A
voz do Magistério
«Tal como o agir, também o
sofrimento faz parte da existência humana. Este deriva, por um lado, da nossa
finitude e, por outro, do volume de culpa que se acumulou ao longo da história
e, mesmo actualmente, cresce de modo irreprimível.
Certamente é preciso fazer
tudo o possível para diminuir o sofrimento: impedir, na medida do possível, o
sofrimento dos inocentes; amenizar as dores; ajudar a superar os sofrimentos
psíquicos. Todos estes são deveres tanto da justiça como da caridade, que se
inserem nas exigências fundamentais da existência cristã e de cada vida
verdadeiramente humana. Na luta contra a dor física conseguiu-se realizar
grandes progressos; mas o sofrimento dos inocentes e inclusive os sofrimentos
psíquicos aumentaram durante os últimos decénios.
Devemos – é verdade – fazer
tudo por superar o sofrimento, mas eliminá-lo completamente do mundo não entra
nas nossas possibilidades, simplesmente porque não podemos desfazer-nos da
nossa finitude e porque nenhum de nós é capaz de eliminar o poder do mal, da
culpa que – como constatámos – é fonte contínua de sofrimento. Isto só Deus o
poderia fazer: só um Deus que pessoalmente entra na história fazendo-Se homem e
sofre nela. Nós sabemos que este Deus existe e que por isso este poder que
«tira os pecados do mundo» [i]
está presente no mundo. Com a fé na existência deste poder, surgiu na história
a esperança da cura do mundo».
Bento
XVI (século XXI), Carta encíclica Spe salvi, 30-XI-2007, n. 36.
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