Capítulo X
APENAS CIÊNCIA TEM OS SEUS PERIGOS
Uma civilização
Pensamentos para a vida diária
Capítulo X
APENAS CIÊNCIA TEM OS SEUS PERIGOS
Uma civilização que não põe no pináculo a instrução mental, corre o perigo de desleixar a educação do carácter.
Jamais houve na história do mundo tanta instrução, e também nunca houve tantas guerra, tanta anarquia mental e tanta criminalidade na juventude.
Segue-se, necesariamente, tal qual ao dia se segue a noite, que, só por sai ciência não cria virtude, e, na verdade, dela e por ela só, podem ocorrer enormes perigos.
Bacon [1], no seu tratado do “Progresso do Conhecimento”, disse com razão que “o saber contém em si qualquer coisa de veneno de serpente e, assim, quando essa veneno entra no homem, fá-lo inchar”.
Esse saber que torna o homem impante de vaidade é o resultado da ciência sem amor.
O saber que cada homem, de per si, pode possuir e assimilar na mente é coisa mínima, em comparação com quanto no mundo espiritual e material constitui o conjunto da ciência.
Newton disse algures que tinha a impressão de estar numa praia e que contemplava o oceano da ciência estendendo-se à sua frente, a perder de vista.
E Darwin, que tão grande foi nas ciências naturais, afirmou: “Quanto sabemos deste nosso planeta compara-se ao que uma galinha velha sabe acerca do recinto de dez metros quadrados da sua capoeira, num canto da qual, à força de esgravatar, conseguiu descobrir duas minhocas.”
Por si só, o saber não constitui elo de união entre os homens, pelo contrário, opõe uns contra outros, como sucede quando um professor se remorde de inveja ante o saber e renome de outro professor, tal qual uma mulher, devorada pelo ciúme por causa do casaco de peles de outra mulher.
Assim é que os viveiros de sábios, que se chamam ‘universidade’, não são, geralmente, centros de boa camaradagem.
Se realmente o saber unisse os homens, então as universidades deveriam ser para o mundo modelos de amor fraterno.
Ora o que o saber consegue é levar, muitas vezes, os homens a humilhar o seu semelhante, quer pela jactancia de maior ciência que a deles, quer pelo desdém pela cultura inferior dos outros, perante a vastidão da própria.
Os gregos antigos menosprezaram os outros povos, chamando-lhes bárbaros, principalmente porque era vaidosos da sua cultura.
E Horácio, grande poeta e homem de muito saber, escreveu aquele verso famoso: “Odeio a ignorância do vulgo e fujo dele”.
Saber é força e é poder, contudo, talvez tanto para o mal como para o bem, a não ser que, à semelhança de uma máquina a vapor, tenha uma válvula de segurança e um maquinista competente.
Só o amor é capaz de tirar ao saber o senão fatal da presunção.
Como disse São Paulo, o saber enche o homem como se fosse um balão, mas só o amor consegue elevá-lo.
Ciência sem amor produz vaidade, intolerância e egoísmo.
Isto, porém, não quer dizer que seja mais de aconselhar o amor sem a ciência, poi que, deste extremo oposto resultam o sentimentalismo, a superstição e a ignorância.
O amor torna o saber eficaz e útil,
Há muitos que conhecem , pelo menos, os elementos da lei moral e até compreendam as provas da existencia de Deus.
Como, todavia, não procedem de acordo com esses princípios, nunca progredirão na compreensão na ciência completa que eles encerram.
Quando o verdadeiro amor inspira o saber, orienta-o para a mais inteira e profunda compreensão.
O saber não transpõe o limiar do templo: o amor entra e prostra-se ante o altar.
É sempre indispensável um mínimo de saber, antes que alguém possa amar outrem, necesariamente carece de primeiro conhecer esse outrem.
Daí por diante, no entanto, à medida que as relações pessoais se estreitam é o amor que toma a dianteira e faz progredir a compreensão da pessoa que se ama.
Por isso dizem as Escrituras que aquele que não ama não conhece Deus porque Deus é Amor.
Não é a inteligência que abre os tesouros mais íntimos do amor humano: se outrem nos mostra uma curiosidade demasiado intelectual a nosso respeito, nós imaginaremos que apenas quer autopsiar a frio a nossa alma, psicanalisar-nos (como agora é moda dizer-se) tão certo é que a personalidade de qualquer pessoa se melindra com a mera curiosidade mental e faz com que o mais íntimo dessa personalidade se feche, como planta sensitiva ao menor toque estranho.
Ciência sem amor,sem o Amor de Deus, sem o amor da pátria, sem o amor dos pais, é uma força de destruição.
Estamos agora na posse da ciência da energia nuclear do átomos,e começamos, ao mesmo tempo, a procurar acautelar-nos dos seus efeitos.
Será preciso, porém, mais tempo e, ainda mais, amor, para que aprendamos para que também aprendamos a não nos servirmos dessa nova ciência e do poder e da força que ela dá, para fazermos ir pelos ares o planeta em que vivemos.
Instruidos em ciência sem amor já nós estamos demais, e talvez seja agora conveniente construirmos algumas universidades onde se ensine que o Amor de Deus, e do próximo por amor de Deus, são os melhores companheiros das ciências da Natureza.
Fulton J. Sheen, Thoughts for dayly living, (tradução por AMA)
[1] Francis Bacon, (22.01.1561 – 09.04.1621) 1°. Visconde de Alban, também referido como Bacon de Verulâmio; político, filósofo, cientista, ensaísta inglês, barão de Verulam e visconde de Saint Alban. É considerado como o fundador da ciência moderna. Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas (Lord Chancellor 1617–1621). Influenciado por: Aristóteles, Platão, Nicolau Maquiavel,
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