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O senhor afirma justamente
que o Papa é um mistério.
Afirma, com razão, que ele
é sinal de contradição, que ele é uma
provocação.
Além disso o senhor sustém
que face a uma verdade assim – ou seja, face ao Papa – há que escolher; e para muitos essa escolha não é fácil.
Acaso foi fácil para o
próprio Pedro?
Foi-o para qualquer um dos
seus sucessores?
É fácil para o Papa
actual?
Escolher comporta uma
iniciativa do homem. Todavia Cristo disse: «Não to revelaram nem a carne nem o
sangue, mas sim o Meu Pai». [ii]
Esta escolha, portanto,
não é somente uma iniciativa do homem, é também uma acção de Deus, que actua no homem, que revela. E em virtude dessa
acção de Deus, o homem pode repetir: «Tu
és Cristo, o Filho de Deus vivo» [iii]
e depois pode recitar todo o Credo,
que é intimamente harmónico, conforme a profunda lógica da revelação.
O homem também pode
aplicar a si mesmo e aos outros, as consequências que derivam da lógica da fé,
penetradas pelo esplendor da verdade;
pode fazer tudo isso, apesar de saber que, por causa disso, se converterá em «sinal de contradição».
O que resta a um homem
assim?
Somente as palavras que
Jesus dirigiu aos Apóstolos: «Se me perseguiram a Mim, perseguirão também a
vós; se observaram a Minha palavra, observarão também a vossa». [iv]
Portanto: «Não tenhais
medo!» Não tenhais medo do mistério de
Deus; não tenhais medo do Seu Amor; e não tenhais medo da debilidade do homem
nem da sua grandeza»
O homem não deixa de ser
grande nem sequer na sua debilidade.
Não tenhais medo se ser
testemunhas da dignidade de toda a pessoa humana, desde o momento da concepção
até à hora da morte.
E a propósito dos nomes,
acrescento: o Papa também é chamado Vigário de Cristo. Este título deve ser
considerado no contexto total do Evangelho.
Antes de subir ao Céu
Jesus disse aos Seus Apóstolos:
Ele, ainda que invisível,
está pois presente pessoalmente na Sua Igreja. E está em cada cristão, em
virtude do Baptismo e dos outros Sacramentos.
Por isso, já no tempo dos
santos Padres, era costume afirmar: Christianus
alter Christus («o cristão é outro Cristo»), querendo com isso ressaltar a
dignidade do baptizado e a sua vocação, em Cristo, a santidade.
Cristo, além do mais,
cumpre uma presença especial em cada sacerdote, o qual, quando celebra a
Eucaristia ou administra os Sacramentos, o faz in persona Christi.
(…)
Assim, pois, para em
alguma medida dissipar os seus temores, ditados todavia por uma profunda fé,
aconselhar-lhe-ia a leitura de Santo Agostinho, que costumava repetir: Vobis sum episcopus, vobíscum christianus
(«Para vós sou o bispo, convosco sou um cristão» [vi]
Se se considera isto
adequadamente, significa muito mais christianus
que no episcopus, ainda que se trate
do Bispo de Roma.
(Cfr entrevista de
Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA,
Outubro de 1994)
(Tradução do castelhano por AMA)
[i] Cfr. Lc 2, 34
[ii] Mt 16, 17
[iii] Mt 16, 16
[iv] Jo 15, 20
[v] Mt 28,20
[vi] Serm 340, 1: PL38,
1483
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