04/11/2018

Leitura espiritual

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LEGENDA MAIOR 
Vida de São Francisco de Assis)

SEGUNDA PARTE

CAPITULO 11

Conhecimento das Escrituras e espírito de profecia

12. Dois irmãos vieram um dia de regiões muito distantes ao eremitério de Greccio, ansiosos por ver o homem de Deus e receber sua bênção, que há muito tempo desejavam. Mas ao chegarem, não encontraram o santo que já se havia retirado para a cela. Os dois irmãos, desolados, retomaram o caminho de volta.
Mas eis que ao se afastarem, o santo, que não podia ter sabido da chegada nem da partida deles, saiu, contra seu costume, da cela, chamou-os afavelmente e, fazendo sobre eles o sinal-da-cruz, concedeu-lhes em nome do Senhor a bênção tão desejada.

13. Chegaram um dia dois religiosos procedentes da Terra di Lavoro. O mais velho deles havia escandalizado várias vezes o companheiro, durante o caminho. Ao chegarem, o Pai perguntou ao mais jovem como se comportara o outro pelo caminho.
Respondeu: “Certamente bastante bem”. A esta resposta, acrescentou Francisco: “Guarda-te, irmão, de mentir, mesmo sob a capa de humildade. Pois eu sei muito bem do que aconteceu. Espera um pouco e verás o resultado”.
Ficou admirado sobremaneira o irmão ao ver como ele conhecia com tanta evidência as coisas ausentes.
Pouco depois, o causador do escândalo, abandonando a Ordem, voltou ao século, sem pedir perdão ao seráfico Pai nem esperar dele a oportuna correcção.
Duas coisas ficaram demonstradas ao mesmo tempo com a ruína daquele homem: a equidade da justiça divina e a perspicácia surpreendente do espírito de profecia do nosso santo.

14. Vimos já nas páginas precedentes como ele apareceu milagrosamente a pessoas distantes.
Aqui basta recordar como ele, estando ausente, surgiu diante dos irmãos, transfigurado, num carro de fogo, e como um crucificado aos capitulares de Arles.
Devemos crer que tais factos se deram por disposição divina, no sentido de que aquele seu maravilhoso aparecimento em vários locais com sua pessoa física indicava manifestamente como seu espírito vivia em perfeita comunhão com a Luz da eterna Sabedoria, a qual “é mais ágil que todas as coisas móveis, atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza... Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e intérpretes de Deus” (Sb 7,24 e 27).
De facto, o Mestre celestial costuma descobrir os seus mais ocultos mistérios aos simples e pequeninos, como se viu em David, o mais ilustre dos profetas, depois em Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, e mais tarde no Pobrezinho de Cristo, Francisco.
Todos esses eram simples, e não tinham erudição, mas pelas luzes do Espírito Santo chegaram a tornar-se ilustres; pois o primeiro foi constituído pastor, encarregado de apascentar o povo de Israel resgatado do Egipto; a Pedro, pescador, foi-lhe confiado o
encargo de encher a rede misteriosa da Igreja com a multidão dos crentes; e a Francisco, simples comerciante, inspirou-lhe o Senhor o desejo de vender e distribuir todas as coisas por Cristo, a fim de comprar a pérola preciosa de que fala o Evangelho.

CAPITULO 12

Eficácia da sua pregação e poder de curar

1. Fiel e verdadeiro servo de Cristo, querendo Francisco cumprir tudo com fidelidade e perfeição, esforçava-se por praticar sobretudo aquelas virtudes que conhecia serem mais gratas a Deus, como lhe ditara o Espírito Santo. E foi tal fidelidade que um dia o fez sofrer longamente por causa de uma dúvida angustiante.
Ao voltar da oração, ele a expôs aos irmãos mais chegados, rogando-lhes que o auxiliassem a encontrar a solução:
“Meus irmãos, que me aconselhais, qual a vossa opinião: devo dedicar-me à oração ou caminhar de cidade em cidade para pregar? Pois sou um pobre homenzinho simples, sem eloquência, mais dotado para a oração do que para a pregação.
Na oração obtemos e acumulamos graças, ao passo que a pregação é, por assim dizer, uma distribuição dos bens recebidos do céu.
Na oração purificamos todos os impulsos da alma e os centramos com maior firmeza n’Aquele que é o único e soberano Bem, enquanto: na pregação o nosso espírito cobre-se de poeira, como os pés, as distracções nos assaltam de toda parte e a disciplina se relaxa.
Na oração falamos com Deus e o ouvimos, levando assim uma vida que se aproxima da dos anjos, ao passo que a pregação nos força a colocar-nos continuamente ao nível dos homens e a viver com eles, pensar, ver, falar e escutar com eles...
Mas, contra todas essas vantagens da oração, existe um argumento que, se nos colocarmos do ponto de vista de Deus, parecerá decisivo: o Filho único de Deus, Sabedoria suprema, deixou o seio do Pai pela salvação das almas, a fim de se dar ao mundo como exemplo, dirigir aos homens a Palavra que salva, dar-lhes seu sangue como resgate e libertação, como banho de purificação e como bebida que fortifica; nada reteve para si, mas nos deu tudo a fim de nos salvar. E como devemos imitar suas acções, tal como Moisés que confeccionou o candelabro de ouro segundo o modelo que Deus lhe mostrara sobre o monte, parece-me que o que mais agrada a Deus é que eu abandone a tranquilidade do meu retiro para ir trabalhar e pregar”.
Durante vários dias continuou ele com seus irmãos a discussão sem chegar a formar uma convicção certa sobre a escolha que seria a mais agradável a Cristo.
Ele mesmo, que recebia revelações maravilhosas em virtude de seu espírito de profecia, não conseguia esclarecer-se e resolver a questão: Deus permitia isso para evidenciar por um milagre o mérito de seu servo no momento de partir para a pregação e salvaguardar sua humildade.

2. Não se envergonhava de pedir conselhos aos seus inferiores nas coisas pequenas, ele que se julgava o menor de todos, embora houvesse aprendido do Mestre supremo grandiosas revelações.
Por isso costumava ter sumo cuidado em indagar de que modo e de que forma poderia servir mais perfeitamente ao Senhor segundo seu beneplácito.
Foi esta a sua filosofia particular, foi esse o seu mais ardente desejo enquanto viveu: consultar os sábios e os simples, os perfeitos e os imperfeitos, os grandes e os pequenos, de que maneira poderia chegar mais facilmente ao cume: da perfeição.
E então chamou dois dos seus irmãos e enviou-os ao irmão Silvestre, aquele mesmo que em outro tempo vira sair da boca de Francisco uma cruz esplêndida, e então se encontrava entregue aos fervores da oração num monte próximo à cidade de Assis, encarregando-o de consultar a Deus a fim de resolver aquela dúvida e pedindo-lhe que lhe comunicasse qual: a resposta do Senhor.
Também pediu a Clara, virgem santa, encarregando-a de conferenciar sobre o assunto com alguma das mais puras e simples virgens que com ela estavam e acrescentando as suas próprias orações às demais, para que procurasse verificar qual a vontade do Senhor no assunto objecto da consulta.
Houve uma unanimidade extraordinária: o sacerdote e a virgem, sob a inspiração do Espírito Santo, assim interpretaram a vontade de Deus: o arauto de Cristo deve ir pregar pelo mundo.
Voltaram os irmãos, indicando qual a vontade de Deus, conforme tinham podido saber. Ele imediatamente se levantou, cingiu as vestes e, sem se deter um momento, se pôs a caminho.
Ia com tanto fervor executar a vontade divina, corria tão velozmente, como se a mão do Senhor, descendo sobre ele, o houvesse cumulado de novas energias.

(cont

São Boaventura
Revisão da versão portuguesa por AMA

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