In patientia vestra
possidebitis animas vestras (Lc 21,19)
Parte da fortaleza
é a virtude da paciência, que Joseph Ratzinger descreveu como “a forma
quotidiana do amor”. (Citado por G. Valente, Ratzinger Professore. Gli anni dello studio e
dell’insegnamento nel ricordo dei colleghi e degli allievi (1946-1977). São Paulo,
Cinisello Balsamo (Milão) 2008, p. 11). A razão pela qual
o cristianismo deu tradicionalmente a essa virtude uma importância notável pode
deduzir-se de umas palavras de Santo Agostinho no seu tratado sobre a
paciência, que descreve como “um dom tão grande de Deus, que deve ser
proclamada como uma marca de Deus que habita em nós”. (Santo Agostinho, De
patientia, 1 (PL 40, 611). A paciência é um dos frutos do Espírito Santo
enumerados por São Paulo em Gl 5, 22. Cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 736
e 1832.)
A paciência é,
pois, uma caraterística do Deus da história da salvação (Alguns textos
neotestamentários aludem à paciência de Deus: cf. 1 Pr 3, 20; 2 Pr 3, 9. 15; Rm
2, 4; Rm 3, 26; Rm 9, 22; Rm 15, 5; 1 Tm 1, 16.) como ensinava Bento
XVI no início de seu pontificado: “Este é o diferencial de Deus: Ele é o
amor. Quantas vezes desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte! Que atuasse
duramente, derrotasse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do
poder se justificam assim, justificam a destruição do que se opusesse ao
progresso e à libertação da humanidade. Nós sofremos pela paciência de Deus. E,
não obstante, todos necessitamos da sua paciência. O Deus, que se fez cordeiro,
disse-nos que o mundo se salva pelo Crucificado e não pelos crucificadores. O
mundo é redimido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens”
. (Bento XVI, Homilia
no solene início do ministério petrino, Roma, 24 de abril de 2005)
Muitas implicações
práticas podem ser extraídas desta consideração. A paciência conduz a saber
sofrer em silêncio, a suportar as contrariedades que emergem do cansaço, do
caráter alheio, das injustiças, etc. A serenidade de ânimo torna possível que
procuremos fazer-nos tudo para todos (Cf. 1Co 9, 22), acomodando-nos aos demais, levando connosco o nosso próprio ambiente, o
ambiente de Cristo. Por isso mesmo o cristão procura não pôr em perigo a sua fé
e a sua vocação por uma conceção equivocada da caridade, sabendo que –
utilizando uma expressão coloquial – pode chegar-se até às portas do inferno,
porém não entrar, porque ali não se pode amar a Deus. Deste modo, se cumprem as
palavras de Jesus: «é pela vossa paciência que alcançareis a vossa salvação»
(Lc 21, 19).
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