A
VOZ DO MAGISTÉRIO
«Deus inefável escolheu e
assinalou desde o princípio, antes dos tempos, uma Mãe para que o Seu unigénito
Filho encarnasse e nascesse d’Ela na ditosa plenitude dos tempos. E em tal grau
a amou, acima de todas as criaturas, que só n’Ela se deleitou com singular
benevolência. Por isso a cobriu da abundância de todos os dons celestiais,
tirados do tesouro da Sua divindade, muito acima de todos os anjos e santos. E
assim Ela, sempre absolutamente livre de toda a mancha de pecado, toda formosa
e perfeita, possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que não é
possível conceber maior plenitude depois de Deus e que ninguém pode imaginar
fora de Deus».
«Era certamente
convenientíssimo que uma Mãe tão venerável brilhasse sempre adornada com os
resplendores da mais perfeita santidade e que, imune da mancha do pecado
original, alcançasse um triunfo total sobre a antiga serpente. Com efeito, Deus
Pai tinha disposto entregar-lhe o Seu Filho Unigénito — gerado do Seu coração,
igual a Si mesmo e a quem ama como a Si mesmo — de tal modo que Ele fosse, por
natureza, o próprio Filho único comum de Deus Pai e da Virgem; já que o mesmo
Filho tinha determinado fazê-la substancialmente Sua Mãe e o Espírito Santo
tinha querido e fez que fosse concebido e nascesse Aquele de Quem Ele próprio
procede».
«Os Padres e escritores
eclesiásticos ao considerarem que a Santíssima Virgem foi chamada cheia de
graça pelo anjo Gabriel — por mandato e em nome do próprio Deus — quando lhe
anunciou a altíssima dignidade de Mãe de Deus [1],
ensinaram que, com esta saudação solene e singular, jamais ouvida, se
manifestava que a Mãe de Deus era a sede de todas as graças divinas e que
estava adornada de todos os carismas do Espírito Santo».
«Daí decorre a sua opinião,
clara e unânime, segundo a qual a gloriosíssima Virgem, em quem o Todo-poderoso
fez grandes coisas [2],
brilhou com tal abundância de dons celestiais, com tal plenitude de graça e com
tal inocência, que se tornou como um inefável milagre de Deus; mais ainda, como
o milagre máximo de todos os milagres e digna Mãe de Deus; e chegando-se a Deus
o mais próximo possível, tanto quanto lho permitia a condição de criatura, foi
superior a todos os louvores, quer de homens quer de anjos».
«Pelo qual, para honra da
santa e indivisa Trindade, para glória e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para
exaltação da fé católica e incremento da religião cristã, com a autoridade de
Nosso Senhor Jesus Cristo, com a dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e com a
nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que foi revelada por Deus e, em
consequência, deve ser acreditada firme e constantemente por todos os fiéis, a
doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria foi preservada imune de
toda a mancha de pecado original, no primeiro instante da sua concepção, por
singular graça e privilégio de Deus omnipotente, em atenção aos méritos de
Jesus Cristo, salvador do género humano».
Beato
Pio IX, Bula Ineffabilis Deus,
8-XII-1854, ao definir como dogma de fé a Imaculada Conceição
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