Centenário das aparições da Santíssima
Virgem em Fátima
Virgem em Fátima
Os esponsais de Nossa Senhora
A VOZ DO MAGISTÉRIO
«O evangelho de Lucas, ao
apresentar Maria como virgem, acrescenta que estava "desposada com um
varão chamado José, da casa de David"[i].
Estas informações parecem, à primeira vista, contraditórias».
«Há que notar que o termo
grego utilizado nesta passagem não indica a situação de uma mulher que contraiu
matrimónio e, portanto, vive no estado matrimonial, mas a de noivado. Mas, de
forma diferente do que acontece nas culturas modernas, no costume judaico
antigo a instituição do noivado previa um contrato e tinha normalmente valor
definitivo; efectivamente, introduzia os noivos no estado matrimonial embora o
matrimónio se cumprisse plenamente apenas quando o jovem conduzia a noiva para
sua casa».
«No momento da Anunciação,
Maria encontra-se, pois, na situação de esposa prometida. Podemos perguntar-nos
porque razão tinha aceite o noivado, dado que tinha feito o propósito de
permanecer virgem para sempre. Lucas tem consciência desta dificuldade, mas
limita-se a registar a situação sem dar explicações. O facto do evangelista,
mesmo pondo em relevo o propósito de virgindade de Maria, a apresente
igualmente como esposa de José, constitui um sinal de que ambas as notícias são
historicamente dignas de crédito».
«Pode supor-se que entre
José e Maria, no momento do compromisso, existisse um entendimento sobre o
projecto de vida virginal. Além disso, o Espírito Santo, que tinha inspirado a
Maria a opção da virgindade com vista ao mistério da Encarnação e que queria
que esta acontecesse num contexto familiar idóneo para o crescimento do Menino,
pôde muito bem suscitar também em José o ideal da virgindade».
«O anjo do Senhor,
aparecendo-lhe em sonhos, diz-lhe: "José, filho de David, não temas
receber em tua casa Maria tua esposa porque o que n’Ela foi concebido é obra do
Espírito Santo"[ii].
Desta forma recebe a confirmação de estar chamado a viver de modo totalmente
especial o caminho do matrimónio. Através da comunhão virginal com a mulher
predestinada para dar Jesus à luz, Deus chama-o a cooperar na realização do Seu
desígnio de salvação».
«O tipo de matrimónio para o
qual o Espírito Santo orienta Maria e José é compreensível apenas no contexto
do plano salvífico e no âmbito de uma elevada espiritualidade. A realização
concreta do mistério da Encarnação exigia um nascimento virginal que pusesse em
evidência a filiação divina e, ao mesmo tempo, uma família que pudesse
assegurar o desenvolvimento normal da personalidade do Menino».
«José e Maria, precisamente
tendo em vista o seu contributo para o mistério da Encarnação do Verbo,
receberam a graça de viver juntos o carisma da virgindade e o dom do
matrimónio. A comunhão de amor virginal de Maria e José, embora constituindo um
caso especialíssimo, vinculado à realização concreta do mistério da Encarnação,
foi, no entanto, um verdadeiro matrimónio».
«A dificuldade de se
aproximar do mistério sublime da sua comunhão esponsal induziu alguns, já desde
o século II, a atribuir a José uma idade avançada e a considerá-lo o custódio
de Maria, mais do que seu esposo. É caso para supor, pelo contrário, que não
fosse um homem idoso, mas que a sua perfeição interior, fruto da graça, o
levasse a viver com afecto virginal a relação esponsal com Maria».
«A cooperação de José no
mistério da Encarnação abarca também o exercício do papel paterno relativamente
a Jesus. Esta função é-lhe reconhecida pelo anjo que, aparecendo-lhe em sonhos,
o convida a pôr o nome ao Menino: "Dará à luz um filho, ao qual porás o
nome de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados"» [iii]
São
João Paulo II, Catequese mariana na audiência de 21-VIII-1996.
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