08/10/2018

Cenas da vida corrente – 2

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E agora: que é que eu faço? Que é que eu digo?

Dadas as minhas dificuldades físicas em andar, não me “arrisco” a sair à rua sem uma bengala.
Na verdade, parece que não me serve de nada, os joelhos doem-me na mesma, e quando de vez em quando “ensaio” de “peito feito” a não me apoiar na dita bengala a coisa não funciona a preceito.

Invade-me uma sensação de incapacidade que me recuso a admitir:
De bengala!!!

Mas, por acaso, dá-me muito jeito nas passagens para peões, as pessoas parecem ter especial cuidado e fazem-me sinal para passar…

Há dias, resolvi acabar com a coisa e fui dar uma volta pela rua sem levar a bengala. Não sei porquê mas, seguramente por vaidade!

A primeira “passadeira” que me apareceu pela frente foi um drama.
Pensei:
E agora? Se tropeço… caio no chão passam-me por cima???

Lá me atrevi pensando:

E agora: que é que eu faço? Que é que eu digo?

Evidentemente que não tinha nada a dizer e, muito menos a fazer… Atravessar a rua e… já está!

Cheguei ao outro lado cheio de empáfia e orgulho e disse para mim mesmo – olhando à volta para ver se haveria alguém que pudesse ler os meus pensamentos – vês, António! Para que raio precisas da bengala?

Cheguei a uma conclusão:
Não preciso da bengala para nada ou, melhor, preciso da abengala para que as pessoas vejam que ali vai um septuagenário com dificuldades de locomoção, dando-lhes uma oportunidade de serem gentis e terem pena de mim.

E agora: que é que eu faço? Que é que eu digo?

Não sei que faça nem que diga mas quer-me parecer que a bengala que preciso é na minha coragem, stamina, força de vontade.
Ou seja: é fácil – relativamente – assumir o papel de dependente; o difícil estará, talvez em assumir esta verdade absoluta:

‘Senhor: tenho medo, receio e reserva. Sê Tu a minha bengala todos os dias, a cada minuto.’

Quem pode mais?

Eu e a bengala ou o Senhor e eu?

AMA, Outubro 2018

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