E agora: que é que eu faço? Que é que
eu digo?
Dadas
as minhas dificuldades físicas em andar, não me “arrisco” a sair à rua sem uma
bengala.
Na
verdade, parece que não me serve de nada, os joelhos doem-me na mesma, e quando
de vez em quando “ensaio” de “peito feito” a não me apoiar na dita bengala a
coisa não funciona a preceito.
Invade-me
uma sensação de incapacidade que me recuso a admitir:
De
bengala!!!
Mas,
por acaso, dá-me muito jeito nas passagens para peões, as pessoas parecem ter
especial cuidado e fazem-me sinal para passar…
Há
dias, resolvi acabar com a coisa e fui dar uma volta pela rua sem levar a
bengala. Não sei porquê mas, seguramente por vaidade!
A
primeira “passadeira” que me apareceu pela frente foi um drama.
Pensei:
E
agora? Se tropeço… caio no chão passam-me por cima???
Lá
me atrevi pensando:
E agora: que é que eu faço? Que é que
eu digo?
Evidentemente
que não tinha nada a dizer e, muito menos a fazer… Atravessar a rua e… já está!
Cheguei
ao outro lado cheio de empáfia e orgulho e disse para mim mesmo – olhando à
volta para ver se haveria alguém que pudesse ler os meus pensamentos – vês,
António! Para que raio precisas da bengala?
Cheguei
a uma conclusão:
Não
preciso da bengala para nada ou, melhor, preciso da abengala para que as
pessoas vejam que ali vai um septuagenário com dificuldades de locomoção,
dando-lhes uma oportunidade de serem gentis e terem pena de mim.
E agora: que é que eu faço? Que é que
eu digo?
Não
sei que faça nem que diga mas quer-me parecer que a bengala que preciso é na
minha coragem, stamina, força de vontade.
Ou
seja: é fácil – relativamente – assumir o papel de dependente; o difícil
estará, talvez em assumir esta verdade absoluta:
‘Senhor:
tenho medo, receio e reserva. Sê Tu a minha bengala todos os dias, a cada
minuto.’
Quem
pode mais?
Eu
e a bengala ou o Senhor e eu?
AMA,
Outubro 2018
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