A VOZ DOS PADRES
«O
que significa que, quando o Senhor nascer se faça o censo do mundo, senão que
aparecia na carne Aquele que havia de realizar o censo dos Seus eleitos para a
eternidade? Em vez disso, dos réprobos se afirma pelo profeta: sejam riscados
do livro dos vivos e não se inscrevam os seus nomes entre os justos [i].
Também
era conveniente que nascesse em Belém, porque Belém significa "casa do
pão"; e precisamente é Ele próprio quem diz: Eu sou o pão vivo que desceu
do Céu [ii]. Portanto, o lugar onde nasce o Senhor já antes tinha
sido chamado casa do pão, porque, efectivamente, havia de verificar-se que quem
saciaria interiormente as almas apareceria ali na substância da carne.
E
não nasce na casa dos Seus pais, mas no caminho, para mostrar que na realidade
nascia como que emprestado na Sua humanidade que tinha tomado. De emprestado,
digo, ou no alheio, não me referindo à Sua potestade, mas à natureza; porque da
Sua potestade está escrito: veio para o que era Seu [iii]; e pelo que se refere à Sua natureza, na Sua nasceu
antes dos tempos, na nossa veio no tempo. Portanto, o que, permanecendo eterno,
se mostrou no tempo, é alheio a onde desceu.
E
como pelo profeta se diz: toda a criatura é como a erva [iv], ao fazer-Se homem converteu a nossa erva em grão, o que
diz de Si mesmo: se o grão de trigo, depois de lançado à terra, não morre, fica
infecundo [v]. Por isso, ao nascer é deitado numa manjedoura, para
alimentar com o trigo da Sua carne todos os fiéis, ou seja, os santos animais,
de modo que não permaneçam em jejum do sustento da sabedoria eterna».
São
Gregório Magno (século VI). Homilia 8 sobre os Evangelhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.