LEGENDA MAIOR
Vida de São Francisco de Assis
ALGUNS
MILAGRES REALIZADOS APÔS A MORTE DE SÃO FRANCISCO
CAPÍTULO
VII
CEGOS
QUE RECOBRARAM A VISTA
1. No convento dos
franciscanos de Nápoles, havia um Irmão chamado Roberto, que por muitos anos
viveu cego.
Em seus olhos haviam-se
formado umas excrescências carnosas que impediam o uso e o movimento das
pálpebras.
Muitos Irmãos por lá
costumavam passar como hóspedes ao se dirigirem a diversas partes do mundo,
quando aconteceu que o bem-aventurado Francisco, espelho de perfeita
obediência, a fim de animar os Irmãos em seus empreendimentos por meio de um milagre,
curou em presença de todos aquele Irmão cego, da seguinte maneira:
Frei Roberto, às portas da
morte, jazia em sua cama e já se lhe havia feito a encomendação da alma, quando
se aproximou o seráfico Pai com três outros Irmãos, homens de grande santidade:
Santo António, Frei Agostinho e Frei Tiago de Assis, que assim como o tinham seguido
perfeitamente durante a vida, assim também o acompanharam alegres após a morte.
São Francisco tomou uma
faca e cortou ao enfermo toda a carne supérflua dos olhos, restituiu-lhe a
saúde junto com a vista, livrou-o da morte e lhe disse:
“Roberto, meu filho, esta
graça que te concedi para servir de sinal para nossos Irmãos que partem para
regiões distantes onde os precederei e dirigirei todos os seus passos.
Irão, pois, felizes, e
cumprirão com ânimo alegre o mandamento da santa obediência”.
2. Em Tebas, cidade da
Grécia, havia uma mulher cega, que costumava jejuar a pão e água na vigília de
São Francisco.
Ao amanhecer de um desses
dias festivos, foi ela conduzida por seu marido à igreja dos Irmãos menores.
Ouvia ela a missa, e à
hora da elevação do corpo de Cristo, abriu os olhos e o viu com toda clareza,
fez um acto de profunda adoração, e disse em voz alta: “Graças sejam dadas a
Deus e a seu servo Francisco, pois tenho a felicidade de ver a hóstia
consagrada”.
A essas palavras os
presentes prorromperam em exclamações de alegria. Terminada a missa, voltou a
mulher para sua casa com imenso júbilo na alma e claríssima luz nos olhos.
A felicidade daquela
senhora era enorme não só por haver recuperado a vista corporal, mas também
porque mediante a intercessão de São Francisco e ajudada por sua fé merecera
contemplar acima de tudo aquele augusto e divino sacramento, que encerra em si
aquele que é a Luz verdadeira e inextinguível das almas.
3. Um menino de catorze
anos de Pofi, na Campania, por um trauma repentino, ficou totalmente cego do
olho esquerdo.
Pela violência da dor,
saíra-lhe o olho da órbita, pendendo oito dias sobre a face na largura de um
dedo, por causa do afrouxamento do nervo. Não havia outro remédio senão operar,
na opinião dos cirurgiões.
Vendo isso, o pai do
menino apegou-se confiante à protecção de São Francisco, que não deixou de
atender às súplicas do seu devoto, advogado que é sempre dos necessitados. Com
um prodígio extraordinário, recolocou em seu lugar o olho enfermo, restituindo-lhe
a visão perfeita.
4. Naquela mesma região,
em Castro dei Volsci, uma viga muito pesada desprendeu-se de uma altura e caiu
sobre a cabeça de um sacerdote, cegando-lhe o olho esquerdo.
Caído no chão, o paciente
começou a chamar em alta voz e angustiado a São Francisco: “Socorro, Pai
santíssimo, para que eu possa ir ... tua festa, como prometi aos teus Irmãos!”
Deu-se isso na vigília da
festa do santo, e o sacerdote levantou-se inteiramente são, dando gritos de
alegria e acção de graças, causando grande surpresa e júbilo a todos os
presentes que se haviam compadecido de sua miséria.
Assistiu à festa do santo,
narrando a todos a estupenda maravilha que com ele havia realizado.
5. Certo homem de Monte
Gargano trabalhava em sua vinha e, ao cortar uma acha de madeira, feriu-se na
vista, de modo que esta se partiu ao meio, ficando uma parte pendente.
Perdeu a esperança de
curar o seu mal por meios humanos, e prometeu solenemente a São Francisco
jejuar em sua festividade caso o socorresse.
Fez a promessa e logo
ficou curado: o olho se recompôs em seu devido lugar, adquiriu perfeita visão e
nenhum sinal ficou de lesão.
6. O filho de um nobre,
cego de nascença, conseguiu a visão tão desejada pelos méritos de São
Francisco.
E por haver conseguido
assim a visão, deram-lhe o nome de Iluminado.
Ao chegar mais tarde à
idade competente, e muito grato pelo benefício recebido, vestiu o hábito da
Ordem de São Francisco e adiantou-se tanto em luz de graça e virtudes, que com razão
parecia filho da própria Luz.
Enfim, pelos méritos de
Francisco, aquele princípio tão santo teve um fim ainda mais santo.
7. Em Zancato, perto de
Anagni, um cavaleiro de nome Geraldo perdera totalmente a vista. Dois Irmãos
menores que acabavam de chegar de além-mar foram à casa daquele cavaleiro pedir
hospedagem. Toda a família os recebeu com devoção e com grande afabilidade foram
tratados por amor a São Francisco.
Depois de dar graças ao
Senhor e a seus bons hóspedes, foram ao convento mais próximo.
Algum tempo depois, São
Francisco apareceu certa noite em sonho a um daqueles Irmãos, dizendo-lhe:
“Levanta-te e vai depressa à casa de nosso hóspede que na vossa pessoa nos
recebeu a Cristo e a mim, pois quero cumprir com ele os deveres da piedade.
Sabei que ficou cego por
suas culpas, que não procurou expiar com a confissão sacramental”. Desapareceu
São Francisco e o Irmão, sem perda de tempo, se levantou para cumprir junto com
seu companheiro a ordem recebida.
Chegados à casa do
hóspede, referiram todos os detalhes do sonho que um deles havia tido. O homem
ficou admirado, confirmando ser verdade tudo o que lhe referia o Irmão, e,
derramando copiosas lágrimas, confessou-se com viva dor de suas culpas.
Por fim, prometeu
emendar-se e mudar de vida, e no mesmo instante recobrou a vista.
Espalhou-se por toda parte
a fama deste milagre.
Muito cresceu a devoção a
São Francisco e grande número de pessoas sentiu-se estimulado à humilde e
sincera confissão de seus pecados.
ACRÉSCIMO
POSTERIOR
7. Em Assis, um homem
acusado falsamente de furto foi condenado à cegueira total por decreto do juiz
de Assis, Otaviano; a sentença foi executada pelo cavaleiro Otão e oficiais de
justiça.
Estes forçaram ao
condenado os olhos para fora das órbitas e amputaram-lhe os nervos oculares com
uma faca.
A seguir o pobre homem foi
levado diante do altar de São Francisco a quem o infeliz pediu que o
socorresse.
Disse que era inocente e
pela intercessão do santo recebeu novos olhos dentro de três dias.
Eram menores, mas a visão
era a mesma de sempre.
O cavaleiro Otão prestou
juramento acerca do estupendo milagre diante de Tiago, abade de São Clemente,
que estava fazendo investigações a respeito por autoridade do bispo Tiago de
Tivoli.
Também prestou depoimento
Frei Guilherme Romano, ao qual Frei Jerónimo, ministro geral da ordem, ordenou
por obediência e sob pena de excomunhão que referisse veridicamente tudo quanto
sabia a respeito.
Obrigado a um juramento
assim tão solene, em presença de muitos ministros provinciais e de outros
Irmãos que gozavam de autoridade, afirmou o que segue:
Quando ainda era leigo,
conheceu o homem em questão e verificou que ele tinha os dois olhos. Assistiu
em seguida à operação com que o cegaram; e até mesmo, por curiosidade, chegou a
revirar com um bastão aqueles olhos lançados no chão.
Depois viu o mesmo homem
dotado de novos olhos, que ele recebera por graça da misericórdia divina e com
os quais via muito bem.
(cont
São Boaventura
Revisão da versão
portuguesa por AMA
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