LEGENDA MAIOR
Vida de São Francisco de Assis
ALGUNS
MILAGRES REALIZADOS APÔS A MORTE DE SÃO FRANCISCO
CAPÍTULO
V
PRISIONEIROS
E ENCARCERADOS POSTOS EM LIBERDADE
1. Na Grécia, aconteceu
que o servo de um senhor foi falsamente acusado de roubo.
O senhor acorrentou-o e o pôs em duro cárcere. Mas a
senhora da casa teve piedade dele. Estava convencida de que ele era inocente da
acusação feita contra ele e rogou ao marido que o soltasse. Ele, porém,
obstinadamente recusava-se a libertá-lo.
Então aquela senhora
recorreu a São Francisco e recomendou o homem inocente à sua intercessão.
Francisco, protector dos
pobres, respondeu imediatamente e foi visitar o prisioneiro. Soltou-lhe as
correntes que o prendiam e abriu as portas da prisão. Em seguida, conduzindo-o
pela mão, levou-o para fora e lhe disse: “Sou Francisco. A tua senhora confiou-te
à minha intercessão”.
O prisioneiro ficou amedrontado.
Como tivesse que fazer a volta pelo lado de um rochedo muito alto, repentinamente
se encontrou, por auxílio do seu libertador, em terra plana.
Voltou à casa de sua senhora
e referiu a ela, alegre e minuciosamente os pormenores do milagre, de sorte que
ela se tornou mais devota ainda no seu amor a Cristo e a São Francisco.
2. Em Massa de São Pedro,
um homem pobre devia a um cavaleiro uma certa quantia de dinheiro.
Na sua pobreza, não tinha recursos
para lhe pagar a dívida. O credor então mandou prendê-lo. O pobre rogava-lhe que
tivesse compaixão dele e lhe desse outra oportunidade, por amor a São
Francisco.
O nobre, no entanto, cheio
de orgulho, fazia-se surdo às súplicas do outro, desprezando como ridículo o
amor do santo. E respondeu-lhe desdenhosamente: “Vou colocar-te num cárcere tão
oculto e seguro, que nem esse Francisco nem outro qualquer poderão
socorrer-te”. E fazendo o que ameaçara, procurou um cárcere escuro, e lá
encerrou o desgraçado, carregado de pesadas cadeias.
Pouco depois, apareceu-lhe
São Francisco, livrou-o daqueles ferros, abriu-lhe as portas e o deixou ir livre
para sua casa.
O senhor orgulhoso ficou
humilhado pela virtude poderosa de Francisco, que libertou o preso que se lhe
havia recomendado e trocou, por verdadeiro milagre, a petulância daquele
cavaleiro em mansidão exemplar.
3. Alberto de Arezzo foi
lançado na prisão por dívidas que ele jamais contraiu; encomendou-se a São
Francisco na sua inocência com toda humildade; era muito afeiçoado à Ordem e
tinha veneração especial ao santo de Assis acima de qualquer outro.
O credor blasfemo afirmou
que ninguém nem Deus nem São Francisco seriam capazes de livrá-lo das suas mãos.
Alberto, no entanto, na
vigília da festa do santo, fez um jejum rigoroso e deu sua ração de comida a um
mendigo por amor a São Francisco.
Naquela noite, enquanto
vigiava, apareceu-lhe o santo. Assim que ele entrou na cela, caíram as
cadeias das mãos e dos pés
do prisioneiro, as portas se abriram por si mesmas e as tábuas do tecto
saltaram.
Libertou-se então aquele
homem e voltou para casa. Cumpriu desde então a promessa que fez de sempre jejuar
na véspera da festa de São Francisco e, como testemunho do seu crescente amor
ao santo, a cada ano que passava acrescentava uma onça ao volume do círio que
acendia em sua honra.
4. Quando o Papa Gregório
IX pontificava, certo homem chamado Pedro, natural da cidade de Alife, acusado
de heresia, foi preso em Roma por ordem do papa e levado ao bispo de Tivoli
para ser custodiado.
Recebeu-o o bispo e, para
não perder o bispado, mandou pôr-lhe cadeias e prendeu-o num cárcere escuro
para não escapar, dando-lhe um pouco de pão e um pouco de água para sobreviver.
Vendo-se o prisioneiro em
situação tão penosa, começou a invocar entre lá grimas e suspiros a protecção
de São Francisco para que o socorresse, tanto mais porque ouvira que era a
véspera da festa do santo.
E como a pureza de sua fé
vencera a contumácia dos seus erros e se unira a Francisco com todas as veras
de sua alma, mereceu ser ouvido por Deus pelos méritos de seu advogado
Francisco.
Efectivamente,
aproximando-se a noite da festa, e quando a luz do crepúsculo começava a
desvanecer-se, apareceu ao prisioneiro no cárcere o seráfico Patriarca com
semblante misericordioso, chamou-o por seu próprio nome e mandou-lhe que se
levantasse imediatamente.
Atemorizado, perguntou quem
era, e a aparição lhe disse que era Francisco.
Percebendo que estava
livre das cadeias e que as portas do cárcere estavam abertas para sair, ficou
tão perturbado, que não conseguia acertar o caminho de saída, e dando gritos
diante da porta, fez correr os guardas que, às pressas, foram participar ao
bispo que o preso estava livre das cadeias.
Logo chegou a notícia aos
ouvidos do bispo, o qual, movido por sua devoção, foi até ao cárcere e,
inteirado do acontecido, só teve que reconhecer a mão de Deus, adorando-o com acção
de graças pelo prodígio.
As cadeias que haviam
prendido aquele homem foram apresentadas ao Senhor Papa e aos cardeais que,
vendo o sucedido, ficaram muito admirados e deram graças ao Senhor.
5. Guidolotto de São
Geminiano foi acusado falsamente de ter envenenado um homem e de ter a intenção
de exterminar do mesmo modo o filho dele e toda a família.
O magistrado decretou a sua
prisão e mandou acorrentá-lo num cárcere escuro.
Ele, porém, entregou-se a
Deus, encomendando-se à intercessão de São Francisco, seguro de sua inocência.
Entretanto, o magistrado
reflectia de que modo poderia melhor arrancar ao suposto culpado a confissão do
crime, por meio de torturas, e a que género de morte o condenaria assim que ele
confessasse o crime.
Estava já determinado que
no dia seguinte o réu seria levado ao lugar do suplício; mas naquela mesma
noite foi visitado por São Francisco, que iluminou a prisão com uma luz esplêndida
durante toda a noite; encheu-o de gozo e confiança e deu-lhe segurança para se
evadir.
Pela manhã chegaram os carrascos,
os quais tiraram o prisioneiro do cárcere e o suspenderam no cavalete,
agravando os seus tormentos com grandes ferros. Várias vezes o faziam baixar e
subir para que, revezando-se as penas, se visse obrigado a confessar o crime.
Mas a convicção de sua inocência
se reflectia alegremente no seu rosto, sem deixar transparecer sombra alguma de
tristeza em meio de suas penas.
Depois fizeram uma grande
fogueira debaixo do condenado e não conseguiram queimar-lhe um só cabelo,
apesar de ter a cabeça voltada para o chão.
Por fim, lançaram-lhe óleo
fervente em grande quantidade, mas ele superou todos esses tormentos, ajudado
por Francisco, a quem havia confiado sua defesa.
Com isso ficou livre de
tudo e se foi São e salvo.
(cont
São Boaventura
Revisão da versão
portuguesa por AMA
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