TEMA 11 Ressurreição, Ascensão e Segunda
vinda de Jesus Cristo
A Ressurreição de Cristo é
verdade fundamental da nossa fé, como diz São Paulo [i].
Com este facto, Deus inaugurou a vida do mundo futuro e pô-la à disposição dos
homens.
1.
Cristo foi sepultado e desceu aos infernos.
Depois de padecer e morrer,
o corpo de Cristo foi sepultado num sepulcro novo, não longe do lugar onde o
tinham crucificado.
A sua alma, pelo contrário,
desceu aos infernos. A sepultura de Cristo atesta que morreu verdadeiramente.
Deus dispôs que Cristo
sofresse o estado de morte, quer dizer, de separação entre a alma e o corpo [ii].
Durante o tempo que Cristo
permaneceu no sepulcro, quer a alma quer o corpo, separados entre si por causa
da morte, continuaram unidos à sua Pessoa divina [iii].
Porque continuava a
pertencer à Pessoa divina, o corpo morto de Cristo não sofreu a corrupção do
sepulcro [iv].
A alma de Cristo desceu aos
infernos. «Os “infernos” (não confundir com o inferno da condenação), ou mansão
dos mortos, designam o estado de todos aqueles que, justos ou maus, morreram
antes de Cristo» [v].
Os justos encontravam-se num
estado de felicidade (diz-se que repousavam no “seio de Abraão”) embora não
gozassem ainda da visão de Deus.
Dizendo que Jesus desceu aos
infernos, entendemos a sua presença no “seio de Abraão” para abrir as portas do
Céu aos justos que O tinham precedido.
«Com a alma unida à sua
Pessoa divina, Jesus alcançou, nos infernos, os justos que esperavam o
Redentor, para acederem finalmente à visão de Deus» [vi].
Com a descida aos infernos,
Cristo mostrou o seu domínio sobre o demónio e sobre a morte, libertando as
almas santas que estavam retidas para as levar à glória eterna.
Deste modo, a Redenção – que
devia abranger os homens de todos os tempos – aplicou-se aos que tinham
precedido Cristo [vii].
2.
Sentido geral da glorificação de Cristo
A glorificação de Cristo
consiste na sua Ressurreição e Exaltação nos céus, onde Cristo está sentado à
direita do Pai.
O sentido geral da
glorificação de Cristo está na relação com a sua morte na Cruz.
Como pela paixão e morte de
Cristo, Deus eliminou o pecado e reconciliou o mundo consigo, de modo idêntico,
pela ressurreição de Cristo, Deus inaugurou a vida do mundo futuro e pô-la à
disposição dos homens.
Os benefícios da salvação
não derivam apenas da Cruz, mas também da Ressurreição de Cristo.
Esses frutos aplicam-se aos
homens pela mediação da Igreja e pelos sacramentos. Concretamente, pelo
Baptismo recebemos o perdão dos pecados (do pecado original e dos pessoais) e o
homem reveste-se, pela graça, com a nova vida do Ressuscitado.
3.
A Ressurreição de Jesus Cristo
“Ao terceiro dia” (da sua
morte), Jesus ressuscitou para uma vida nova. A sua alma e o seu corpo,
plenamente transfigurados com a glória da sua Pessoa divina, voltaram a
unir-se.
A alma assumiu de novo o
corpo e a glória da alma comunicou-se na totalidade ao corpo.
Por este motivo, «a
Ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena.
O Seu corpo ressuscitado é
Aquele que foi crucificado, e apresenta os vestígios da Sua Paixão, mas é
doravante participante da vida divina, com as propriedades dum corpo glorioso» [viii].
A Ressurreição do Senhor é o
fundamento da nossa fé, posto que atesta de modo incontestável que Deus
interveio na história humana para salvar os homens.
É garantia da veracidade do
que prega a Igreja sobre Deus, sobre a divindade de Cristo e a salvação dos
homens. Pelo contrário, como diz São Paulo, «se Cristo não ressuscitou, é vã a
nossa fé» [ix].
Os Apóstolos não puderam
enganar-se ou inventar a Ressurreição.
Em primeiro lugar, se o
sepulcro de Cristo não tivesse estado vazio não teriam podido falar da
ressurreição de Jesus; além disso, se o Senhor não lhes tivesse aparecido em
várias ocasiões e a numerosos grupos de pessoas, homens e mulheres, muitos
discípulos de Cristo não a tinham podido aceitar, como sucedeu inicialmente com
o apóstolo S. Tomé.
Muito menos eles teriam
podido dar a vida por uma mentira.
Como diz São Paulo:
«E se Cristo não ressuscitou
(...) somos assim considerados falsas testemunhas de Deus, porque demos
testemunho contra Deus dizendo que ressuscitou Cristo, a Quem não ressuscitou» [x].
E, quando as autoridades
judaicas queriam silenciar a pregação do evangelho, São Pedro respondeu:
«Deve-se obedecer antes a
Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a Quem vós
matastes suspendendo-O num madeiro. (...) Nós somos testemunhas destas coisas» [xi].
«Embora seja um
acontecimento histórico, constatável e atestado através dos sinais e
testemunhos, a Ressurreição, enquanto entrada da humanidade de Cristo na glória
de Deus, transcende e supera a história, como mistério da fé» [xii].
Por este motivo Jesus
ressuscitado, embora possuindo uma verdadeira identidade físico-corpórea, não
está submetido às leis físicas terrenas e sujeita-se a elas apenas enquanto o
deseja:
«Jesus ressuscitado é
soberanamente livre de aparecer aos seus discípulos como Ele quer, onde Ele
quer e sob aspectos diversos» [xiii].
A Ressurreição de Cristo é
um mistério de salvação.
Mostra a bondade e o amor de
Deus que recompensa a humilhação do seu Filho e emprega a sua omnipotência para
encher os homens de vida. Jesus ressuscitado possui, na sua humanidade, a
plenitude de vida divina para a comunicar aos homens.
«O Ressuscitado, vencedor do
pecado e da morte, é o princípio da nossa justificação e da nossa ressurreição:
a partir de agora, Ele garante-nos a graça da adopção filial que é participação
real da sua vida de Filho unigénito; depois, no final dos tempos, Ele
ressuscitará o nosso corpo» [xiv].
Cristo é o primogénito entre
os mortos e todos ressuscitaremos por Ele e n’Ele.
Da Ressurreição de Nosso
Senhor, devemos retirar para nós:
a) Fé viva:
«Aviva a tua fé. - Cristo
não é uma figura que passou. Não é uma recordação que se perde na História.
Vive! “Jesus Christus heri et hodie: ipse
et in saecula!” – diz São Paulo – Jesus Cristo ontem e hoje e sempre!» [xv];
b) Esperança: «Nunca
desesperes.
Morto e corrompido estava
Lázaro: “iam foetet, quatriduanus est
enim”: já fede, porque há quatro dias que está enterrado, diz Marta a
Jesus.
Se ouvires a inspiração de
Deus e a seguires (“Lazare, veni foras!”:
Lázaro, vem para fora!), voltarás à Vida» [xvi];
c) Desejo de que a graça e a
caridade nos transformem, levando-nos a viver vida sobrenatural, que é a vida
de Cristo: procurando ser realmente santos [xvii].
Desejo de limpar os nossos
pecados no sacramento da Penitência, que nos faz ressuscitar para a vida
sobrenatural – se a tivéssemos perdido pelo pecado mortal – e recomeçar de
novo: nunc coepi [xviii].
(cont)
ANTONIO
DUCAY
Notas:
[i] cf. 1 Cor 15, 13-14
[ii] cf. Catecismo, 624
[iii] cf. Catecismo, 626
[iv] cf. Catecismo, 627;
Act 13, 37
[v] Compêndio, 125
[vi] Compêndio, 125
[vii] cf. Catecismo, 634
[viii] Compêndio, 129
[ix] 1 Cor 15, 17
[x] 1 Cor 15, 14.15
[xi] Act 5, 29-30.32
[xii] Compêndio, 128
[xiii] Compêndio, 129
[xiv] Compêndio, 131
[xv] São Josemaria,
Caminho, 584.
[xvi] Ibidem, 719.
[xvii] cf. Cl 3, 1 e seg
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