2. Confrontados com uma forte mudança cultural
Reconhecemos, sem dúvida, que, no longo caminho do amadurecimento
cultural e civilizacional, nem sempre se atribuiu aos dois âmbitos do humano (o
masculino e o feminino) o mesmo valor e semelhante protagonismo social.
Especialmente a mulher, não raramente, foi vítima de forte sujeição ao homem e
sofreu alguma menorização social e cultural. Graças a Deus, tais situações
estão progressivamente a ser ultrapassadas e a condição feminina, antigamente
conotada com a ideia de opressão, hoje está a revelar-se como enorme potencial
de humanização e de desenvolvimento harmonioso da sociedade.
No desejo de ultrapassar esta menoridade social da
mulher, alguns procederam a uma distinção radical entre o sexo biológico e os
papéis que a sociedade, tradicionalmente, lhe outorgou. Afirmam que o ser
masculino ou feminino não passa de uma construção mental, mais ou menos
interessada e artificial, que, agora, importaria desconstruir. Por conseguinte,
rejeitam tudo o que tenha a ver com os dados biológicos para se fixarem na
dimensão cultural, entendida como mentalidade pessoal e social. E, por
associação de ideias, passou-se a rejeitar a validade de tudo o que tenha a ver
com os tradicionais dados normativos da natureza a respeito da sexualidade
(heterossexualidade, união monogâmica, limite ético aos conhecimentos técnicos
ligados às fontes da vida, respeito pela vida intra-uterina, pudor ou reserva
de intimidade, etc.). É todo este âmbito mental que se costuma designar por
ideologia do género ou gender.
A ideologia do género surge, assim, como uma antropologia
alternativa, quer à judaico-cristã, quer à das culturas tradicionais não
ocidentais. Nega que a diferença sexual inscrita no corpo possa ser
identificativa da pessoa; recusa a complementaridade natural entre os sexos;
dissocia a sexualidade da procriação; sobrepõe a filiação intencional à
biológica; pretende desconstruir a matriz heterossexual da sociedade (a família
assente na união entre um homem e uma mulher deixa de ser o modelo de
referência e passa a ser um entre vários).
(cont)
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