05/06/2019

Leitura espiritual


CARTA ENCÍCLICA

HAURIETIS AQUAS

DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


I

FUNDAMENTOS E PREFIGURAÇÕES
DO CULTO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
NO ANTIGO TESTAMENTO

3) O amor de Deus, motivo dominante do culto ao Santíssimo Coração de Jesus, no Antigo Testamento

17. Com todo esse amor, terníssimo, indulgente e longânime mesmo quando se indigna pelas repetidas infidelidades do povo de Israel, Deus nunca chega a repudiá-lo definitivamente; mostra-se, sim, veemente e sublime; mas, contudo, em substância isso não passa do prelúdio daquela inflamadíssima caridade que o Redentor prometido havia de mostrar a todos com o seu amantíssimo coração, e que ia ser o modelo do nosso amor e a pedra angular da nova aliança.
Porque, em verdade, só aquele que é o Unigénito do Pai e o Verbo feito carne "cheio de graça e de verdade"[1], tendo descido até aos homens oprimidos de inúmeros pecados e misérias, podia fazer brotar da Sua natureza humana, unida hipostaticamente à Sua Pessoa Divina, "um manancial de água viva" que regasse copiosamente a terra árida da humanidade, transformando-a em florido e fértil jardim.
E essa obra admirável que o amor misericordioso e eterno de Deus devia realizar, de certo modo já parece prenunciá-la o profeta Jeremias com estas palavras:

"Amei-te com amor eterno; por isso atrai-te a mim cheio de misericórdia... Eis vêm dias, afirma o Senhor, em que pactuarei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova: este será o pacto que eu concertarei com a casa de Israel depois daqueles dias, declara o Senhor: Porei minha lei no interior dele e escrevê-la-ei no seu coração, e serei o seu Deus e eles serão o Meu povo...; porque perdoarei a sua culpa e não mais Me lembrarei dos seus pecados" [2].



II

LEGITIMIDADE DO CULTO AO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS
SEGUNDO A DOUTRINA
DO NOVO TESTAMENTO E DA TRADIÇÃO


1) O amor de Deus no mistério da encarnação redentora segundo o Evangelho

18. Mas somente pelo Evangelho chegamos a conhecer com perfeita clareza que a nova aliança estipulada entre Deus e a humanidade – aliança da qual a pactuada por Moisés entre o povo e Deus foi somente uma prefiguração simbólica, e o vaticínio de Jeremias mera predição – é aquela que o Verbo encarnado estabeleceu e levou à prática merecendo-nos a graça divina.

Esta aliança é incomparavelmente mais nobre e mais sólida, porque, a diferença da precedente, não foi sancionada com sangue de cabritos e novilhos, mas com o sangue sacrossanto daquele que esses animais pacíficos e privados de razão, prefiguravam:

"O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" [3].

Porque a aliança cristã, ainda mais do que a antiga, manifesta-se claramente como um pacto, não inspirado em sentimentos de servidão, não fundado no temor, mas apoiado na amizade que deve reinar nas relações entre pai e filhos, sendo alimentada e consolidada por uma mais generosa distribuição da graça divina e da verdade, conforme a sentença do evangelho de João:

"Da sua plenitude todos nós participamos, e recebemos uma graça por outra graça. Porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça foi trazida por Jesus Cristo" [4].

19. Introduzidos, por essas palavras do "discípulo amado que durante a ceia reclinara a cabeça sobre o peito de Jesus" [5], no próprio mistério da infinita caridade do Verbo encarnado, é coisa digna, justa, recta e salutar que nos detenhamos um pouco, veneráveis irmãos, na contemplação de tão suave mistério, a fim de, iluminados pela luz que sobre ele projectam as páginas do Evangelho, podermos também nós experimentar o feliz cumprimento do voto que o Apóstolo formulava escrevendo aos fiéis de Éfeso:

"Habite Cristo, pela fé, nos vossos corações, vós que estais arraigados e cimentados em caridade, para que possais compreender com todos os santos qual é a largura e comprimento, a altura e profundidade deste mistério, e conhecer também o amor de Cristo a nós, o qual sobrepuja todo conhecimento, para que sejais plenamente cumulados de todos os dons de Deus"[6] .

PIO PP. XII.


(Revisão da versão portuguesa por AMA)

Notas:


[1] Jo 1, 14
[2] Jr 31, 3.31. 33-4
[3] cf. Jo 1, 29; Hb 9, 18-28; 10, 1-17
[4] Jo 1, 16-17
[5] Jo 21, 20
[6] Ef 3, 17-19

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.