24/02/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTà

TEMA 11 Ressurreição, Ascensão e Segunda vinda de Jesus Cristo

A Ressurreição de Cristo é verdade fundamental da nossa fé, como diz São Paulo [i]. Com este facto, Deus inaugurou a vida do mundo futuro e pô-la à disposição dos homens.
 
1. Cristo foi sepultado e desceu aos infernos.

Depois de padecer e morrer, o corpo de Cristo foi sepultado num sepulcro novo, não longe do lugar onde o tinham crucificado.
A sua alma, pelo contrário, desceu aos infernos. A sepultura de Cristo atesta que morreu verdadeiramente.
Deus dispôs que Cristo sofresse o estado de morte, quer dizer, de separação entre a alma e o corpo [ii].
Durante o tempo que Cristo permaneceu no sepulcro, quer a alma quer o corpo, separados entre si por causa da morte, continuaram unidos à sua Pessoa divina [iii].
Porque continuava a pertencer à Pessoa divina, o corpo morto de Cristo não sofreu a corrupção do sepulcro [iv].
A alma de Cristo desceu aos infernos. «Os “infernos” (não confundir com o inferno da condenação), ou mansão dos mortos, designam o estado de todos aqueles que, justos ou maus, morreram antes de Cristo» [v].
Os justos encontravam-se num estado de felicidade (diz-se que repousavam no “seio de Abraão”) embora não gozassem ainda da visão de Deus.
Dizendo que Jesus desceu aos infernos, entendemos a sua presença no “seio de Abraão” para abrir as portas do Céu aos justos que O tinham precedido.
«Com a alma unida à sua Pessoa divina, Jesus alcançou, nos infernos, os justos que esperavam o Redentor, para acederem finalmente à visão de Deus» [vi].
Com a descida aos infernos, Cristo mostrou o seu domínio sobre o demónio e sobre a morte, libertando as almas santas que estavam retidas para as levar à glória eterna.
Deste modo, a Redenção – que devia abranger os homens de todos os tempos – aplicou-se aos que tinham precedido Cristo [vii].

2. Sentido geral da glorificação de Cristo

A glorificação de Cristo consiste na sua Ressurreição e Exaltação nos céus, onde Cristo está sentado à direita do Pai.
O sentido geral da glorificação de Cristo está na relação com a sua morte na Cruz.
Como pela paixão e morte de Cristo, Deus eliminou o pecado e reconciliou o mundo consigo, de modo idêntico, pela ressurreição de Cristo, Deus inaugurou a vida do mundo futuro e pô-la à disposição dos homens.
Os benefícios da salvação não derivam apenas da Cruz, mas também da Ressurreição de Cristo.
Esses frutos aplicam-se aos homens pela mediação da Igreja e pelos sacramentos. Concretamente, pelo Baptismo recebemos o perdão dos pecados (do pecado original e dos pessoais) e o homem reveste-se, pela graça, com a nova vida do Ressuscitado.

3. A Ressurreição de Jesus Cristo

“Ao terceiro dia” (da sua morte), Jesus ressuscitou para uma vida nova. A sua alma e o seu corpo, plenamente transfigurados com a glória da sua Pessoa divina, voltaram a unir-se.
A alma assumiu de novo o corpo e a glória da alma comunicou-se na totalidade ao corpo.
Por este motivo, «a Ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena.
O Seu corpo ressuscitado é Aquele que foi crucificado, e apresenta os vestígios da Sua Paixão, mas é doravante participante da vida divina, com as propriedades dum corpo glorioso» [viii].
A Ressurreição do Senhor é o fundamento da nossa fé, posto que atesta de modo incontestável que Deus interveio na história humana para salvar os homens.
É garantia da veracidade do que prega a Igreja sobre Deus, sobre a divindade de Cristo e a salvação dos homens. Pelo contrário, como diz São Paulo, «se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé» [ix].

Os Apóstolos não puderam enganar-se ou inventar a Ressurreição.
Em primeiro lugar, se o sepulcro de Cristo não tivesse estado vazio não teriam podido falar da ressurreição de Jesus; além disso, se o Senhor não lhes tivesse aparecido em várias ocasiões e a numerosos grupos de pessoas, homens e mulheres, muitos discípulos de Cristo não a tinham podido aceitar, como sucedeu inicialmente com o apóstolo S. Tomé.

Muito menos eles teriam podido dar a vida por uma mentira.
Como diz São Paulo:
«E se Cristo não ressuscitou (...) somos assim considerados falsas testemunhas de Deus, porque demos testemunho contra Deus dizendo que ressuscitou Cristo, a Quem não ressuscitou» [x].

E, quando as autoridades judaicas queriam silenciar a pregação do evangelho, São Pedro respondeu:
«Deve-se obedecer antes a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a Quem vós matastes suspendendo-O num madeiro. (...) Nós somos testemunhas destas coisas» [xi].

«Embora seja um acontecimento histórico, constatável e atestado através dos sinais e testemunhos, a Ressurreição, enquanto entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus, transcende e supera a história, como mistério da fé» [xii].
Por este motivo Jesus ressuscitado, embora possuindo uma verdadeira identidade físico-corpórea, não está submetido às leis físicas terrenas e sujeita-se a elas apenas enquanto o deseja:
«Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer aos seus discípulos como Ele quer, onde Ele quer e sob aspectos diversos» [xiii].

A Ressurreição de Cristo é um mistério de salvação.

Mostra a bondade e o amor de Deus que recompensa a humilhação do seu Filho e emprega a sua omnipotência para encher os homens de vida. Jesus ressuscitado possui, na sua humanidade, a plenitude de vida divina para a comunicar aos homens.
«O Ressuscitado, vencedor do pecado e da morte, é o princípio da nossa justificação e da nossa ressurreição: a partir de agora, Ele garante-nos a graça da adopção filial que é participação real da sua vida de Filho unigénito; depois, no final dos tempos, Ele ressuscitará o nosso corpo» [xiv].
Cristo é o primogénito entre os mortos e todos ressuscitaremos por Ele e n’Ele.
Da Ressurreição de Nosso Senhor, devemos retirar para nós:
a) Fé viva:
«Aviva a tua fé. - Cristo não é uma figura que passou. Não é uma recordação que se perde na História. Vive! “Jesus Christus heri et hodie: ipse et in saecula!” – diz São Paulo – Jesus Cristo ontem e hoje e sempre!» [xv];

b) Esperança: «Nunca desesperes.
Morto e corrompido estava Lázaro: “iam foetet, quatriduanus est enim”: já fede, porque há quatro dias que está enterrado, diz Marta a Jesus.
Se ouvires a inspiração de Deus e a seguires (“Lazare, veni foras!”: Lázaro, vem para fora!), voltarás à Vida» [xvi];

c) Desejo de que a graça e a caridade nos transformem, levando-nos a viver vida sobrenatural, que é a vida de Cristo: procurando ser realmente santos [xvii].
Desejo de limpar os nossos pecados no sacramento da Penitência, que nos faz ressuscitar para a vida sobrenatural – se a tivéssemos perdido pelo pecado mortal – e recomeçar de novo: nunc coepi [xviii].

(cont)

ANTONIO DUCAY

Notas:




[i] cf. 1 Cor 15, 13-14
[ii] cf. Catecismo, 624
[iii] cf. Catecismo, 626
[iv] cf. Catecismo, 627; Act 13, 37
[v] Compêndio, 125
[vi] Compêndio, 125
[vii] cf. Catecismo, 634
[viii] Compêndio, 129
[ix] 1 Cor 15, 17
[x] 1 Cor 15, 14.15
[xi] Act 5, 29-30.32
[xii] Compêndio, 128
[xiii] Compêndio, 129
[xiv] Compêndio, 131
[xv] São Josemaria, Caminho, 584.
[xvi] Ibidem, 719.
[xvii] cf. Cl 3, 1 e seg
[xviii] Sl 76, 11

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