16/10/2018

Leitura espiritual

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Vida de São Francisco de Assis

CAPITULO 2

Conversão definitiva e restauração de três igrejas

1- O próprio Cristo era o único guia de Francisco em todo esse tempo.
Na sua bondade, interveio mais uma vez com a suave influência de sua graça.

Francisco saiu um dia da cidade para meditar.
Ao passar pela igreja de São Damião, que estava prestes a ruir de tão velha, sentiu-se atraído a entrar e rezar.
De joelhos diante do Crucificado, sentiu-se confortado imensamente no seu espírito e os seus olhos encheram-se de lágrimas ao contemplar a cruz.
Subitamente, ouviu uma voz que vinha da cruz e lhe falou por três vezes:
“Francisco, vai e restaura a minha casa. Vês que ela está em ruínas”.
Francisco encontrava-se sozinho na igreja e ficou amedrontado ao ouvir aquela voz, mas a força da sua mensagem penetrou profundamente no seu coração e ele, delirando, caiu em êxtase.
Por fim voltou a si e tratou de pôr em execução a ordem recebida.
Concentrou todas as forças na restauração daquela igreja material. Mas a igreja a que a visão se referia era aquela que “Cristo resgatara com o próprio sangue” (At 20,28).
O Espírito Santo mais tarde lho revelou e ele ensinou-o aos seus irmãos.
Levanta-se então, faz o sinal-da-cruz para ter coragem, pega na loja do pai alguns fardos de tecido, vai a galope até Foligno, vende a sua mercadoria juntamente com o cavalo que lhe servira de montaria. Volta a Assis, entra na igreja que se propusera restaurar. Encontra aí o pobre sacerdote capelão e saúda-o respeitosamente, oferece seu dinheiro para restaurar a igreja e distribuir aos pobres, pede-lhe enfim humildemente a permissão de viver algum tempo ao seu lado.
O capelão concorda em dar-lhe pousada, mas temendo a família recusa aceitar o dinheiro.
Com o seu total desinteresse pelo dinheiro, Francisco atira-o a um canto da janela com tanto desprezo como se fosse poeira.

2. Mas a permanência do servo de Deus junto ao capelão se prolongava-se; o seu pai acabou compreendendo o que estava a acontecer e correu furioso até a igreja.
Ao ouvir as ameaças daqueles que o procuravam e ao perceber que se estavam aproximando, Francisco escondeu-se numa caverna secreta; sendo ainda novo no serviço de Cristo, não quis enfrentar as iras do pai.
Permaneceu no esconderijo durante vários dias, implorando continuamente a Deus com muitas lágrimas que o livrasse das mãos dos seus perseguidores e lhe permitisse, na sua bondade, realizar os desejos que ele mesmo havia inspirado.
Enfim, sentiu-se inundado de alegria, começou a acusar-se de medroso e cobarde, saiu da sua gruta e dirigiu-se corajosamente a Assis.
Os seus concidadãos ao verem o seu rosto macilento e o espírito transformado, disseram que estava louco, perseguiram-no atirando-lhe pedras e lama, cobrindo-o de insultos, como um alienado, um lunático.
Mas o servo de Deus, insensível e inabalável, passava por cima de todas as injúrias como se nada houvesse escutado.
Ao ouvir aquele tumulto, o pai correu imediatamente até ele a fim de oprimi-lo ainda mais, não para protegê-lo.

Sem nenhuma compaixão, arrastou-o para casa, censurou-o o mais que pôde, bateu-lhe e por fim colocou-o na prisão.
Tudo isso, porém, fez com que ele se tornasse mais resoluto e decidido a levar a cabo os seus planos, repetindo a frase do Evangelho: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus(Mt 5,10).

3. Pouco depois, no entanto, aproveitando uma viagem que o pai fizera, a mãe, que não aprovava o procedimento do seu marido e não esperava mais poder dobrar a coragem a toda prova do seu filho, livrou-o da prisão e permitiu que ele se fosse embora; Francisco deu graças a Deus e voltou à solidão.

Mas ao regressar o pai e não o encontrando em casa, destratou a mulher e em seguida foi à procura do filho, cheio de cólera, disposto a traze-lo, se possível, para casa, ou ao menos a expulsá-lo da sua terra.
Francisco, a quem Deus dava toda a coragem, indo ao encontro do pai furioso, disse-lhe com firmeza que lhe eram indiferentes a prisão e as pancadas e acrescentou solenemente que por amor de Cristo estava disposto a enfrentar alegremente todas as provações.
Vendo que não conseguia traze-lo de volta à casa paterna, tentou recuperar o dinheiro.
E quando, enfim, o encontrou atirado num canto da janela da igreja, satisfez a sua cobiça e acalmou-se um pouco.


4. Não contente com ter recuperado o seu dinheiro, tratou de fazer com que Francisco fosse levado até ao bispo da diocese, onde ele deveria renunciar a toda a sua herança e devolver-lhe tudo que tinha.
No seu autêntico amor à pobreza, Francisco nada opunha a essa cerimónia e apresenta-se de boa mente diante do bispo e sem esperar um minuto nem hesitar de qualquer forma, sem aguardar qualquer ordem nem pedir qualquer explicação, tira imediatamente todas as suas vestes e entrega-as ao pai.
Todos viram então que, sob as vestes finas, o homem de Deus levava um cilício.
Despiu mesmo os calções, em seu fervor e entusiasmo, e ficou nu diante de todos.
Então disse ao pai: “Até agora chamei-te meu pai, mas de agora em diante posso dizer sem qualquer reserva: ‘Pai nosso que estais no céu’, pois foi a ele que confiei meu tesouro e nele depositei minha fé”.
O bispo, que era um homem santo e muito digno, chorava de admiração ao ver os excessos a que o levava seu amor a Deus; levantou-se, abraçou-o e envolveu-o no seu manto, ordenando que trouxessem alguma roupa para cobri-lo.
Deram-lhe um pobre manto que pertencia a um dos camponeses a serviço do bispo; Francisco recebeu-o agradecido e, depois, tendo encontrado um pedaço de giz no caminho, traçou uma cruz sobre o manto.
Muito expressiva era semelhante veste neste homem crucificado, neste pobre seminu.
Dessa forma, o servo do Grande Rei foi deixado nu para seguir as pegadas do seu Senhor atado nu à cruz e foi assim também que ele adoptou essa cruz como emblema, a fim de confiar a sua alma ao madeiro que nos salvou e por meio dele escapar são e salvo do naufrágio do mundo.

5. Estando agora livre dos laços que o prendiam aos desejos terrenos, em seu desprezo pelo mundo, Francisco abandonou a cidade natal e procurou fora um lugar onde pudesse ficar a sós, alegre e despreocupado.
Aí na solidão e no silêncio poderia ouvir as revelações secretas de Deus.
Ia dessa forma pela floresta, alegre e cantando em francês os louvores do Senhor, quando dois ladrões surgiram do cerrado e caíram sobre ele. Ameaçaram-no e perguntaram quem ele era, mas ele respondeu corajosamente com as palavras proféticas:
“Sou o arauto do Grande Rei”.
Bateram-lhe e e lançaram-no numa fossa cheia de neve, dizendo-lhe: “Fica por aí, miserável arauto de Deus”.
Francisco esperou que se fossem embora, saiu da fossa, alegre, recomeçando com mais ânimo ainda sua canção em honra do Senhor.

São Boaventura

(cont)


(revisão da versão portuguesa por AMA)

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