28/10/2020

Anjos da Guarda

 


Art. 6 –

 

Se o anjo da guarda às vezes abandona o homem para cuja guarda foi deputado.

 

O sexto discute–se assim.

– Parece que o anjo da guarda às vezes abandona o homem à cuja guarda foi deputado.

 

1. – Pois, diz a Escritura falando da pessoa dos anjos: “Medicamos Babilónia, e ela não sarou, deixemo–la” – e, noutro passo: “Arrancar–lhe–ei a sebe, e ficará exposta ao roubo”; e diz a Glossa, que isso se refere à guarda dos anjos.

 

2. Demais. – Deus guarda mais que o anjo. Ora, ele às vezes abandona o homem conforme está na Escritura: Ó Deus, Deus meu, olha para mim; porque me desamparaste? Logo, com maior razão o anjo da guarda abandona o homem.

 

3. Demais. Como diz Damasceno, os anjos, estando conosco, neste mundo, não estão no céu. Ora, como às vezes estão no céu, às vezes abandonam-nos. Mas, em contrário. – Os demónios sempre nos atacam, conforme a Escritura: “O demónio, vosso adversário, anda ao redor de vós como um leão que ruge, buscando a quem devorar”. Logo, com maior razão, os bons anjos sempre nos guardam.

 

SOLUÇÃO.

– A guarda dos anjos, como do sobredito se colhe, é uma execução da divina Providência relativa aos homens. Ora, é manifesto que nem o homem nem ser algum pode subtrair-se totalmente à divina Providência; pois, na medida em que um ente participa da existência nessa mesma está sujeito à providência universal dos seres. Diz-se, porém que Deus, conforme a ordem da sua Providência, abandona o homem, na medida em que permite que este padeça alguma deficiência, quanto à pena ou à culpa. E semelhantemente, deve-se dizer que o anjo da guarda nunca abandona totalmente o homem; mas às vezes, o abandona na medida em que não impede entre em alguma tribulação, ou mesmo caia em pecado, conforme à ordem dos juízos divinos. E neste sentido, se diz que Babilónia e a casa de Israel foram abandonadas dos anjos, porque os seus anjos da guarda não as livraram de caírem em tribulações. E daqui se deduzem as RESPOSTAS À PRIMEIRA E SEGUNDA OBJECÇÕES. RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora o anjo abandone às vezes o homem, localmente, não o abandona, contudo quanto ao efeito da guarda; porque, mesmo quando está no céu, sabe o que deve fazer em relação ao homem; nem precisa de intervalo de tempo para locomover–se, mas pode estar presente imediatamente.

 

 

(São Tomás de Aquino, Suma Teológica I, q. 113, a. 6)

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