Hoje dia 13 de Março - ao princípio da tarde, quando regressava do Centro
de Saúde onde tinha ido fazer o tratamento da “costura” da cirurgia a que fui
sujeito hás duas semanas, vinha pensando comigo mesmo que “tinha muito pouca sorte”,
a coisa estava melhor, mas não lhe adivinhava o fim… um contratempo, uma maçada...
Ouvi, então, alguém que me chamava: 'Senhor Manuel! Senhor
Manuel!'
Eu não me chamo Manuel, mas, isso não interessava porque
eu reconhecia a voz que me interpelava.
(Trata-se de uma pobre mulher de quarenta e poucos anos,
que teria sido bonita e, talvez, vistosa, mas que, de há uns anos para cá, era
como que um destroço humano. Devastada pelo uso de drogas e uma vida desregrada.
A Fernandinha conheci-a bem, falava com ela, oferecia-lhe o pequeno almoço na
leitaria próxima, e o certo é que, a pobre foi deixando as drogas até conseguir
libertar-se completamente. Mas, o mal estava feito e sem emprego nem recursos,
por ali anda na busca de uma ajuda para, pelo menos, comer alguma coisa. Eu
também falava – e falo - com ela, aproveitando sempre para lhe incutir coragem
levá-la a ter fé e esperança em Deus, a frequentar a Igreja próxima.
Na semana passada andava de muletas. Tinha sido sujeita a
uma cirurgia de transplante numa perna. Dei-lhe umas moedas, como sempre.)
Pois, quem me chamava por Senhor Manuel era ela, a
Isabel, de seu nome.
Não me apeteceu falar com ela, estava à volta com os meus
magnos problemas e, embora se travasse alguma luta interior, desculpei-me a mim
mesmo porque não me chamo Manuel.
Só que, a Isabel, continuava a chamar o Senhor Manuel com
insistência e angústia e percebi que vinha atrás de mim o que deveria ser, para
ela, um enorme sacrifício com as muletas.
Bom… está bem… mas, eu, não me chamo Manuel, continuava
eu resistindo ao apelo dramático que persistia atrás de mim.
De repente, oiço: Senhor António! Senhor António!
Parei de chofre e voltei-me para ela como se só então
tivesse entendido que era eu – António – que era interpelado.
Com lágrimas nos olhos disse-me: ‘Desculpe não me
lembrava do seu nome’.
Fiquei envergonhado, revoltado comigo mesmo.
Queria uma ajuda para ir de autocarro ao hospital…
Mais vergonha e revolta.
Dei-lhe a “extraordinária” quantia de cinco euros,
pedi-lhe que enxugasse as lágrimas, dei-lhe um abraço.
Regressando ao meu caminho para casa pensei, tive
absoluta certeza, que o Anjo da Guarda da Isabel lhe lembrara o meu nome.
Graças a este “sinal” pude redimir-me e, agora em casa, penso
como me sentiria se não o tivesse entendido tão claramente.
Sinto-me muito bem e muito grato.
AMA, reflexões, 13.03.2017
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