve se manifestar a mudança que representou para eles a sua conversão, a sua vocação ao Cristianismo, encontramos esta: o que furtava, não furte mais, mas trabalhe, ocupando-se com as suas mãos nalguma tarefa honesta, para ter com que ajudar a quem tenha necessidade.

Os homens têm necessidade do pão da terra que sustente as suas vidas e também do pão do Céu que ilumine e dê calor aos seus corações.

Com o vosso próprio trabalho, com as iniciativas que se promovam a partir dessa ocupação, nas vossas conversas, no convívio com os outros, podeis e deveis concretizar esse preceito apostólico.

Se trabalhamos com este espírito, a nossa vida, no meio das limitações próprias da condição terrena, será uma antecipação da glória do Céu, dessa comunidade com Deus e com os santos, na qual só reinará o amor, a entrega, a fidelidade, a amizade, a alegria.

Na vossa ocupação profissional, corrente e ordinária, encontrareis a matéria - real, consciente, valiosa - para realizar toda a vida cristã, para corresponder à graça que nos vem de Cristo.

Nas vossa ocupações profissionais, realizadas face a Deus, pôr-se-ão em jogo a Fé, a Esperança e a Caridade. Os incidentes, as relações e os problemas que o vosso trabalho traz consigo alimentarão a vossa oração.

O esforço por cumprirdes os vossos deveres correntes será o modo de viverdes a Cruz, que é essencial para o Cristão.

A experiência da vossa debilidade e os fracassos que existem sempre em todo o esforço humano dar-vos-ão mais realismo, mais humildade, mais compreensão com os outros.

Os êxitos e as alegrias convidar-vos-ão a dar graças e a pensar que não viveis para vós mesmos, mas para o serviço dos outros e de Deus.

 

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Para servir, servir

 

Para viver assim, para santificar a profissão, é necessário, primeiro que tudo, trabalhar bem, com seriedade humana e sobrenatural. Quero recordar-vos agora, por contraste, o que conta um dos antigos relatos dos evangelhos apócrifos: O Pai de Jesus, que era carpinteiro, fazia arados e jugos.

Uma vez - continua a narração - foi-lhe encomendada uma cama, por certa pessoa de boa posição. Mas aconteceu que um dos varais era mais curto que o outro, pelo que José não sabia o que fazer.

Então o Menino Jesus disse ao seu Pai: põe os dois paus no chão e acerta-os por uma extremidade.

Assim fez José. Jesus põe-se do outro lado, pegou no varal mais curto e esticou-o, deixando-o tão comprido como o outro.

José, seu Pai, ficou cheio de admiração ao ver o prodígio e encheu o Menino de abraços e beijos dizendo: ditoso de mim, porque Deus me deu este Menino

José, não daria graças a Deus por estes motivos; o seu trabalho não podia ser assim. São José não é o homem das soluções fáceis e milagreiras, mas o homem da perseverança, do esforço e, quando é necessário, do engenho.

O cristão sabe que Deus faz milagres; que os realizou há séculos, que continuou a fazê-los depois e que continua a fazê-los agora, porque non est abbreviata manus Domini, não diminuiu o poder de Deus.

Mas os milagres são uma manifestação da omnipotência salvadora de Deus, e não um expediente para resolver as consequências da inépcia ou para facilitar o nosso comodismo.

O milagre que o Senhor vos pede é a perseverança na nossa vocação cristã e divina, a santificação do trabalho de cada dia: o milagre de converter a prosa diária em decassílabos, em verso heróico, pelo amor com que realizais a vossa ocupação habitual.

Aí vos espera Deus para que sejais almas com sentido de responsabilidade, com zelo apostólico, com competência profissional.

Assim, como lema para o vosso trabalho, posso indicar-vos este: para servir, servir.

Porque para fazer as coisas, é necessário, em primeiro lugar, saber concluí-las.

Não acredito na rectidão da intenção de quem não se esforça por conseguir a competência necessária para cumprir bem os trabalhos de que está encarregado.

Não basta querer fazer o bem; é preciso saber fazê-lo.

E, se queremos realmente, esse desejo traduzir-se-á no empenho por utilizar os meios adequados para fazer as coisas bem acabadas, com perfeição humana.

 

 

 

 

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