A VOZ DO MAGISTÉRIO
«Ficando,
pois, a salvo a propriedade de uma e de outra natureza e unindo-se ambas numa
só pessoa, a humildade foi recebida pela majestade, a fraqueza pela força, a
mortalidade pela eternidade e para pagar a dívida da nossa raça, a natureza
inviolável uniu-se à natureza passível. E assim — coisa que convinha para nosso
remédio — um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem [i], por um lado, pôde morrer e por outro não. Na natureza,
pois, íntegra e perfeita de verdadeiro homem, nasceu Deus verdadeiro, inteiro
no Seu, inteiro no nosso.
«O
Filho de Deus entra, pois, nestas fraquezas do mundo, descendo do Seu trono
celeste, mas não se afastando da glória do Pai, gerado por nova ordem, por novo
nascimento. Por nova ordem, porque invisível no Seu, tornou-se visível no
nosso; incompreensível, quis ser compreendido; permanecendo antes do tempo,
começou a ser no tempo; Senhor do universo, tomou forma de servo, obscurecida a
imensidade da Sua majestade; Deus impassível, não se envergonhou de ser homem
passível e imortal, de Se submeter à lei da morte. E, por novo nascimento,
gerado: porque a virgindade inviolada ignorou a concupiscência e forneceu a
matéria da carne. A natureza foi tomada da mãe do Senhor, não a culpa; e no
Senhor Jesus Cristo gerado do seio da Virgem, não por ser o nascimento
maravilhoso, é a natureza distinta de nós. Porque o que é verdadeiro Deus é
também verdadeiro homem e não há nesta unidade mentira alguma, ao dar-se
juntamente a humildade do homem e a alteza da divindade. Pois da forma que Deus
não se muda pela misericórdia, assim tão pouco o homem se aniquila pela
dignidade. Uma forma e outra, com efeito, opera o que lhe é próprio, com
comunhão da outra; quer dizer, que o Verbo opera o que pertence ao Verbo, a
carne cumpre o que respeita à carne. Um deles resplandece pelos milagres, o
outro sucumbe pelas injúrias. E assim o Verbo não se separa da igualdade da
glória paterna; também, tão pouco, a carne abandona a natureza do nosso
género».
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