Art. 6 –
Se
o anjo da guarda às vezes abandona o homem para cuja guarda foi deputado.
O
sexto discute–se assim.
–
Parece que o anjo da guarda às vezes abandona o homem à cuja guarda foi
deputado.
1.
– Pois, diz a Escritura falando da pessoa dos anjos: “Medicamos Babilónia, e
ela não sarou, deixemo–la” – e, noutro passo: “Arrancar–lhe–ei a sebe, e
ficará exposta ao roubo”; e diz a Glossa, que isso se refere à guarda dos
anjos.
2.
Demais. – Deus guarda mais que o anjo. Ora, ele às vezes abandona o homem
conforme está na Escritura: Ó Deus, Deus meu, olha para mim; porque me
desamparaste? Logo, com maior razão o anjo da guarda abandona o homem.
3.
Demais. Como diz Damasceno, os anjos, estando conosco, neste mundo, não estão
no céu. Ora, como às vezes estão no céu, às vezes abandonam-nos. Mas, em
contrário. – Os demónios sempre nos atacam, conforme a Escritura: “O demónio,
vosso adversário, anda ao redor de vós como um leão que ruge, buscando a quem
devorar”. Logo, com maior razão, os bons anjos sempre nos guardam.
SOLUÇÃO.
–
A guarda dos anjos, como do sobredito se colhe, é uma execução da divina
Providência relativa aos homens. Ora, é manifesto que nem o homem nem ser algum
pode subtrair-se totalmente à divina Providência; pois, na medida em que um
ente participa da existência nessa mesma está sujeito à providência universal
dos seres. Diz-se, porém que Deus, conforme a ordem da sua Providência,
abandona o homem, na medida em que permite que este padeça alguma deficiência,
quanto à pena ou à culpa. E semelhantemente, deve-se dizer que o anjo da guarda
nunca abandona totalmente o homem; mas às vezes, o abandona na medida em que
não impede entre em alguma tribulação, ou mesmo caia em pecado, conforme à
ordem dos juízos divinos. E neste sentido, se diz que Babilónia e a casa de
Israel foram abandonadas dos anjos, porque os seus anjos da guarda não as
livraram de caírem em tribulações. E daqui se deduzem as RESPOSTAS À PRIMEIRA E
SEGUNDA OBJECÇÕES. RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora o anjo abandone às vezes o
homem, localmente, não o abandona, contudo quanto ao efeito da guarda; porque,
mesmo quando está no céu, sabe o que deve fazer em relação ao homem; nem
precisa de intervalo de tempo para locomover–se, mas pode estar presente
imediatamente.
(São
Tomás de Aquino, Suma Teológica I, q. 113, a. 6)
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